Seminário discute criação de novas regiões metropolitanas em MG

O Seminário Legislativo "Regiões Metropolitanas" teve início na manhã desta segunda-feira (10/11/2003), no Plenário d...

11/11/2003 - 14:59
 

Seminário discute criação de novas regiões metropolitanas em MG

O Seminário Legislativo "Regiões Metropolitanas" teve início na manhã desta segunda-feira (10/11/2003), no Plenário da Assembléia Legislativa, após várias reuniões preparatórias e cinco encontros regionais, realizados nas cidades de Conselheiro Lafaiete, Governador Valadares, Uberlândia, Santa Luzia e Juiz de Fora. O presidente da Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização, deputado João Bittar (PL), representando o presidente da Assembléia, deputado Mauri Torres (PSDB), no discurso de abertura, enfatizou o objetivo maior do encontro: discutir alternativas para os problemas econômicos e sociais dos grandes conglomerados urbanos, com base nas experiências das regiões metropolitanas já implantadas no Estado. As palestras e discussões vão subsidiar a votação dos projetos em tramitação na Casa, que tratam do tema.

A secretária de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana, Maria Emília Rocha Mello, elogiou a iniciativa da Assembléia de Minas de discutir o assunto, no momento em que praticamente todos os municípios mineiros estão buscando formatos de gestão comum e instrumentos associativos capazes de resolver os problemas locais. "Tenho certeza de que sairemos daqui com propostas de pactos metropolitanos viáveis, para garantir a melhor prestação de serviços à população", afirmou.

Integração local carece de regulamentação legal

A deputada federal Maria do Carmo Lara (PT-MG), presidente da Comissão de Desenvolvimento Urbano e Interior da Câmara, lembrou a experiência dos consórcios de saúde, já implantados em alguns municípios, por necessidade, e que ainda precisam ser regulamentados por lei. Segundo ela, a união de prefeituras para solucionar problemas vem muito antes da criação formal das regiões metropolitanas. Citando sua experiência à frente da Prefeitura de Betim, Maria do Carmo afirmou: "eu e outros prefeitos chegamos a ser notificados pelo Tribunal de Contas, por causa do consórcio, mas não tínhamos outra alternativa, tínhamos que nos unir!".

Além dos problemas da saúde, segundo ela, as duas maiores mazelas sociais da atualidade - desemprego e violência - estão concentradas nas regiões metropolitanas. Na opinião da deputada, neste momento há dois grandes desafios para os gestores públicos: como administrar as regiões metropolitanas já existentes, e definir a viabilidade ou não de se criar novas regiões no Estado.

O deputado Fábio Avelar (PTB), autor do requerimento que deu origem ao seminário, destacou alguns dos problemas mais comuns na Região Metropolitana de Belo Horizonte, como transporte de passageiros, aumento da criminalidade e déficit habitacional. Em seu requerimento, apresentado há vários meses, o deputado pretendia discutir apenas as dificuldades e perspectivas das regiões já existentes em Minas - Belo Horizonte e Vale do Aço. A partir daí, começaram a tramitar projetos para criação de novas regiões metropolitanas, o que também se tornou tema do evento. "Esse assunto é de extremo interesse da sociedade. Precisamos estudar bem cada caso para decidirmos o que fazer", concluiu Fábio Avelar.

Mercado não resolve sozinho problemas sociais urbanos

A professora da Faculdade de Arquitetura da UFMG, Jupira Gomes de Mendonça, foi a primeira expositora do seminário. De acordo com ela, que é organizadora do livro "População, espaço e gestão na metrópole: novas configurações, velhas desigualdades", a sociedade passou duas décadas acreditando que o próprio mercado resolveria os problemas econômicos e sociais decorrentes do crescimento urbano, o que depois se constatou que não era verdade. "Hoje estamos refletindo sobre a importância de o Estado atuar com a definição de políticas públicas e o próprio planejamento do desenvolvimento urbano", analisou.

Durante sua exposição, Jupira analisou o crescimento populacional dentro da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Segundo estudos mostrados, a capital vem perdendo espaço para os municípios menores, em relação à população. O censo de 2000 indica que pouco mais de 50% da população estão concentrados hoje em Belo Horizonte. A distribuição dos grupos sociais no espaço urbano também tem mudado muito desde a década de 70, segundo a professora. Esses dois fatores, por si só, já seriam suficientes para se repensar inclusive a estrutura dos serviços oferecidos à população dentro da região.

