Comissão defende prolongamento das dívidas de cafeicultores

Prorrogar o vencimento das dívidas contraídas pelos cafeicultores e definir um plano para financiar a próxima safra d...

21/11/2003 - 17:40
 

Comissão defende prolongamento das dívidas de cafeicultores

Prorrogar o vencimento das dívidas contraídas pelos cafeicultores e definir um plano para financiar a próxima safra de café. Estas são algumas das ações emergenciais propostas pela Comissão Especial da Cafeicultura Mineira, como forma de atenuar a crise que afeta o setor. Essas e outras propostas foram debatidas nesta quinta-feira (20/11/2003), no Plenário da Assembléia, durante reunião especial da Comissão, com a presença de centenas de produtores mineiros e até de São Paulo. O relatório final dos trabalhos da comissão deve ser votado em reunião marcada para o dia 4 de dezembro. Até lá, segundo o relator, deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), a comissão está aberta a receber novas sugestões para o relatório.

Além das ações emergenciais, a comissão propõe também ações estratégicas a serem desenvolvidas nos planos estadual, nacional e internacional. No nível estadual, a comissão recomenda o desenvolvimento de políticas públicas de incentivo à cafeicultura diferenciadas de acordo com as necessidade de cada região produtora. "As demandas do Vale do Jequitinhonha não são as mesmas do Sul de Minas", justifica o relator. No plano nacional, o relatório recomenda a definição de uma política agrícola para assegurar novos financiamentos para o setor até 2006. Também sugere a estruturação de um Sistema Nacional do Café, com a criação de uma agência para gerenciar os recursos do Funcafé (Fundo Nacional do Café).

Já no nível internacional, o relator defende a transferência da sede da Associação dos Países Produtores de Café de Londres para Belo Horizonte. Além disso, propõe a criação de um parlamento internacional do café, a liderança brasileira nas negociações da Organização Mundial do Comércio e a criação de um fundo internacional do café.

Comissão fez diagnóstico do setor

Em nove reuniões com convidados e quatro viagens ao interior, a comissão traçou um diagnóstico dos problemas da cafeicultura em Minas. Um dos principais problemas detectados é o afunilamento da cadeia produtiva. Em todo o Brasil, existem 300 mil cafeicultores, que ficam na base da pirâmide produtiva. A seguir, vêm os torrefadores, que somam 1,5 mil, sendo que apenas quatro empresas concentram 43% do mercado. Nas demais etapas da cadeia produtiva, a concentração também é elevada. Das nove indústrias de café solúvel no país, apenas uma detém 80% do mercado. Do total de exportadores (220), apenas dez são responsáveis por 60% do total vendido para o exterior. E somente cinco países compram 69% de todo o café produzido no mundo.

Outro problema constatado é a comercialização de café industrializado de baixa qualidade. Segundo o relatório, o Procon estadual instaurou neste ano 23 procedimentos contra fabricantes que comercializaram café torrado e moído com impurezas. Deste total, 13 marcas apresentavam grau de impurezas superior ao percentual máximo permitido, que é de 1%. A principal queixa dos produtores - preço baixo - também foi levada em consideração pela comissão. A saca de 60 quilos, que era cotada a US$ 150 em 1994, hoje não passa de US$ 50. "O preço esteve abaixo do custo de produção nos último quatro anos", diz o relator. Para complicar a situação, o café brasileiro não consegue obter uma boa cotação no mercado internacional porque é considerado de baixa qualidade. "É necessária a adoção de políticas públicas para proteção dos interesses brasileiros no exterior", defende o relator.

Principais ações propostas

Além das ações emergenciais, a comissão também sugere a adoção de políticas públicas para resolver os principais problemas do setor. Para atenuar os problemas da tecnologia da produção, são propostas a eletrificação rural, a regulamentação da importação de insumos pelas cooperativas de produtores e o combate ao cartel de distribuição e comercialização de fertilizantes. No que diz respeito às tecnologias de agregação de valor, a comissão sugere o estímulo ao plantio de novas variedades de café e a proibição da comercialização de café com resíduos e grãos defeituosos.

