Marketing pode estimular aumento do consumo de café

O marketing pode ser uma poderosa ferramenta para valorizar o café de qualidade e aumentar o consumo do produto. Essa...

13/11/2003 - 16:06
 

Marketing pode estimular aumento do consumo de café

O marketing pode ser uma poderosa ferramenta para valorizar o café de qualidade e aumentar o consumo do produto. Essa foi a opinião unânime dos participantes da reunião da Comissão Especial da Cafeicultura Mineira realizada nesta quinta-feira (13/11/2003). O produtor do Sul de Minas Juliano Moreira Reis descreveu os investimentos feitos em tecnologia e mão de obra que não são valorizados no momento da comercialização do café. "É preciso que o consumidor saiba que tipo de café está consumindo, por isso, todo o investimento feito pelo cafeicultor deve ser difundido através de um forte trabalho de marketing", disse.

O representante do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), João Nelson Gonçalves, concordou com o produtor ao afirmar que o sistema de comercialização não valoriza a qualidade do café. "O IMA foi o primeiro instituto brasileiro a criar um programa de certificação de origem e qualidade do café e detém a metodologia de análise do produto, mas, infelizmente, isso ainda não é suficiente para alavancar vendas", afirmou. Segundo João Nelson, o café possui uma missão econômica e social importantíssima no país, mas sua rastreabilidade ainda é um desafio. Rastreabilidade é o método através do qual podem-se identificar as falhas no processo produtivo para então corrigi-las.

Rotulagem pode ser solução

O representante da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Carlos Barcelos Costa, resumiu a história do consumo do café no Brasil e disse que estamos iniciando um novo ciclo. "Após o pioneirismo brasileiro na implantação do selo de pureza, estamos lançando agora um Programa de Qualidade Rotulada, que não se preocupa apenas com a pureza do produto, mas com o atendimento às exigências do consumidor", disse. Carlos Barcelos disse que qualidade é aquilo que atende ao gosto do consumidor e ele deve participar do processo de rotulagem, contribuindo, assim, para o cumprimento da legislação, a redução das impurezas na matéria-prima e, consequentemente, para a melhoria do sabor do café. Segundo ele, a rotulagem deve ser exeqüível e fiscalizada, para que a lei não caia no vazio.

O diretor-presidente do Sindicato das Indústrias de Café de Minas Gerais (Sindicafé), Almir José da Silva, afirmou que a qualidade certificada do café pode atrair novos públicos, mas é preciso identificar o que as indústrias estão fazendo para melhorar a imagem do produto e elevar o consumo do café. "A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) desde 1992 está estudando a criação de controles de qualidade e, finalmente chegou-se a um padrão com o desenvolvimento da língua eletrônica, que é um produto ajustado para qualificar os quatro padrões de sabor do café: doce, azedo, amargo e salgado", explicou.

O técnico da Emater, Marcelo de Pádua Felipe, esclareceu que a classe produtora é totalmente a favor da lei de rotulagem, mas alertou para a necessidade de se corrigir os problemas do processo de certificação antes da regulamentação da lei. "Realmente não há como consumir um produto sem saber sua procedência, mas afinal, como fazer marketing de um produto ruim?", questionou. De acordo com Marcelo, o marketing começa na produção e distribuição, mas, mesmo assim, "não se tem discutido a possibilidade de cortar os males que prejudicam a imagem do produto", como a comercialização de café com palha e resíduos.

Marketing aliado a políticas estratégicas

O professor do Cepead da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Alberto Gonçalves, apontou algumas linhas de ação que poderiam ser implementadas no sentido de agregar elementos de competitividade ao café. Ele sugere que os vários públicos sejam estimulados com a adoção de campanhas publicitárias adequadas. "Pode ser realizado um trabalho nas escolas, para atingir as crianças, e podem ser desenvolvidas peças publicitárias direcionadas aos adolescentes e adultos". Ele alerta que é fundamental desenvolver um esquema de marketing estratégico que promova a competição no mercado, "pois não adianta investir em diferenciação e certificação se não houver resultados positivos na comercialização", afirmou.

