Novo debate sobre projetos das taxas terá a presença de secretário

Deputados das Comissões de Fiscalização Financeira e Orçamentária e de Constituição e Justiça da Assembléia promovera...

14/10/2003 - 19:13
 

Novo debate sobre projetos das taxas terá a presença de secretário

Deputados das Comissões de Fiscalização Financeira e Orçamentária e de Constituição e Justiça da Assembléia promoveram, nesta terça-feira (14/10/2003), o primeiro grande debate com convidados sobre os seis projetos de lei enviados pelo Executivo que criam e atualizam taxas no Estado. O secretário da Fazenda, Fuad Noman Filho, não compareceu, o que provocou a irritação de diversos deputados que desejavam travar um debate político sobre o tema com o representante do governo. O assessor da Subsecretaria da Receita Estadual, Ricardo Luiz de Oliveira Souza, representou o secretário e fez uma defesa dos projetos sob o ponto de vista técnico. A reunião, que teve início pela manhã, durou mais de cinco horas e foi acompanhada por cerca de 30 deputados.

Novo debate - Ao final da reunião, foi aprovado requerimento dos deputados Rogério Correia (PT), Jayro Lessa (PL) e Adalclever Lopes (PMDB) solicitando novo debate, desta vez com o secretário Fuad Noman. Foi atendido o pedido do líder do Bloco Parlamentar Social Progressista (BPSP), deputado Antônio Carlos Andrada (PSDB), que solicitou que o secretário fosse convidado e não convocado, como queriam os autores do requerimento. A data ainda será agendada.

O deputado Mauro Lobo (PSB), relator do Projeto de Lei (PL) 1.078/2003, que cria a Taxa de Serviço Potencial de Extinção de Incêndio, na Comissão de Fiscalização Financeira, comentou a proposição, considerada uma das mais polêmicas. Segundo ele, sua análise deverá se pautar por tentar minimizar o impacto sobre pessoas físicas e aquelas de baixa renda, tornar efetiva a cobrança e criar condições para que o Estado atenda melhor a sociedade.

Assessor defende redução do déficit para 2004; Sindifisco critica projetos

Ricardo Luiz de Oliveira e Souza, da Receita Estadual, defendeu os PLs 1.078 a 1.083, de 2003, alegando que o objetivo do governo é reduzir o déficit orçamentário de R$ 1,4 bilhão previsto para 2004. Ele negou que a Taxa de Serviço Potencial de Extinção de Incêndio seja inconstitucional, como alegou o deputado Weliton Prado. Segundo ele, o Supremo Tribunal Federal (STF) já decidiu pela sua legalidade.

O assessor apresentou dados comparativos com outros Estados para justificar as propostas de aumento na carga tributária dos mineiros. Ele citou, por exemplo, que a taxa de incêndio já é cobrada no Rio Grande do Sul, Pernambuco, Ceará, Espírito Santo, Alagoas e outros Estados. Quanto à atualização de taxas, ele alegou que as cobranças em Minas Gerais estão defasadas em relação a outras unidades da Federação.

Sindifisco questiona - Antônio de Pádua, presidente do Sindifisco, que reúne os fiscais, fez críticas a aspectos específicos dos projetos, além de classificar como incoerência do governo cobrar por taxas que renderiam R$ 200 milhões a mais e, por outro lado, conceder incentivos fiscais que equivaleriam a três vezes esse valor. Ele se referiu a dois incentivos: a redução do ICMS de 18% para 12% sobre operações com óleo diesel; e a adesão, a partir de fevereiro deste ano, a convênio do Confaz (que reúne os secretários de Fazenda dos Estados) que autoriza os fabricantes de veículos a usar tarifa interestadual para venda direta a consumidor final situado em outro Estado. "Para se igualar a governos anteriores, só falta conceder anistia fiscal", ironizou.

Antônio de Pádua ponderou que a análise dos projetos não pode ficar restrita à cobrança de uma taxa específica; é preciso se debruçar sobre o sistema como um todo, já que o cidadão paga o conjunto dos tributos. Na avaliação dele, só existe um contribuinte para as taxas alteradas ou criadas pelo Executivo: o cidadão, a pessoa física. Isto porque, no caso das empresas, a elevação da carga tributária será, fatalmente, repassada para os consumidores. Esse raciocínio foi, depois, contestado pelo relator do PL 1.078/2003 na Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária, deputado Mauro Lobo (PSB). Na opinião do parlamentar, o repasse dos custos das empresas para o consumidor não seria automático, pois o que determina preço de venda é o mercado.

