Fhemig admite mudanças no Santa Izabel mas descarta demissões

A preocupação de funcionários e pacientes ex-hansenianos do Hospital Santa Izabel, em Betim, com a possível municipal...

06/11/2003 - 15:46
 

Fhemig admite mudanças no Santa Izabel mas descarta demissões

A preocupação de funcionários e pacientes ex-hansenianos do Hospital Santa Izabel, em Betim, com a possível municipalização de seu sanatório, foi debatida nesta quinta-feira (6/11/2003) pela Comissão de Saúde da Assembléia, com a participação também da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) e da secretaria de Saúde daquela cidade. O assessor da diretoria hospitalar da Fhemig, Antônio Guimarães, admitiu que, desde março deste ano, a Fundação vem discutindo com a Prefeitura de Betim a situação do hospital, mas garantiu: "Nenhuma decisão será tomada sem antes esgotar a discussão. O Estado não vai fugir de suas responsabilidades e nem demitir funcionários; pelo contrário, vai buscar melhorias".

Segundo ele, a falta de recursos ao tratamento dos hansenianos é uma "aberração", já que são financiados apenas 40 dos 271 pacientes que necessitam de tratamento prolongado e que estão lá há 30, 40 anos. "A responsabilidade sobre essas pessoas é do Estado, mas a atenção básica à saúde cabe à prefeitura", afirmou. "Existe uma intenção real de parceria entre Betim e a Fhemig, na busca de solucionar os problemas da instituição", confirmou o secretário adjunto de Saúde de Betim, Rodolpho Belo, que também classificou a falta de recursos como problema prioritário.

"A Colônia Santa Izabel não é só de ex-hanseniano, mas da comunidade que se desenvolveu ao redor dela", lembrou o secretário adjunto. Ele e o representante da Fhemig salientaram, em suas falas, que a maior preocupação das conversações é humanizar o atendimento. Hoje, o Hospital Santa Izabel, ex-colônia que por décadas abrigou e tratou exclusivamente enfermos de hanseníase, presta atendimento ambulatorial e hospitalar para toda a população de Betim e redondezas. Em 2000, o conjunto arquitetônico da colônia foi tombado como patrimônio histórico e cultural de Betim.

Representante dos pacientes cobra responsabilidade

Para o vice-coordenador do Movimento de Reintegração de Pessoas Atingidas por Hanseníase de Betim, Hélio Dutra, o motivo do receio de pacientes e funcionários tem razões históricas, após experiências de gestores passados. Um exemplo, segundo ele, é a lei estadual que garantiu, desde o ano passado, pensão mensal vitalícia aos portadores de hanseníase que trabalharam como bolsistas nos sanatórios do Estado. Até agora, eles nada receberam. "A sapataria ortopédica do hospital precisa ter material para fazer o produto ou o paciente terá as seqüelas pioradas. O mesmo acontece com o fisioterapia", acrescentou.

"A colônia hoje funciona como pronto-atendimento, internação, pediatria. Sabemos de quem é a responsabilidade, mas é preciso defini-la na prática", argumentou, citando uma denúncia que o Movimento de Reintegração recebeu, na semana passada, de que os pacientes da colônia de Nanuque não estão tendo acesso a um medicamente de uso universal, isto é, sem custo. "Com isso, os pacientes acabam vindo para Santa Izabel, da mesma forma que os do Eduardo Menezes", disse. Para ele, já que no passado o governo do Estado propôs o atendimento compulsório aos portadores de hanseníase, deveria manter a atenção básica à saúde a eles enquanto estiverem vivos. "É injusto; alguns pacientes do Santa Izabel ficam na central de leitos por falta de espaço", completou.

Preconceito ainda é problema

"Não existe qualquer política para acabar com o preconceito dos moradores de Betim em relação à colônia, que precisa não só de recursos ou discussões, mas também de melhorias sociais e fundiárias", alertou a coordenadora do Sind-Saúde de Betim, Berenice de Freitas Diniz. "A colônia tem seis profissionais trabalhando na rouparia do hospital, mas eles acabam trabalhando em outros serviços e os pacientes ficam sem ter o que vestir", disse. Para a coordenadora sindical, a parceria entre a Fhemig e a Prefeitura de Betim deve, antes de qualquer coisa, ouvir os pacientes. Outra providência necessária seria discutir o impacto da possível municipalização com os pacientes, a comunidade e a Câmara Municipal.

O diretor de Políticas de Saúde do Sind-Saúde Estadual, Paulo Carvalho, acredita ser um "erro político grande" não analisar o potencial da estrutura da colônia para servir ao SUS. Outros equívocos, para ele, são acreditar que a hanseníase está erradicada no Brasil e desconsiderar a importância da força de trabalho em mudanças de gestão: "É preciso garantir todos os direitos", frisou.

O diretor do Santa Izabel, Shigueru Ricardo Sekya, reforçou as dificuldades administrativas e operacionais do Santa Izabel e alertou para outro problema: a construção de um presídio de segurança que o governo estadual pretende implantar bem próximo ao local. "Isso vai afunilar a exclusão", analisou.

Deputados querem acompanhar situação

Os deputados Ricardo Duarte (PT), presidente da Comissão de Saúde, e Rogério Correia (PT), que foram os autores do requerimento pela realização da reunião, salientaram a necessidade de a comissão acompanhar, permanentemente, o andamento das negociações para municipalização do Santa Izabel.

O deputado Carlos Pimenta (PDT) lembrou que, quando presidia a comissão, em 1997, foi realizada uma audiência pública na colônia para tentar descobrir o sentido real daquele espaço para pacientes e funcionários. "Parece que essa indefinição continua. Em primeiro lugar, é preciso se chegar a uma conclusão sobre as funções da instituição. É uma colônia de tratamento? Hospital regional? Patrimônio da história de Minas?", questionou. O deputado sugeriu que a comissão realize novamente uma audiência em Santa Izabel, na tentativa de auxiliar nesse diagnóstico, convidando todos os envolvidos e interessados na questão.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Ricardo Duarte (PT), presidente, Fahim Sawan (PSDB), vice, Carlos Pimenta (PDT), Rogério Correia (PT) e Célio Moreira (PL).

 

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