Exames de saúde atestam que não há contaminação por mercúrio

Quase um ano depois das primeiras notícias sobre o afloramento de mercúrio no Ribeirão do Grama, município de Descobe...

17/11/2003 - 17:30
 

Exames de saúde atestam que não há contaminação por mercúrio

Quase um ano depois das primeiras notícias sobre o afloramento de mercúrio no Ribeirão do Grama, município de Descoberto, Zona da Mata mineira, apenas uma conclusão parcial foi informada pelas autoridades: testes de saúde comprovaram que não há contaminação da população da cidade e da vizinha São João Nepomuceno. No entanto, o grau de concentração e a incidência do metal no solo e na água ainda não foram levantados. As informações foram prestadas em reunião sobre o assunto, realizada nesta quarta-feira (12/11/2003), pela Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais, da Assembléia Legislativa, a pedido do deputado Biel Rocha (PT).

Após a exposição das autoridades municipais de Descoberto, de técnicos da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e dos representante da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e da Secretaria de Estado da Saúde, a conclusão, segundo o deputado Biel Rocha, é a de que há uma superposição de tarefas, faltando uma coordenação dos trabalhos, "até mesmo para podermos cobrar resultados", conforme enfatizou.

Entre a notificação do aparecimento do mercúrio, em dezembro do ano passado, e as primeiras providências pela Copasa, passaram-se dois meses, e só em agosto deste ano houve a interdição de uma área de 8 mil m2 por decisão do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), e a suspensão de 40% do abastecimento de água pela Copasa. Apesar da resposta imediata da Feam, quando comunicada em dezembro do ano passado, os trabalhos foram feitos em três frentes diferentes: o grupo da Feam e da Diretoria de Ações Descentralizadas (DAS) da Secretaria da Saúde; a UFJF, que estabeleceu parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen); e a prefeitura de Descoberto, por meio da secretaria municipal de Saúde. Para unificar as ações até agora efetivadas e estabelecer uma coordenação única, os envolvidos vão se reunir nesta sexta-feira (14), na DAS de Juiz de Fora.

Mercúrio é herança da mineração inglesa

O mercúrio encontrado em Descoberto, na forma metálica, é herança da mineração inglesa explorada no País - em Minas, entre 1850 a 1930. O ouro surgiu antes, mas a exploração não utilizava o mercúrio, técnica introduzida pelos ingleses. Não há registro da quantidade extraída na região, o que dificulta as pesquisas sobre a quantidade de mercúrio que ainda possa existir na água e no solo. Segundo o técnico ambientalista da DADS/JF, Lodônio de Figueiredo Souza, e que representou o diretor da DADS/JF, José Laerte e a professora da UFJF, Nádia Rezende Barbosa, a história oral dá conta de que entre 1 a 1,5 toneladas de ouro podem ter sido extraídas do local no período, o que dá uma igual quantidade de mercúrio utilizado. Mas não há informações sobre qual a concentração do metal ainda presente no solo ou nas águas próximas.

A gerente de monitoramento da Feam, Rosa Maria Cruz Laender, relatou as ações tomadas pelo órgão, como as visitas ao local e a coleta das águas superficiais e subterrâneas, do solo e da vegetação. Junto com o técnico do órgão, Mauro Campos Trindade, afirmou não ter tido acesso ao relatório feito pela UFJF/USP, e divulgado na última sexta-feira (7/11), apesar de tal solicitação ter sido feita em 20 de outubro, segundo Mauro Trindade.

A diretora de Vigilância Ambiental em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde, Cristiana Ferreira Jardim de Miranda, disse que mesmo com os exames de moradores e peixes tendo revelado a não-contaminação pelo mercúrio, o órgão continua preocupado com a possibilidade de isso vir a acontecer, diante da pouca informação sobre a incidência do mercúrio. Por isso, garantiu que o monitoramento da Vigilância continuará sendo feito. Ela admitiu ainda que as amostras de peixe (lambari) usadas para os exames não são as mais indicadas, "por não serem peixes carnívoros, que armazenariam o mercúrio", confessando a dificuldade de recolhimento dos peixes adequados.

Prefeito faz apelo

O prefeito de Descoberto, Marcos de Araújo Lima, garantiu que a prefeitura tomou todas as medidas cabíveis, como a interdição de uma área de 8 mil m², mesmo depois da constatação do afloramento do mercúrio em área de somente 300 m². Ele fez um apelo para que o abastecimento da cidade seja normalizado, já que a Copasa suspendeu o fornecimento de 40% da água. O secretário municipal de Saúde da cidade, Orlando Luiz de Mendonça, informou que a prefeitura fez 143 exames de urina e, na parceria com a USP, foram feitos exames de urina, cabelo e sangue. Ele também apelou para que os órgãos envolvidos apresentem resultados mais completos e urgentes, "porque a população está cobrando, e Descoberto, que tem muita coisa boa para oferecer, está na mídia por causa do mercúrio."

Rosa Maria Laender, da Feam, afirmou que seria possível identificar os responsáveis pelo passivo ambiental, através do levantamento dos responsáveis pelo terreno, mas que isso era um processo muito demorado, "por isso a Secretaria de Estado do Meio Ambiente assumiria o caso".

Até o momento, além dos exames de água, solo, moradores e peixes, foram feitos, no Ribeirão do Grama, uma obra de contenção pela Copasa e um canal pela Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), que explora bauxita na cidade e ofereceu tecnologia para a construção da obra.

Relatório

O relatório da UFRJ/USP divulgado dia 7 de novembro confirma a contaminação do solo de até 0,80 ppm (partes por milhão), enquanto o valor de referência aceitável é de 0,15 ppm, índice encontrado nos garimpos da Amazônia. Em outros pontos de coleta, mais distantes do foco principal, a amostragem revelou a presença de até 0,50 ppm. Os dados, que foram questionados pelo secretário de Saúde de Descoberto, são diferentes dos da Feam, que segundo o técnico Marcos Trindade, foram de 0,55 ppm e foram "divulgados no site do órgão".

Presenças - Participaram da reunião a deputada Maria José Haueisen (PT), presidente; e os deputados Biel Rocha (PT), Leonardo Quintão (PMDB) e Olinto Godinho (PSDB), que presidiu a parte final da reunião.

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 3290 7715