Quanto à pesquisa tecnológica, a comissão propõe a definição de novas linhas de pesquisa, o estímulo à assistência técnica em parceria com cooperativas e sindicatos e novos recursos humanos para a Epamig e Fapemig. Para resolver o problema do financiamento, o relator sugere mecanismos de proteção de preço, a abertura de créditos para a modernização das indústrias de torrefação e moagem e a revisão da relação entre empréstimo pretendido e as garantias exigidas pelos bancos, já que, em alguns casos, a garantias exigidas são maiores que os financiamentos pleiteados.

Para valorizar o café de qualidade produzido em Minas, a comissão propõe ações intensivas de marketing, com a realização de campanhas de valorização do produto nacional e o desenvolvimento de produtos à base de café voltados para o público jovem. A comissão também pede a regulamentação da lei que determinou a adoção do café na merenda escolar. E, para garantir a qualidade do café, são recomendados a revisão da classificação oficial, a criação de padrões uniformes de qualidade e a revitalização do programa de certificação do café. A comissão pede também a adequação da legislação tributária para o setor e a adoção de mecanismos para facilitar a contratação de trabalhadores avulsos pelas fazendas de café.

Um documento com sugestões de produtores para a elaboração de uma política de incentivo para o setor foi entregue pela representante do movimento Café Sem Pobreza, Denise Cássia Garcia, e pelo presidente da Cooperativa dos Produtores de Três Pontas, Francisco Miranda.

Fim de subsídios é lembrada por deputado federal

A ausência de políticas públicas para o setor foi criticada pelo deputado federal Carlos Melles (PFL-MG). Ele reclamou que, desde a extinção do Instituto Brasileiro do Café (IBC), os produtores passaram a enfrentar diversas dificuldades, como a ausência de preço mínimo e dificuldades para obter financiamentos. "O erro da política mundial do café é do Brasil, temos que vestir a carapuça. Até hoje o mundo espera a definição da política brasileira do café", disse.

O secretário de Estado da Agricultura, Odelmo Leão Carneiro, garantiu que o governador Aécio Neves vai ouvir as principais lideranças do setor antes de elaborar uma política estadual para o café. Entre as prioridades dessa política, segundo o secretário, estão a recomposição das dívidas e a reorganização da cadeia produtiva. "O governador inclusive já articula um encontro internacional do café em Minas Gerais", adiantou Odelmo.

Os pedidos para a elaboração de políticas estadual e nacional para o café vão ser feitos pessoalmente pelos integrantes da comissão ao governador Aécio Neves e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, o presidente da comissão, deputado Paulo Piau (PP), adiantou que a comissão também pretende propor um projeto de lei para proibir a venda de palha melosa para as indústrias de beneficiamento, de modo a impedir a comercialização de café com impurezas.

Os números da cafeicultura em Minas: 4 milhões de empregos diretos e indiretos; 82% dos municípios mineiros produzem café; apesar de ser responsável por metade da produção nacional, Minas industrializa apenas 11% do café brasileiro; 70% dos produtores têm propriedades com menos de 10 hectares.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Paulo Piau (PP), presidente; Laudelino Augusto (PT), vice; Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), relator; José Henrique (PMDB); e Dilzon Melo (PTB). Também compuseram a mesa o delegado do Ministério da Agricultura, João Vicente Diniz; o deputado federal Mário Heringer (PDT-MG); o representante da Faemg, João Roberto Puliti; o presidente do Conselho Nacional do Café, Oswaldo Ribeiro; o representante da Fiemg, Carlos Barcelos Costa; o presidente da Ocemg, Ronaldo Scucato; o vice-presidente da Crediminas, Alberto Ferreira; e o prefeito de Monte Carmelo, Ajalmar Silva.

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 3290 7715