Secretários e deputados discutem parcerias
público-privadas
A discussão do projeto de lei que trata das
parcerias público-privadas (PPPs) trouxe à Assembléia Legislativa
autoridades do primeiro escalão do governo mineiro e especialistas
de renome nacional, além do presidente da Fiemg. A audiência pública
aconteceu nesta quinta-feira (30/10/03) em reunião conjunta das
comissões de Administração Pública e Fiscalização Financeira e
Orçamentária, a requerimento do deputado Chico Simões (PT). Treze
deputados participaram.
O projeto de lei 889/2003, do governador do Estado,
que trata das PPPs, é pioneiro dentre os Estados, e tramita
simultaneamente ao projeto federal. Sua finalidade é disciplinar a
contratação de obras públicas mediante um novo conceito, o de fluxo
de serviços futuros. Em vez de o Estado bancar a obra e pagá-la
durante a sua execução, recorre à iniciativa privada e passa a
amortizar o custo apenas depois que ela for concluída e entrar em
operação.
O projeto das PPPs enfrenta críticas de que seria
uma estratégia de privatização do Estado, transferindo
responsabilidades que lhe seriam inerentes e fontes potenciais de
recursos do poder público para o empresariado. O governo admite que
a proposta é uma saída para as dificuldades fiscais que o Estado
enfrenta, mas afasta a suspeita de tentativa de privatização. "O PPP
não será solução para tudo. Há coisas que somente o Estado poderá
fazer. A lei terá que estabelecer claramente os limites das
parcerias e fortalecer a governança dessas parcerias", disse Wilson
Brumer, secretário de Desenvolvimento Econômico.
O secretário de Planejamento e Gestão, Antônio
Anastasia, argumentou que há necessidade de alavancar investimentos
sem onerar o Tesouro, num Estado que tem a terceira economia do país
e ocupa o 11º lugar em índice de desenvolvimento humano. "Não temos
como investir nas proporções necessárias, mas também não podemos
tolerar a falta de infra-estrutura que impede o desenvolvimento",
disse Anastasia.
Empresariado e instituições financeiras podem
investir
O coordenador do Programa PPP do Governo Federal,
Fernando Haddad, disse que há medidas para assegurar a transparência
dos contratos, que seriam submetidos a consulta pública prévia. Em
Minas, seriam contempladas em primeiro lugar a construção de
rodovias, sistemas de saneamento público. No caso das rodovias, a
remuneração viria na forma de pedágios. Nos sistemas de saneamento,
na forma de tarifas.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado
de Minas Gerais (Fiemg), Robson Braga revelou que existem recursos
disponíveis entre o empresariado e nas instituições financeiras, que
estão em busca de investimentos em serviços, desde que com retorno
adequado. Andrade alertou que serão necessárias "regras claras e
cumprimento das leis e obrigações contratuais", e elogiou essa
iniciativa que coloca Minas na vanguarda. Brumer também argumentou
que "o investidor só virá quando as inseguranças e as incertezas
forem afastadas".
Haddad informou que, numa reunião recente, os 27
Estados apoiaram a iniciativa da lei federal, listando que suas
prioridades seriam energia, habitação, saneamento e rodovias. Para
ele, um projeto inovador como este exige a participação de
especialistas e condução firme pelo Executivo. Seu grupo analisou as
experiências dos países que já se abriram para as parcerias e que
inclusive corrigiram os erros cometidos no início. Alertou também
para o risco de que o Estado emita títulos da dívida para garantir
as contraprestações de fluxo de serviços contratadas para 10, 15 ou
20 anos. Isso contrariaria a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Deputados da oposição receiam que as parcerias
gerem endividamento futuro
O deputado Chico Simões (PT) avaliou as PPPs como
uma despesa continuada, cuja responsabilidade de pagamento será da
sociedade. Ele perguntou ao secretário Wilson Brumer se o conselho
gestor do PPP terá representantes dos contribuintes. Brumer afirmou
que a idéia é que o conselho seja formado apenas por integrantes do
governo, sem a participação da iniciativa privada. Como integrantes
do conselho, ele disse que a proposta é que o presidente seja o
próprio governador do Estado, e os demais integrantes sejam os
membros das Secretarias de Desenvolvimento Econômico, Planejamento,
Fazenda, Transportes, Meio Ambiente e Política Urbana, além da
Procuradoria Geral do Estado para dar um suporte jurídico às
parcerias.
Questionado pela deputada Jô Moraes (PC do B) sobre
a forma como serão feitas consultas públicas à sociedade, o
professor Carlos Ari Sundfeld disse que a idéia é colocar documentos
e estudos feitos sobre determinada parceria à disposição da
população para consulta pública durante certo período. O poder
público teria que levar em conta todas as sugestões e críticas
recebidas, mas não necessariamente acatá-las. Porém, deve dizer por
que não as acatou.
Quanto à transparência dos contratos, Fernando
Haddad disse que isso é crucial para o administrador público. Se ele
fizer parcerias mal feitas, fará poucas PPPs, disse ele. Haddad
relatou que foram estudadas oito experiências internacionais e todas
elas são marcadas pela transparência quanto ao custo - quanto do
orçamento será comprometido com a parceria. Dar publicidade a isso é
fundamental, disse ele.
Prioridades são rodovias e saneamento
Wilson Brumer disse que a idéia inicial do governo
é centrar parcerias em rodovias, obras de saneamento e habitação. Já
parcerias para construção e gestão de escolas, hospitais e
presídios, entre outros, ainda não estão muito claras. Anastasia
disse que, no caso dos presídios, a iniciativa privada poderia
construí-los e gerir atividades-meio.
O deputado Ermano Batista (PSDB) afirma que colheu
diversos subsídios para a elaboração do projeto do PPP mineiro,
entre eles a questão da participação ou não da iniciativa privada no
conselho gestor.
Presenças: Participaram da
reunião os deputados Ermano Batista (PSDB);. Jayro Lessa (PL), Chico
Simões (PT), Mauro Lobo (PSB), Rogério Correia (PT), Laudelino
Augusto (PT), José Henrique (PMDB), Olinto Godinho (PSDB) Sebastião
Navarro Vieira (PFL); e as deputadas Jô Moraes (PCdoB), Vanessa
Lucas (PSDB), Marília Campos (PT), e Maria José Haueisen (PT).
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