Situação da Santa Casa é de insolvência, apuram
deputados
Além de todas as suas dificuldades com credores e
fornecedores, a Santa Casa de Belo Horizonte passa a enfrentar uma
greve de funcionários por atraso salarial a partir da próxima
segunda-feira, e a qualquer momento pode ser executada a ordem
judicial de retirada dos tomógrafos fornecidos pela empresa Siemens,
por causa de uma dívida de R$ 3 milhões não paga. Essas informações
foram prestadas pelo sindicalista Roberto Verônica e pela diretora
clínica da Santa Casa, Maria Nunes Álvares, aos deputados da
Comissão Especial da Santa Casa, em reunião realizada na tarde desta
quarta-feira (15/10/2003).
"Se os equipamentos forem retirados, só nos restará
estender faixas negras na fachada do prédio e fechar o hospital",
disse o médico Hermann von Tiesenhausen, presidente da Cooperativa
dos Médicos da Santa Casa. A grave situação exposta aos deputados
contrasta com o panorama de razoável estabilidade apresentado pelos
diretores que compareceram à reunião do dia 1º de outubro.
O relator da comissão, deputado Roberto Carvalho
(PT), informou que a Siemens foi ao Hospital São Vicente, de Ubá, e
retirou os equipamentos com oficial de Justiça às seis da tarde de
uma sexta-feira. Carvalho receia que a mesma estratégia possa ser
usada com a Santa Casa. Disse também que a situação do Hospital da
Baleia era boa no final do ano passado, mas que o atual governo
estadual cortou três convênios e desestabilizou a instituição, que
teve que fechar seu pronto atendimento. Para Roberto Carvalho, "a
única saída para o soerguimento da Santa Casa é fazer uma
radiografia da dívida para propor o seu perdão".
O deputado Neider Moreira (PPS) enxerga outra
alternativa: um reajuste imediato nas tabelas do Sistema Único de
Saúde (SUS) que compense a sua defasagem crônica. Ao ser informado
de que o SUS paga R$ 2,04 por uma consulta de clínica básica, e que
a diária para uma pessoa internada é de R$ 7,80, o deputado
classificou a tabela de "ridícula" e cobrou do Ministério Público
uma atitude contra a tabela. "Fico triste de ver uma instituição
centenária como a Santa Casa chegar a esse ponto. Até o final do
ano, uma enormidade de hospitais vai fechar. Estamos no limite. É a
pior crise da saúde pública que o Brasil já viveu", desabafou
Moreira.
Hospital deixou de ser o grande formador de bons
médicos
A diretora clínica Maria Álvares trabalha há 32
anos na Santa Casa. Para ela, o médico deixou de ser ouvido e de ser
considerado o principal recurso do hospital. "Insatisfeitos, nossos
médicos vão buscar a sobrevivência em outros lugares. Nossos
melhores funcionários também", informou. Tiesenhausen acrescenta
que, com a situação de penúria, a Santa Casa deixou de ser a grande
formadora de bons médicos que sempre foi. "A fome aguda gera
revolta, a fome crônica gera subserviência. Por essa razão fizemos
uma greve há três anos", disse ele. "No dia em que o SUS deixar de
ser o balizador dos procedimentos de saúde, estaremos todos
perdidos", afirmou.
A deputada Jô Moraes (PCdoB) identifica a origem do
descaso com a saúde pública no governo Fernando Collor. Ela
apresentou requerimento, aprovado, para convocar, na próxima
reunião, os gestores das três esferas governamentais: um
representante do Ministério da Saúde; o secretário de Estado da
Saúde, Marcus Pestana, e o secretário municipal de Saúde, Helvécio
Magalhães. Roberto Carvalho adiantou que a Prefeitura de Belo
Horizonte está em dia com os repasses para a Santa Casa e o Hospital
da Baleia.
Presenças - Participaram a
deputada Jô Moraes (PCdoB), presidente; os deputados Roberto
Carvalho (PT), relator; Neider Moreira (PPS); Roberto Ramos (PL).
Além dos convidados citados na matéria, participou também o
representante do Sindicato dos Médicos, Marcelo Mascarenhas.
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