Deputados e Executivo querem lutar por verba para a saúde

O governo estadual e a Assembléia Legislativa se comprometeram, nesta quinta-feira (30/10/2003), a trabalhar para que...

30/10/2003 - 00:00
 

Deputados e Executivo querem lutar por verba para a saúde

O governo estadual e a Assembléia Legislativa se comprometeram, nesta quinta-feira (30/10/2003), a trabalhar para que seja efetivamente cumprida a Emenda à Constituição Federal nº 29, de 2000, que assegura a aplicação de 8,87% das receitas orçamentárias na área da saúde. Durante audiência pública da Comissão de Saúde da Assembléia, o secretário de Estado da Saúde, Marcus Pestana, e deputados da base aliada e da oposição trocaram críticas e elogios para, após cinco horas de reunião, concordarem que a saúde pública tem que ser encarada como uma questão política e humanitária, e não partidária.

Marcus Pestana garantiu que saúde, educação e segurança pública são temas absolutamente prioritários para o governador Aécio Neves. Segundo ele, as ações de saúde financiadas com recursos do Estado e gerenciadas pela sua secretaria cresceram 12,3% neste ano em comparação com o ano passado, e a previsão para 2004 é que o valor aumente 40,24% em relação a 2003, passando de R$ 580 milhões para R$ 813,4 milhões. Mesmo assim, esses recursos não serão suficientes para que o Estado cumpra a Emenda 29.

Obediência à Emenda 29 é polêmica

A secretária adjunta de Planejamento e Gestão, Renata Vilhena, alegou que a emenda precisa ser regulamentada por lei complementar, e que por isso seu cumprimento ainda não é obrigatório. A opinião foi compartilhada pelo consultor da Advocacia-Geral do Estado, Sérgio Pessoa Castro. Porém, o deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) disse que essa é apenas uma justificativa de quem não deseja cumprir a legislação. "Como é possível dizer que a saúde é prioridade absoluta para o Estado se o governo não aplica nem o mínimo constitucional? Não podemos admitir isso", criticou o parlamentar que, entre abril e junho de 2000 ocupou o cargo de Secretário de Estado da Saúde do governo Itamar Franco.

O deputado Chico Simões (PT) também questionou a desobediência à Emenda 29. "Os recursos para a saúde não dependem de sacrifícios de quem quer que seja. Trata-se de uma obrigação legal, inegociável", enfatizou. Ele criticou o Tribunal de Contas do Estado e a própria Assembléia, que aprovaram as contas do governador, mesmo constatando que a verba para a saúde não foi aplicada como deveria. "A sociedade é tolerante com isso, mas não perdoa um cidadão que rouba uma coxinha para comer", disse o deputado.

Já os deputados Carlos Pimenta (PDT) e Zé Maia (PSDB) elogiaram a gestão do secretário frente à Pasta da Saúde. Pimenta relatou a realidade precária do Norte de Minas e Jequitinhonha, onde dezenas de cidades sequer têm condições de oferecer condições básicas de atendimento às suas populações. Pimenta também manifestou seu desejo de que a secretaria tenha todas as condições de garantir mais verbas para a saúde.

Os deputados Miguel Martini (PSB) e Irani Barbosa (PL) chegaram a sugerir que o Poder Judiciário abrisse mão de parte de seu orçamento para 2004 para que esses recursos fossem aplicados na saúde. Martini lembrou que o Tribunal de Contas requereu aumento de 18% para o ano que vem, o Tribunal de Justiça, 24%, e o Ministério Público, 46,9%. "Que todos os Poderes façam sua cota de sacrifício para que haja mais dinheiro para a saúde, afirmou.