Com relação, inclusive, à taxa de incêndio, o presidente do Sindifisco estima contestação judicial à sua implantação. Isto porque o pressuposto para cobrá-la não poderia ser o risco de incêndio, mas sim a prestação pelo serviço de combate ao incêndio - algo que já ocorre. Quanto à redução, de 2% para 1%, da alíquota de licenciamento dos veículos destinados exclusivamente à locação, Antônio de Pádua afirmou que isso é "leilão de recursos públicos", "é guerra fiscal".

Minas é recordista - As incoerências da política de governo citadas pelo presidente do Sindifisco foram reforçadas com números que apresentou sobre cobrança de taxas. Segundo ele, a arrecadação com a cobrança, em Minas, chegaria à soma da receita de 23 Estados da Federação (reunindo as regiões Norte, Nordeste, Sul e Centro-Oeste). "Não é uma política eventual; é uma política estrutural", destacou. De acordo com o sindicato, a arrecadação de taxas em Minas, até julho, foi de R$ 274 milhões, contra R$ 247 milhões de outros 23 Estados. Quando a cobrança de taxas estaduais começou a ser enfatizada, em 1997, a receita de Minas representava 3,4% da receita nacional com tributos desse tipo. Agora, em 2003, esse percentual subiu para 18,9%, concluiu.

Corpo de Bombeiros e Polícia Militar justificam alterações e criação de taxas

O chefe da 4ª Seção do Estado Maior do Corpo de Bombeiros de Minas, Cláudio Vinício Serra Teixeira, fez um diagnóstico da situação atual das corporações. Segundo ele, há 4.198 bombeiros em todo o Estado, atuando em 32 municípios em 44 unidades de resposta operacional. Com essa estrutura, afirmou, 10 milhões dos 17 milhões de habitantes do Estado estão descobertos pelos bombeiros. O oficial disse que há casos em que as unidades precisam se deslocar até 450 quilômetros para atender a um chamado. Devido a essa deficiência, muitas vezes as emergências são atendidas por bombeiros do Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal.

Teixeira afirmou que o ideal seria que 111 cidades mineiras contassem com unidades do Corpo de Bombeiros e que o orçamento para custeio chegasse a R$ 15 milhões, contra os R$ 7 milhões atuais. Questionado sobre o quanto seria arrecadado com a taxa de incêndio, ele estimou o valor em R$ 30 milhões, ou seja, duas vezes o que ele considera ideal.

Para dar uma idéia da situação atual vivida pela corporação, o oficial disse que hoje só existem quatro escadas mecânicas, sendo que a altura máxima atingida pela melhor delas chega a 37 metros. Segundo ele, para um trabalho eficiente no Estado atualmente seriam necessárias 32 plataformas elevatórias de 50 metros, ao custo unitário de US$ 3, 4 mil.

Palavra da PM - O chefe da 6ª Seção do Estado Maior da PM, tenente-coronel Cleunício Alves Ferreira, apresentou justificativas para a criação e a atualização de taxas. Alegou que elas podem ser cobradas em função da "divisibilidade dos serviços", quando interesses particulares se sobrepõem à atividade pública. A criação da taxa relativa a informações e estatísticas de segurança pública é um exemplo disso, afirmou, acrescentando que ela vai onerar apenas alguns segmentos específicos. Da mesma forma, a atualização da taxa de segurança cobrada em eventos particulares foi necessária, a fim de incluir custos com viaturas e com vistoria técnica. Hoje, ela leva em consideração apenas os custos com os recursos humanos, alegou Ferreira.

No que diz respeito à cobrança de cópia de boletim de ocorrência, em caso de acidente sem vítima, o tenente-coronel enfatizou que a PM não é obrigada a atender a esse tipo de chamado. O que ocorre, acrescentou, é que muitas vezes a corporação é solicitada para efeitos de seguro. Outros Estados da Federação também já cobrariam pela prestação do serviço. O mesmo argumento dos interesses particulares foi usado para comentar as cobranças por captura de animais, escolta de valores, remoção de veículo particular apreendido e apresentação de agremiação musical (da banda da PM em eventos particulares).

Representante do Judiciário sugere revisão de algumas taxas

O juiz corregedor superintendente dos Serviços Notariais de Registro do Estado, José Antônio Braga, apresentou sugestões de mudança nos projetos do governo. Ele se referiu aos PLs 1.078/2003 (atualiza valores da taxa judiciária), 1.081/2003 (que reajusta as taxas de procedimentos feitos pela Justiça Estadual de 1º e 2º graus) e 1.083/2003 (que atualiza a tabela dos emolumentos devidos aos serviços extrajudiciais).

