Obrigatoriedade de lacres em postos de gasolina gera polêmica na FFO

A proposta de colocação de lacres eletrônicos nos tanques dos postos de combustíveis recebeu críticas de entidades qu...

05/11/2003 - 19:22
 

Obrigatoriedade de lacres em postos de gasolina gera polêmica na FFO

A proposta de colocação de lacres eletrônicos nos tanques dos postos de combustíveis recebeu críticas de entidades que representam distribuidoras e revendedores. A obrigatoriedade desses lacres está prevista no Projeto de Lei (PL) 679/2003, do deputado Leonardo Moreira (PL), que tramita em 1o turno na Assembléia. De acordo com o projeto, as distribuidoras de combustíveis teriam que arcar com os custos de instalação dos lacres nos postos de suas respectivas redes e até dos postos de bandeira branca, que têm autonomia para revender combustível de diversas marcas. O assunto foi tema de reunião da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária da Assembléia de Minas, realizada nesta quarta-feira (5/11/2003).

O debate gerou muita polêmica durante as quase cinco horas de reunião. De um lado, os deputados, que defendem o lacre como forma de reduzir a adulteração de combustíveis e a sonegação de impostos. De outro, as entidades representativas dos postos e distribuidoras, que duvidam da eficácia do lacre para coibir a adulteração. "Não existe no mundo equipamento capaz de proteger efetivamente o consumidor e impedir a descarga de combustível adulterado nos postos de combustíveis", disse um dos membros da diretoria do Sindicato das Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), Alísio Vaz. Mesma opinião foi manifestada pelo presidente da Minaspetro (entidade que congrega os postos de gasolina no Estado), Paulo Miranda. "Esta não vai ser a solução para o problema da adulteração. Existem mil maneiras de burlar o sistema de lacres", alegou.

Uma das práticas mais comuns para adulterar o combustível nos postos lacrados é a descarga de gasolina por meio do respiro, tubulação por onde sai o ar armazenado no reservatório no momento em que ele recebe o combustível. Outra forma de burlar esse mecanismo é a descarga de combustível adulterado simultaneamente à abertura do tanque pela distribuidora, através de uma boca de descarga escondida. Os fraudadores também utilizam o chamado "robocop", espécie de alça que consegue desenroscar o tubo de descarga do posto, mesmo com a bomba lacrada.

Para Minaspetro, projeto é inviável

Outro ponto do projeto criticado pelo representante do Minaspetro foi a obrigatoriedade de colocação de lacres nos postos de bandeira branca. Os custos dos lacres (cerca de R$ 2 mil cada) seriam cobertos pelas próprias distribuidoras, conforme o substitutivo apresentado pela Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas. O Minaspetro alega que nenhuma distribuidora vai querer arcar com os custos dos lacres nesses postos, que não têm contrato de exclusividade com nenhuma bandeira. "Vai ser difícil operacionalizar esse projeto, que vai engessar a liberdade de mercado que custamos a conseguir", argumenta Paulo Miranda. Segundo ele, a desvinculação se tornou questão de sobrevivência para muitos postos, que, sem contrato de exclusividade, têm condições de comprar combustível mais barato de distribuidoras diferentes.

O diretor do sindicato acredita que as fraudes tendem a diminuir, já que a partir deste mês, 600 fiscais da Secretaria de Estado da Fazenda terão autonomia para multar os postos que forem pegos vendendo gasolina adulterada. Essa fiscalização vinha sendo feita por seis fiscais da Agência Nacional do Petróleo. Para evitar as fraudes, Miranda defende, ao invés da criação de novas leis, a aplicação da legislação já existente e penas mais severas para os fraudadores. "Nos Estados Unidos e na Europa, não se usa nenhum mecanismo para evitar a adulteração, aplica-se a lei: quem adultera é preso", disse.

O representante da Locktron Indústria e Comércio, fabricante paulista de lacres eletrônicos, rebateu as críticas ao equipamento e defendeu a aprovação do PL 679/2003. Segundo ele, o custo dos lacres não é alto (cerca de R$ 2 mil) e a empresa não detém o monopólio do mercado, é apenas a líder desse segmento, competindo com diversas multinacionais. "Esse projeto nasceu em 1991, a pedido da Shell, para evitar a adição indiscriminada de álcool na gasolina. A Shell e as outras distribuidoras prometeram preço mais baixo para os postos com tanque lacrado, mas em vez disso, aumentaram o preço. Depois disso, os postos começaram a violar os lacres", atacou o diretor da empresa, Rogério de Araújo Sacchi.