A presidente do Movimento das Donas de Casa, Maria do Céo Paixão, disse perceber o quanto o café "perde para outras bebidas oferecidas no mercado". Segundo ela, principalmente as crianças e adolescentes são levados, através do marketing e da publicidade, a consumir refrigerantes, sucos e outras bebidas mais divulgadas. Maria do Céo concordou com a urgência da melhoria da qualidade do café e da publicidade estratégica, mas apontou o empobrecimento do consumidor como um fator que também deve ser considerado. "É preciso criar mecanismos que façam com que a agregação de valor ao café não cause muito impacto no bolso do consumidor", alertou.

Deputados defendem financiamento para o setor

A questão do financiamento para o café foi abordada pelo deputado Domingos Sávio (PSDB), que defendeu a cobrança de uma posição clara do governo federal. Segundo ele, o momento é crítico para os produtores, com o vencimento de operações de crédito que bancaram a colheita passada e a necessidade de novos investimentos para a próxima safra. Para o deputado, o problema da falta de recursos se agrava pelo fato de a produção do café ser cíclica. Ele criticou também o Programa Nacional da Agricultura Familiar (Pronaf), do governo federal. "O Pronaf tem limites que excluem muitas famílias que plantam café", declarou. Contrariando a percepção do parlamentar, o deputado Laudelino Augusto (PT) informou que o Pronaf destina 25% de recursos para a produção familiar do café.

No âmbito do governo estadual, Domingos Sávio sugeriu que fosse cobrada a implementação de políticas públicas de fomento para o setor. Por isso, requerimento de sua autoria foi aprovado para que a comissão discuta o financiamento do café com representantes do Banco do Brasil, para se esclarecer a posição do governo federal. O deputado Paulo Piau (PP), presidente da comissão, explicou que, devido à urgência de se agilizar os demais trabalhos da Assembléia, o assunto terá que ser debatido na plenária final, marcada para o próximo dia 20. Dessa forma, os representantes do Banco do Brasil ficariam convidados a participar desse evento.

Execuções - O deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) apoiou o requerimento do deputado Domingos Sávio, afirmando que já foi publicado nos jornais mineiros o edital de convocação do Banco do Brasil para contratação de advogados para a emissão de cédulas a serem executadas contra os produtores devedores. Segundo ele, essas execuções vão gerar um novo problema para os produtores, que, se não pagarem as dívidas, poderão ter seus bens leiloados. A solução apontada pelo parlamentar foi a intervenção da comissão para que o Banco do Brasil adie essas execuções, já que não é possível pedir a suspensão da contratação dos advogados após a publicação do edital de convocação.

Plenária final - Os trabalhos da comissão serão encerrados no próximo dia 20, quando o relatório final será apresentado numa plenária com a presença de autoridades, especialistas e produtores. No entanto, o deputado Paulo Piau (PP) afirmou que os trabalhos não podem parar, "pois os parlamentares devem estar em luta constante para a conscientização da importância do café como gerador de riquezas".

Para participar da plenária final, serão convidados representantes da Secretaria de Estado da Agricultura, da Secretaria de Estado da Fazenda, do Ministério da Agricultura, da Faemg, do Conselho Nacional do Café, da Fiemg, da Confederação Nacional do Café e do Banco do Brasil, além de produtores e deputados federais ligados ao setor. Atendendo a requerimentos dos deputados Dalmo Ribeiro Silva e Domingos Sávio, aprovados na reunião, também serão convidados representantes da Ocemg, da Crediminas e da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB).

Presenças - Participaram da reunião os deputados Paulo Piau (PP), presidente, Laudelino Augusto (PT); Dalmo Ribeiro Silva (PSDB); e Domingos Sávio (PSDB). Também estiveram presentes o diretor-presidente do Sindicato das Indústrias de Café de Minas Gerais (Sindicafé), Almir José da Silva Filho; o assessor do Procon Estadual, José Alberto de Alvim Braga; o presidente da Comissão de Café na Câmara Nacional do Café, João Roberto Puliti; e o presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros Agrônomos, Rodrigo de Almeida Pontes.

 

 

 

 

 

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