Regiões não têm aparato jurídico

"A falta de consciência e informação sobre o assunto tem feito surgir, em todo o País, estratégias equivocadas de metropolização", analisou o diretor de Assuntos Fundiários do Ministério das Cidades, Edésio Fernandes. Segundo ele, a ordem urbana e metropolitana apresenta descompasso em relação à ordem constitucional e legal, uma vez que a realidade de produção das cidades que se agrupam em regiões foi desenvolvida muito mais aceleradamente. "Na ditadura militar, as regiões metropolitanas eram consideradas estratégicas para o regime", exemplificou, ao fazer um levantamento sobre a ineficiência da legislação sobre o assunto ao longo das décadas.

Apesar de considerar a falta de aparato jurídico para a questão, o representante do Ministério das Cidades acredita que não há como resolver as dificuldades das regiões metropolitanas somente por leis, decretos ou ações políticas. Para ele, elas precisam ser legitimadas pela necessidade social, o que requer uma análise de quatro principais fatores: a natureza das regiões, do ponto de vista jurídico; a titularidade de seu interesse; a medida de convivência entre o metropolitano e o local e o metropolitano e o estadual ou nacional; e os recursos necessários para sua gestão.

De acordo com o técnico, a criação de regiões metropolitanas não soluciona os problemas enfrentados pelos municípios; constitui-se, em grande parte das vezes, em articulações políticas para aumentar os recursos destinados a essas cidades, sem levar em conta a necessidade de organização territorial. "O governo federal propõe políticas articuladas entre os ministérios e o Congresso Nacional, Estados, municípios e os diversos setores da sociedade civil envolvidos com a questão", completou.

Consultor aponta falta de aparelhamento

O consultor da Intersan Engenharia, Benício de Assis Araújo, lembrou que a situação dos grandes núcleos urbanos exige modelos de instituições diferentes que os das cidades onde não há tanta concentração. Para ele, porém, União, Estados e municípios "viraram as costas" para o planejamento urbano, o que tem sido "insustentável". "O país vive problemas sérios como violência, desemprego, transporte e saneamento urbano, que exigem soluções emergenciais, mas o poder público e a sociedade civil estão desaparelhados para resolver o problema", ponderou.

Segundo ele, a criação do Ministério das Cidades e a edição do Estatuto das Cidades foram importantes para provocar a atuação de outros entes. Exemplos disso, de acordo com Benício de Assis, são a criação, em Minas Gerais, da Secretaria de Desenvolvimento Regional e Política Urbana e a própria realização, pela Assembléia de Minas, do Seminário Legislativo "Regiões Metropolitanas".

Para o presidente do Instituto Horizontes, Marcos Sant'Anna, é importante que os municípios que reivindicam sua inclusão em associações metropolitanas tenham consciência de que essa instituição tem benefícios, mas exige custos. "E são esses custos que devem ser analisados em primeiro lugar. Não é possível fazer parte do conjunto sem abrir mão de alguma autonomia", refletiu.

Ineficiência - Já o professor da Escola de Engenharia da UFMG, Ronaldo Guimarães Gouvêa, levantou duas perguntas, em sua exposição, que considera básicas para se conhecer a complexidade do assunto: por que as regiões metropolitanas não são eficientes e por que, ainda assim, tantos municípios querem se unir? A resposta da primeira questão, segundo ele, está na falta de prestação de serviços públicos de qualidade à população. Os entes insistem em se associar exatamente para tentar encontrar soluções para problemas que são comuns.

Segundo ele, apesar de os municípios serem totalmente diferentes entre si, em relação a aspectos como área de superfície, cultura, população e economia, eles são considerados iguais perante a lei. "Ao contrário dos Estados Unidos, onde as 13 colônias se uniram e abdicaram de algumas autonomias, com o objetivo de se fortalecerem, a Federação Brasileira surgiu autoritariamente, por meio de um decreto", disse. Esta é, para o professor, a origem das dificuldades de esses entes se organizarem.

A ausência de coordenação, planejamento e ação no sentido de se enfrentar problemas comuns também foi abordada pelo superintendente de Assuntos Metropolitanos da Secretaria de Desenvolvimento Regional e Política Urbana, Fernando de Castro. Segundo ele, antes de se pensar em modelos de gestão, formas de financiamento e planos diretores, é necessário que haja um "pacto metropolitano", ou seja, um entendimento entre a sociedade civil e o poder público para a busca de soluções.

Ele parabenizou a iniciativa da Assembléia Legislativa de realizar o seminário e abrir o debate com a sociedade. Castro disse que esse assunto é complexo demais para ser resolvido a portas fechadas.

 

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