Presidente do Iepha apresenta exigências para as obras na
Pampulha
As condicionantes em relação às obras na Lagoa da
Pampulha, que serão apresentadas à Prefeitura de Belo Horizonte,
foram anunciadas nesta quinta-feira (20/11/2003) pela presidente do
Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha),
Vanessa Borges Brasileiro. Na reunião conjunta das Comissões de Meio
Ambiente e Recursos Naturais e de Turismo, Indústria e Comércio da
Assembléia de Minas, ela afirmou que o instituto exigirá da
prefeitura a recuperação da visibilidade da Casa do Baile e das
margens em ponto médio à ilha, e ainda a recuperação integral do
espelho d'água junto à Enseada do Zoológico.
A reunião conjunta foi solicitada pelo deputado
Doutor Viana (PFL) que demonstrou preocupação com informações
recebidas em seu gabinete de que as obras de recuperação da lagoa
teriam sido iniciadas sem autorização do Iepha. Como a Pampulha é
tombada pelo patrimônio histórico estadual, qualquer alteração no
seu conjunto tem que ser autorizada pelo instituto. Durante a
reunião, o deputado Paulo Cesar (PFL), que a presidiu, citou o
decreto que exige que o órgão responsável pelo patrimônio seja
ouvido antes da realização de obras em bem tombado.
Vanessa Brasileiro informou que o Iepha não
questiona os objetivos finais da implantação do Parque Ecológico e
da urbanização da Orla da Lagoa da Pampulha, e sim os procedimentos
adotados pela Superintendência de Desenvolvimento da Capital
(Sudecap), que teria enviado por várias vezes documentos
insuficientes à análise técnica dos projetos. Ela destacou que a
Lagoa, que é um bem arquitetônico, paisagístico e cultural, teria
perdido seu caráter de lazer, devido ao assoreamento. O dirigente do
Partido Verde (PV), Décio Chami, criticou os investimentos públicos
feitos em obras de desassoreamento da Lagoa e que, segundo ele, não
surtiram efeito porque os resíduos seriam retirados de um ponto da
lagoa e despejados em outro. "As obras se repetem ao longo dos anos.
Não falo em corrupção, mas em incompetência na gestão dos recursos",
afirmou.
Deputado denuncia descaso da administração
municipal
O deputado Doutor Viana (PFL) também considera que
tem havido desperdício do dinheiro público. Além disso, ele lamentou
o desrespeito da Prefeitura de Belo Horizonte em relação ao Iepha e
também a ausência de representantes municipais na audiência pública.
O deputado acenou ainda para a possibilidade de se instalar uma
comissão especial para tratar do assunto, caso essa audiência
pública, que foi a terceira da Assembléia sobre o tema, não surta
efeito. O vereador da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Wadson
Lima, propôs uma ação conjunta dos legislativos municipal e estadual
para discutir os problemas da Pampulha como um todo. Já o deputado
Paulo Cesar informou que levará ao conhecimento do governador Aécio
Neves as conclusões da audiência, para que os recursos do Fundo
Somma, que já foram usados para financiar obras da Lagoa, sejam
liberados com maior rigor.
A necessidade de uma visão conjunta da Pampulha,
foi defendida pelo coordenador executivo da diretoria do Instituto
Horizontes, Marcos Vilela de Santana. "A Pampulha é o centro
emocional e simbólico da cidade. Ela não tem dono. Enquanto forem
observados apenas interesses particulares, os problemas da lagoa não
serão resolvidos", enfatizou. Segundo ele, o Projeto Gerar,
elaborado com patrocínio da Petrobras, teria a vantagem de fazer uma
abordagem global da Lagoa a custo zero para o contribuinte. O
projeto, apresentado na reunião pelo dirigente do PV, Décio Chami,
prevê a recuperação da Lagoa e a utilização do complexo para
atividades voltadas para o turismo, o lazer e o aproveitamento
econômico da região. "Defendo esse projeto como uma das alternativas
possíveis para a recuperação da Lagoa", ressaltou Chami.
Interesse turístico inexistente - O diretor financeiro
da Associação Brasileira das Agências de Viagem (Abav/MG), José
Maurício de Miranda Gomes, ressaltou que, embora a Lagoa seja um
marco para a cidade, os órgãos internacionais de turismo não
reconhecem nela, atualmente, nenhum interesse turístico. Ele
defendeu que apesar de Belo Horizonte ser um pólo do turismo de
negócios, o turismo de lazer poderia ser desenvolvido com a
recuperação da Lagoa. "Não quero dizer que os turistas virão à BH
para conhecer a Lagoa, mas ela pode ser um atrativo a mais na
cidade", explicou. "JK construiu a lagoa e nós não vamos conseguir
nem ao menos recuperá-la?", questionou. Para ele, o Projeto Gerar
contemplaria os interesses turísticos por apresentar
infra-estrutura, beleza, lazer e segurança.
Rafael Guimarães Bernardes, do Projeto Manuelzão,
enfatizou a poluição da lagoa, que expulsou os campeonatos de
canoagem de Belo Horizonte. Segundo ele, a Pampulha é uma das
maiores poluidoras da Bacia do Rio das Velhas. Bernardes defendeu
ainda ações integradas para cuidar da Lagoa. Na fase de debates,
alguns participantes defenderam a revitalização da Lagoa com base no
projeto original do complexo, de 1938. O presidente do PV de Belo
Horizonte destacou que é necessário considerar a Bacia Hidrográfica
da Pampulha, já que grande parte dos resíduos da Lagoa vem de
Contagem, por exemplo.
Presenças - Participaram
da reunião o presidente da Comissão de Turismo, Indústria e
Comércio, deputado Paulo Cesar (PFL); a presidente da Comissão de
Meio Ambiente e Recursos Naturais, deputada Maria José Haueisen
(PT); e os deputados Doutor Ronaldo (PDT); Doutor Viana (PFL) e
Gustavo Valadares (PFL).
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