Comissão discute oferta de ensino religioso confessional

A possibilidade de tornar obrigatória a oferta do ensino religioso confessional nas escolas da rede pública estadual ...

29/10/2003 - 00:00
 

Comissão discute oferta de ensino religioso confessional

A possibilidade de tornar obrigatória a oferta do ensino religioso confessional nas escolas da rede pública estadual foi discutida em audiência pública da Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia, nesta quarta-feira (29/10/2003). A reunião foi convocada a pedido dos deputados Laudelino Augusto, Padre João e Weliton Prado, todos do PT, com o objetivo de subsidiar o aperfeiçoamento do Projeto de Lei (PL) 43/2003, do deputado Miguel Martini (PSB).

O texto original do projeto prevê que todas as escolas estaduais serão obrigadas a oferecer a disciplina em sua forma confessional, desde que o credo relacionado tenha representação no Conselho Estadual de Ensino Religioso. A matrícula na disciplina, no entanto, permaneceria facultativa. "Em todo o País há grandes esforços no sentido de renovação do conceito de ensino religioso, de sua prática pedagógica, da definição de seus conteúdos, da sua natureza e da metodologia adequada ao universo escolar", justifica o autor do projeto.

Na Comissão de Constituição e Justiça, o PL 43/2003 foi discutido com professores e religiosos e depois recebeu um substitutivo que altera seu conteúdo. Entre outras alterações, o novo texto proíbe a abordagem confessional no ensino religioso, que deverá então tratar da religiosidade em seus aspectos éticos, filosóficos e antropológicos. O deputado Miguel Martini (PSB) garantiu que a sua motivação para as discussões é regulamentar o ensino religioso: "Pretendo ouvir a opinião de entidades religiosas que contribuirão para o aprimoramento do projeto, pois quanto maior for a discussão, maior a possibilidade de acertar", concluiu.

É preciso abrir espaço para a formação integral dos alunos

O arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora e representante de Minas Gerais na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Eurico dos Santos Veloso, disse que, ao longo dos 20 anos em que lecionou ensino religioso, percebeu a vontade e a aceitação dos alunos pela educação integral. Segundo ele, isso é um direito do aluno e um dever do Estado: "Há urgência do ensino de qualidade que permita que cada aluno desenvolva suas capacidades como ser humano, de maneira integrada com a sua realidade, como está previsto na Constituição Federal", afirma.

O presidente do Conselho Estadual de Ensino Religioso (Coner), pastor Antônio Maurílio Guimarães, alertou para o momento histórico que estamos vivendo, a partir da formação de parcerias entre o Estado e as entidades civis para discutir um projeto de lei tão importante. Ele afirma que essa discussão poderá dar uma resposta aos anseios dos profissionais de ensino religioso, por um reconhecimento do seu valor. "Com a capacitação e valorização do profissional, os alunos concluirão os estudos dotados de condição para fazer a sua opção religiosa de maneira consciente", disse.

Maria Lúcia Pinto Romam, membro do Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso e coordenadora de Formação de Professores da Rede Pública Estadual, disse que é necessário haver pessoas qualificadas e com maior tempo de trabalho em uma mesma escola. "A rotatividade dos professores prejudica a excelência do conteúdo", afirmou.

O representante da Congregação dos Salesianos, padre Wolfgang Gruen, alertou para o fato de que "ainda não chegamos ao ensino religioso que não se prenda à religião e sim à religiosidade". Ele afirma que, ao dispor que o ensino religioso estará disponível na forma confessional, o projeto colide com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que determina o oferecimento de um ensino religioso que respeite a diversidade cultural do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. "Devem ser colocados no mesmo nível aqueles que professem diferentes religiões; que professem religiosidade, sem religião; e até mesmo os que combatem as religiões (ateus)", salienta.

Projeto pode receber modificações

A integrante da Comissão de Ensino Religioso da CNBB, Anísia de Paula Figueredo, apresentou um estudo que fez sobre o substitutivo nº 1, apresentado na Comissão de Constituição e Justiça, e algumas considerações sobre os termos empregados, o conteúdo de alguns artigos e a necessidade da apresentação de uma emenda que estabeleça a exigência da capacitação dos profissionais de ensino religioso. Anísia de Paula sugeriu a criação e o aperfeiçoamento de cursos de licenciatura de ensino religioso que possibilitem a formação básica, específica e pedagógica dos professores.

O professor Cícero de Souza, representante do Sindicato Unificado dos Servidores da Educação (Sind-UTE/MG), endossou as palavras de Anísia de Paula no que tange à qualidade da formação dos professores e questionou os critérios utilizados, pela Secretaria de Estado da Educação, na resolução que designa professores para ministrar o ensino religioso. Ele contou que professores que atuavam, há anos, na disciplina e que possuíam capacitação e formação adequada foram classificados nos últimos lugares da lista de designação, e, em contrapartida, outros inexperientes ocuparam os primeiros lugares. "O projeto deve atentar para esta normatização visando atender os interesses dos profissionais", disse.

O deputado Laudelino Augusto falou da importância de corrigir os equívocos do projeto para que não seja sancionada uma "lei caduca que trata de assuntos ultrapassados há muito tempo". Segundo ele, ouvir as instâncias responsáveis é fundamental para preparar um segundo substitutivo que atenda à concepção de educação prevista na Constituição Federal, e tire o ensino religioso da marginalidade. O deputado Weliton Prado concordou com Laudelino Augusto sobre tirar o ensino religioso da marginalidade. Para isso, seria necessário fazer concurso público para o cargo de professor religioso. "Esses professores sempre são prejudicados", afirmou o deputado. A deputada Maria Tereza Lara (PT) reforçou a importância do ensino religioso "como espaço de construção, de família, de vivência de amor a si mesmo e ao outro".

O deputado Gilberto Abramo(PMDB) falou sobre sua preocupação em relação à influência que os professores religiosos podem causar nas crianças. Segundo o deputado, a escolha da religião deve ser feita pela pessoa ao se tornar adulta. "Tenho receio de que o professor tente induzir o aluno à sua religião e vá contra outras", ressaltou Gilberto Abramo.

O assessor de Relações Comunitárias e Interinstitucionais da Secretaria de Estado da Educação, Arnaldo Pena, afirmou que a Secretaria reconhece a importância do ensino religioso e vai elaborar normas para incluir essa matéria nas escolas estaduais. Mas, segundo ele, "não havendo curso específico para o cargo, fica difícil fazer um concurso público".

Presenças - Participaram da reunião os deputados Adalclever Lopes (PMDB), presidente, Leonídio Bouças (PTB), Sidinho do Ferrotaco (PSDB), Weliton Prado (PT), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), Célio Moreira (PL), Miguel Martini (PSB), Padre João (PT), Gilberto Abramo (PMDB), Laudelino Augusto (PT), e as deputadas Ana Maria Resende (PSDB) e Maria Tereza Lara (PT). Além dos deputados participaram o assessor de Relações Comunitárias e Interinstitucionais da Secretaria de Estado da Educação, Arnaldo Pena, o Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora e Representante de Minas Gerais na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Eurico dos Santos Veloso; o presidente do Conselho Estadual de Ensino Religioso, pastor Antônio Maurílio Guimarães; o membro da Congregação dos Salesianos, Wolfgang Gruen; a representante do Departamento Arquidiocesano de Ensino religioso (Daer), Maria Lúcia Pinto Romam; e a integrante da Comissão de Ensino Religioso da CNBB, Anísia de Paula Figueiredo.

 

 

 

 

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