Comissão do Trabalho debate terceirização no setor energético

Nos últimos sete anos, ocorreram 58 acidentes de trabalho fatais na Cia. Energética de Minas Gerais (Cemig). Dessas m...

14/10/2003 - 19:47
 

Comissão do Trabalho debate terceirização no setor energético

Nos últimos sete anos, ocorreram 58 acidentes de trabalho fatais na Cia. Energética de Minas Gerais (Cemig). Dessas mortes, 16 foram de funcionários da empresa e 42 de empregados das empreiteiras que prestam serviços à estatal. O número de funcionários próprios da Cemig caiu de 16 mil para 11 mil em oito anos, e o custo dos terceirizados subiu de 20% para 47% da folha no mesmo período. Esses dados foram apresentados na reunião da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social da Assembléia de Minas, realizada nesta terça-feira (14/10/2003), no auditório da Cemig, como parte da demonstração de que os terceirizados são mal treinados, mal remunerados e prestam um serviço de pior qualidade, comprometendo a imagem da empresa.

A reunião foi aberta por seu presidente, deputado Alberto Bejani (PTB), que passou a presidência à vice, deputada Marília Campos (PT), para conduzir o debate sobre a terceirização de mão-de-obra no setor energético. Antes de se retirar, Bejani anunciou que já possui as assinaturas necessárias para a instalação de uma CPI que investigue atos ilícitos cometidos por pessoas da direção da empresa. "São atos que enriquecem muita gente. Levei ao conhecimento do ex-governador Itamar Franco durante sua gestão, e nenhuma providência foi tomada. Tenho documentos que comprovam que essas pessoas deveriam estar na cadeia", afirmou o deputado, que preferiu não citar nomes.

A deputada Marília Campos anunciou que inúmeras empresas, como a Petrobras e a Cia. Vale do Rio Doce, estão revertendo seus processos de terceirização, por força de decisão judicial, e abrindo concurso para suprir seus quadros. "A terceirização é uma fraude ao contrato de trabalho, um retrocesso nos direitos trabalhistas", afirmou a deputada. "A sociedade civil é a primeira interessada numa reforma trabalhista que harmonize as relações capital/trabalho", acrescentou.

Furnas está absorvendo 2.200 empregados terceirizados

Rodrigo Campos, representante de Furnas, relatou uma decisão do Tribunal de Contas da União que obrigaria a empresa a eliminar seu quadro de terceirizados até 11 de novembro próximo. "Teríamos que demitir 2.200 contratados, muitos deles com 10, 15 e até 20 anos de serviço e tão leais a Furnas quanto os efetivos. Negociamos com o TCU um processo de efetivação dos que estavam lá antes de junho de 1990 e fizemos outros ajustes para absorver os outros num quadro suplementar. Dos 7.500 inscritos no concurso, cerca de mil são dos quadros das empreiteiras. Creio que assim conseguimos pacificar a questão", informou Campos.

Marcelo Correia, do Sindieletro, disse que o número atual de 3,5 milhões de horas-extras justificaria a contratação de 1.300 empregados, mas que o quadro da Cemig vem diminuindo. A própria empresa, que paga R$ 792,00 a um leiturista, recomenda a contratação de terceirizados por R$ 330,00. Um eletricista, que custa R$ 879,00 à empresa, é terceirizado por R$ 350,00. Apesar dos esforços relatados por Gustavo Charlemont, do sindicato patronal das empreiteiras, de treinamento de seus empregados, a estatística de acidentes, mutilações e invalidez é de quatro terceirizados para um efetivo da Cemig.

Maria Helena Guthier, procuradora do Ministério Público do Trabalho, criticou a contratação de trabalhadores temporários para tarefas permanentes, e o recurso ao "estágio" para o Centro de Atendimento ao Cliente, onde 82% dos atendentes são contratados como estagiários. "Eles são universitários de vários cursos e não recebem supervisão profissional, nem fazem complemento curricular. Ao contrário, sujeitam-se a um trabalho estressante e penoso, que muitas vezes os incapacitam prematuramente para o mercado de trabalho", disse Guthier.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Alberto Bejani (PTB), presidente; e Marília Campos (PT), vice. Além das autoridades mencionadas no texto, participaram Carlos Calazans, delegado regional do Trabalho; Agenor de Queiroz, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos; João Márcio Siqueira, chefe do gabinete do presidente da Cemig; e Carlos Otávio Duarte, fiscal da DRT

 

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