PEC 54/2003 será retirada de tramitação

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 54/2003, do deputado Gustavo Valadares (PFL), que adota a bacia hidrográfic...

13/11/2003 - 17:06
 

PEC 54/2003 será retirada de tramitação

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 54/2003, do deputado Gustavo Valadares (PFL), que adota a bacia hidrográfica como unidade territorial de planejamento, terá tramitação suspensa. O anúncio foi feito pelo próprio autor, na reunião da comissão especial que está analisando a matéria, nesta quinta-feira (13/11/2003). Gustavo Valadares, em consenso com o relator da PEC, deputado José Henrique (PMDB), e com os demais membros da comissão, pediu aos técnicos presentes à reunião que apresentassem uma nova proposta de regionalização do Estado para que, então, ele pudesse retirar a PEC 54/03 de tramitação e apresentar uma nova proposta, mais viável para o desenvolvimento regional. "Minha preocupação é com uma divisão regional mais justa. O modelo que será adotado pode ser melhor discutido", afirmou.

Para o relator da matéria, deputado José Henrique (PMDB), todo projeto de desenvolvimento deve levar em consideração as questões ambientais, visando sua sustentabilidade. "A PEC 54 tem o mérito de trazer essa preocupação", afirmou. Gustavo Valadares pediu a paralisação da tramitação após ouvir os depoimentos dos técnicos convidados para a reunião. Eles foram unânimes em questionar a eficácia da proposta para o desenvolvimento regional, mas ressaltaram a importância de se discutir também os modelos adotados hoje. "A divisão tomando por base as bacias hidrográficas é ideal quando se trata de políticas de recursos hídricos. Para outras políticas seria necessário acrescentar critérios", afirmou a técnica em planejamento da Fundação João Pinheiro, Maria Aparecida Arruda. Segundo ela, essa divisão foi adotada em vários países e também no Brasil, na década de 40, mas não funcionou. "Os desafios regionais extrapolam os limites das bacias", concluiu.

O subsecretário de Estado de Desenvolvimento Regional e Urbano, Isnard Monteiro Horta, também acredita que a utilização de aspectos físicos para elaboração de planejamento regional não é viável. "Essas condições não podem ser desprezadas na hora de fazer um planejamento, mas não devem ser pré-condição para a organização regional", defendeu. Opinião semelhante tem a procuradora do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Adriana de Araújo Ramos. Ela questionou se a bacia hidrográfica seria efetiva para o planejamento de outras funções públicas, como as voltadas para a educação, saúde e transporte.

Técnico apresenta modelos de integração

O diretor de Programas e Projetos Metropolitanos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana, Gustavo Gomes Machado, apresentou dados sobre os três modelos de integração regional previstos da Constituição Federal - região metropolitana, aglomeração urbana e microrregião. O diretor defendeu ainda que não acredita que a regionalização por bacia hidrográfica seja eficaz para tratar de outras funções públicas de interesse comum, que não sejam voltadas para os recursos hídricos. "O seminário legislativo sobre regiões metropolitanas mostrou que as prefeituras vêm sentindo necessidade de se integrarem para solucionar problemas comuns", lembrou.

Desequilíbrio regional preocupa deputados

A presidente da comissão, deputada Maria José Haueisen (PT), e o deputado Bonifácio Mourão (PSDB) manifestaram preocupação com o desequilíbrio regional existente no Estado. "Não entendi ainda os critérios adotados pelo governador para possibilitar o desenvolvimento das regiões. Os Vales do Jequitinhonha e do Mucuri continuam sendo prejudicados na distribuição dos recursos", afirmou Maria José Haueisen.

O deputado Bonifácio Mourão apresentou estudos realizados por técnicos da Assembléia Legislativa que demonstram como a forma de organização regional pode camuflar a realidade. Os dados mostram, por exemplo, que a distribuição de ICMS per capita mensal no Triângulo Mineiro é a maior do Estado (R$ 18,75), vindo seguida pela macrorregião do Vale do Rio Doce, que inclui também o Vale do Aço (R$ 10,56). Os menores índices estão no Norte de Minas (R$ 5,56) e nos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri (R$ 4,84).

Analisando os dados do Vale do Rio Doce e do Vale do Aço, fora do contexto da macrorregião, os números refletem uma outra situação: o Vale do Aço passa a representar a região mais rica do Estado, com R$ 21,34 de ICMS per capita mensal, e o Vale do Rio Doce uma das mais pobres, com R$ 5,64. "Dependendo da divisão que se adota como critério, as regiões podem ser prejudicadas ou favorecidas na distribuição de recursos", afirmou o deputado, defendendo uma divisão do Estado mais condizente com a realidade sócio-econômica das regiões. "Precisamos mesmo de uma divisão mais justa", concluiu. Maria Aparecida Arruda acrescentou que uma das maiores dificuldades da regionalização é mesmo dar identidade a elas, reunindo municípios com realidades semelhantes.

Presenças - Participaram da reunião a deputada Maria José Haueisen (PT), presidente; os deputados José Henrique (PMDB), relator; Gustavo Valadares (PFL) e Bonifácio Mourão (PSDB). Além dos convidados citados na matéria, também participou da reunião o superintendente central de Planejamento, Bernardo Tavares de Almeida.

 

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