Shell substitui lacre por marcador

A Shell foi a primeira empresa a adotar o lacre para tentar impedir a adulteração de combustíveis, em meados dos anos 90. Como as fraudes não diminuíram, a empresa decidiu abandonar a tecnologia e jogar todas as fichas no que foi batizado de "DNA da Shell". Trata-se de um marcador químico exclusivo que permite identificar a presença de solventes na gasolina através de fiscalizações periódicas nos postos da rede. "Hoje temos certeza de que a marcação química é mais eficaz. Por isso, vamos começar a retirar os 8 mil lacres eletrônicos instalados em nossos postos", anunciou o gerente de engenharia da empresa, Paulo César Carvalho. Além da Shell, as outras grandes distribuidoras que operam no país - BR, Texaco, Ipiranga, Esso, Repsol e Agip, reunidas no Sindicom - também já se preparam para trocar os lacres pelos marcadores químicos. Juntas, essas empresas detêm 80% do mercado brasileiro de combustíveis.

A Agência Nacional de Petróleo (ANP) determina a adição de um tipo de marcador químico na gasolina de todas as empresas, mas a fiscalização dessa marcação, cara e complexa, não vem sendo feita de forma sistemática. O Procon estadual tem utilizado análises feitas pela UFMG e pelo Cetec para identificar a gasolina adulterada comercializada em Minas. Em outubro, conseguiu impedir a venda de gasolina distribuída por cinco pequenas empresas - Montes Claros, Atlas, Cruzeiro do Sul, Golfo e American Lub. Juntas, elas comercializaram 300 mil litros de gasolina adulterada em todo o Estado. Mas a fiscalização do Procon atinge apenas metade dos postos de Minas. "Nossa meta é fiscalizar todos os postos do Estado pelo menos uma vez por ano", espera o secretário do Procon Estadual, Amauri da Mata. Ele defendeu a marcação pública dos combustíveis, por não acreditar na transparência da marcação que vem sendo feita isoladamente pelas grandes distribuidoras.

Deputados apóiam lacre

Os argumentos das empresas não convenceram os deputados, que se manifestaram a favor da obrigatoriedade dos lacres. O deputado Adalclever Lopes (PMDB), dono de vários postos de gasolina, disse que era contrário ao projeto, mas com a reunião, foi convencido da eficácia dos lacres. "Acabei de investir mais de R$ 1 milhão em um posto em Perdões, e R$ 10 mil para instalar cinco lacres é um valor irrisório comparado ao investimento total", argumentou. O deputado Chico Simões (PT), relator do projeto na FFO, defendeu os lacres, mas também é a favor da marcação química.

O deputado Sargento Rodrigues (PDT) criticou uma circular distribuída pelo Minaspetro a seus associados, que questionava a eficácia do projeto e conclamava os donos de postos a enviar cartas para os deputados pedindo a rejeição do PL 679/2003. "Isso é uma afronta à Assembléia, me sinto ofendido com essas insinuações", protestou o deputado. O autor do projeto, deputado Leonardo Moreira (PL), reiterou a importância dos lacres eletrônicos. "Minas perde anualmente cerca de R$ 500 milhões com a adulteração de combustíveis. Quem é contra o projeto com certeza está mal intencionado", afirmou o deputado, que disse estar sofrendo ameaças anônimas para evitar a aprovação do projeto.

Os deputados Doutor Viana (PFL), Célio Moreira (PL), Dinis Pinheiro (PL), Mauro Lobo (PSB) e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) também apoiaram o projeto com algumas correções. Já o deputado Sebastião Helvécio (PDT) foi mais cauteloso e defendeu o aprofundamento dos debates antes da aprovação da matéria. O presidente da comissão, deputado Ermano Batista (PSDB), também ficou dividido diante das ponderações das empresas. "Estamos diante de um quadro complicado, e talvez a solução para esse problema tenha que ser salomônica", disse. Já o deputado Irani Barbosa (PL) criticou a fiscalização sobre a venda de combustíveis. "Acabar com essa safadeza é fácil. O problema é que não se quer fiscalizar", disse.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Ermano Batista (PSDB), presidente; Doutor Viana (PFL); Chico Simões (PT); José Henrique (PMDB); Mauro Lobo (PSB); Sebastião Helvécio (PDT); Dalmo Ribeiro Silva (PSDB); Sargento Rodrigues (PDT); Weliton prado (PT); Adalclever Lopes (PMDB); Leonardo Moreira (PL); Dinis Pinheiro (PL); Ivair Nogueira (PMDB); Antônio Júlio (PMDB); e Célio Moreira (PL). Também estiveram presentes o consultor do Sindicom, César Guimarães; os representantes da Locktron Luiz Eduardo Dutra Rodrigues e Ibrahim Mokarzel Júnior; o diretor comercial da Ale Combustíveis, Vínícius Antunes Costa; e o promotor Marcial Vieira de Souza.

 

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