Verbas não podem ser remanejadas

A audiência pública realizada pela Comissão de Saúde contou também com a participação de representantes da Secretaria de Estado da Fazenda e do Ministério Público. Simão Cirineu Dias, secretário adjunto da Fazenda, apresentou gráficos e tabelas para mostrar que 93% das receitas líquidas do Estado têm suas despesas obrigatoriamente vinculadas, ou seja, não podem ser remanejadas para outras áreas. Ele citou, por exemplo, que R$ 2,1 bilhões estão comprometidos com amortização de juros e encargos da dívida. "Não podemos reduzir o pagamento da dívida porque nossa receita conta com recursos da União. Se ficarmos inadimplentes, significa que teremos verbas retidas pelo governo federal", explicou.

A promotora de Justiça Josely Ramos Pontes acusou o governo de incluir, no orçamento da saúde para 2004, ações que não são de competência da Secretaria de Saúde, como licenciamento ambiental, obras de saneamento básico e tratamento de esgoto. "Trata-se de um grande retrocesso", avaliou o presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Cosems), Luiz Felipe Almeida Caram Guimarães. Chico Simões também criticou o governo por isso.

O diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde (Sindsaúde) e membro do Conselho Estadual de Saúde, Renato Barros, também participou da audiência e lembrou que o Ministério Público vai acionar o Estado judicialmente para que a Emenda 29 seja cumprida. "O Estado está dizendo claramente que não vai cumprir a legislação, está provocando o Poder Judiciário", afirmou o diretor. Ele denunciou ainda que diversos hospitais mineiros estão precisando trocar materiais entre si para continuar operando.

Secretário apresenta ações do Executivo

Pestana procurou, no entanto, mostrar que o governo não está parado. Ele citou ações como o pregão centralizado para compra de medicamentos, que trouxe uma economia superior a 30%, e a duplicação na produção de medicamentos pela Fundação Ezequiel Dias (Funed). Lembrou também o lançamento de programas, como o Viva Vida, que neste ano está investindo mais de R$ 12 milhões para reduzir a mortalidade infantil em 25% até 2007, e o Programa de Fortalecimento e Melhoria da Qualidade dos Hospitais do SUS/MG (Pró-Hosp), que contará com R$ 17 milhões por ano.

No final da audiência pública, o deputado Fahim Sawan (PSDB) ressaltou a importância histórica da reunião e parabenizou o presidente da comissão, deputado Ricardo Duarte (PT), pela condução dos trabalhos. Ele elogiou também o governo estadual pela disposição de discutir abertamente os números do orçamento. Ricardo Duarte também comentou que o debate foi extremamente rico. Ele se mostrou otimista com o interesse manifestado pelo deputado Miguel Martini de alterar a proposta orçamentária para 2004, de forma que sejam garantidos para a saúde os recursos orçamentários previstos em lei.

Requerimentos - A Comissão de Saúde aprovou dois requerimentos do deputado Fahim Sawan. O primeiro solicita o agendamento de uma visita de representantes da comissão, da Frente Parlamentar da Saúde de Minas Gerais e do governo do Estado ao Congresso Nacional, com o objetivo de sensibilizar os parlamentares de Brasília para a aprovação da lei complementar que regulamentará a Emenda 29. O segundo pede que seja enviado um ofício à Frente Parlamentar Nacional de Saúde e aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, solicitando o apoio para a aprovação da lei complementar.

Presenças - Compareceram à reunião os deputados Ricardo Duarte (PT), presidente; Fahim Sawan (PSDB), vice; Chico Simões (PT); Adelmo Carneiro Leão (PT); Zé Maia (PSDB); Carlos Pimenta (PDT); Miguel Martini (PSB); Irani Barbosa (PL); Antônio Carlos Andrada (PSDB); Jô Moraes (PCdoB); Alberto Pinto Coelho (PP); Weliton Prado (PT); Jayro Lessa (PL); Leonídio Bouças (PTB); Ermano Batista (PSDB); e Paulo Piau (PP). Além dos convidados citados na matéria, participou também a procuradora de Justiça e coordenadora do Centro de Apoio Operacional do Ministério Público de Minas Gerais, Ana Ivanete dos Santos.

 

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