Entre as sugestões apresentadas está a de reduzir em 20% a taxa judiciária em vigor em 1996, para casos de família (divórcio, pensões etc). Originalmente, o projeto do governo eleva o tributo em mais de 70%. Esse tributo é cobrado sobre o valor da causa, usando como referência a Unidade Fiscal do Estado de Minas Gerais (Ufemg), fixada em R$ 1,249. Quanto às custas judiciais, o juiz corregedor sugeriu que elas sejam reajustadas entre 30% e 40%, ao contrário dos 74% do projeto original. Em contrapartida, José Antônio Braga estimou que o Tribunal de Justiça poderia passar a cobrar mais por recursos apresentados em 2ª instância. Atualmente, a cobrança recai sobre dois ou três recursos, mas ela poderia se estender a 30 ou mais.

Deputados pediram cancelamento da reunião devido à ausência do secretário

A reunião desta terça-feira aconteceu atendendo a requerimento dos deputados Chico Simões e Weliton Prado, ambos do PT. Chico Simões afirmou, em sua intervenção inicial, que o povo brasileiro não tem mais como suportar novos impostos, uma vez que tem dificuldades até mesmo em custear o seu próprio sustento. Segundo o deputado, o próprio governador sempre diz que não se pode aumentar a carga tributária no País, porém pratica o inverso no Estado. Ele criticou ainda o regime de urgência para a tramitação dos projetos, o que limita a discussão. Já Weliton Prado classificou as propostas como uma "irresponsabilidade do governador Aécio Neves", pois elas penalizam o setor produtivo e os contribuintes de uma forma geral. "Minas tem a mais pesada carga tributária do País. Com esse projeto, muitas empresas poderão deixar o Estado", afirmou.

Cancelamento - O deputado Jayro Lessa (PL), depois de constatar a ausência do secretário da Fazenda, apresentou um requerimento para que a reunião fosse cancelada. Disse que era uma falta de respeito o não-comparecimento, questionando ainda que os recursos arrecadados irão para o caixa único do Tesouro, não sendo revertidos em benefícios para a população. Ele recebeu o apoio do deputado Durval Ângelo (PT). Porém, o presidente da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária, deputado Ermano Batista (PSDB), alegou que o requerimento versa sobre matéria já vencida e rejeitou-o. No entanto, o parlamentar garantiu, sem precisar a data, que Fuad Noman Filho virá à Assembléia para prestar esclarecimentos sobre os projetos.

O deputado Rogério Correia fez críticas à postura do governador, que concede incentivos fiscais da ordem de R$ 1,1 bilhão e prevê uma arrecadação muito menor com os projetos que criam taxas no Estado. Ele se queixou ainda da falta de disposição do governo em discutir as matérias com a sociedade. Sua opinião foi contestada pelo líder do governo na Assembléia, deputado Alberto Pinto Coelho (PP), que negou que o governador esteja descumprindo qualquer acordo feito no sentido de abrir o tema para debate.

Enquanto alguns deputados defendem, outros criticam o Executivo

Diversos parlamentares fizeram intervenções, alguns para criticar e outros para elogiar o Executivo. O deputado Antônio Carlos Andrada afirmou que os questionamentos foram pontuais e que os projetos podem ser aprimorados, não havendo obstáculos intransponíveis. Ele condenou o que classificou como "pré-julgamento do governo", feito pelos líderes da oposição, dizendo ainda que o secretário da Fazenda e todo o governo estão abertos ao debate. Já o líder da Minoria, deputado Chico Simões, chamou de "tarifaço" os seis projetos, afirmando que seu objetivo é apenas aumentar a receita, sem a devida contrapartida de serviços.

O presidente da Comissão de Constituição e Justiça, deputado Bonifácio Mourão (PSDB), respondeu a questionamentos sobre a constitucionalidade dos projetos das taxas - o PL 1.078, que cria a taxa de incêndio, já foi analisado pela CCJ. Ele afirmou que a comissão não atropelou a lei ou a Constituição, mas acatou jurisprudência sobre o assunto, citando decisões do Tribunal de Justiça de Minas e do Supremo Tribunal Federal. Já o presidente da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária, deputado Ermano Batista, concordou com Mourão, destacando que há sustentabilidade legal para a cobrança de taxas.

Os outros deputados que usaram a palavra foram Adalclever Lopes (PMDB), Zé Maia (PSDB), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), Doutor Viana (PFL), Antônio Júlio (PMDB), Leonardo Moreira (PL), Domingos Sávio (PSDB), Gilberto Abramo (PMDB) e Dinis Pinheiro (PL).

Presenças - Participaram da reunião, além dos convidados e deputados citados na matéria, os deputados Paulo Piau (PP), Leonardo Quintão (PMDB), Paulo Cesar (PFL), Sebastião Navarro Vieira (PFL), Irani Barbosa (PL), Gustavo Valadares (PFL), José Henrique (PMDB), Sargento Rodrigues (PDT), Elmiro Nascimento (PFL) e Neider Moreira (PPS), além das deputadas Lúcia Pacífico (PTB) e Jô Moraes (PCdoB).

 

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