Cafeicultura familiar do Sul é ameaçada por grandes
empresas
A cafeicultura familiar no Sul de Minas está
ameaçada pela agricultura empresarial. O alerta foi feito pelo
presidente da Certificadora Sapucaí de Produtos Orgânicos, Sérgio
Pedino, durante audiência pública da Comissão Especial da
Cafeicultura Mineira, realizada nesta segunda-feira (13/10/2003), em
Machado. Segundo Pedino, a cafeicultura praticada em larga escala,
com colheita mecanizada e utilização intensiva de insumos
importados, pode representar uma ameaça aos pequenos produtores do
Sul de Minas, que não têm como competir com o produto de baixo custo
das grandes fazendas do cerrado mineiro. "Vejo com preocupação
grandes empresas que ocupam áreas de relevo suave e praticam a
agricultura mecanizada", disse.
De acordo com Pedino, a produção familiar do Sul de
Minas compete em condições desiguais com o café das grandes fazendas
de outras regiões do Estado. Isso porque o relevo acidentado
encarece a produção, já que a colheita não pode ser mecanizada.
Mesmo com as condições adversas, o café do Sul de Minas é
considerado de boa qualidade e encontra boa recepção no mercado
internacional. É o que atesta Luiz Adalto de Oliveira, presidente da
Associação dos Pequenos Produtores de Poço Fundo. A entidade
congrega 75 famílias que produzem café orgânico, com selo de
qualidade que garante a exportação do produto para Europa e
Japão.
A busca pela qualidade, aliás, foi lembrada por
Adalto como forma de enfrentar a concorrência com os grandes
produtores. "Como não somos os maiores, temos que ser os melhores",
justificou. A opinião foi referendada por Sérgio Pedino. "O momento
é de aproveitar a valorização da cafeicultura familiar. No mercado
internacional, o consumidor se solidariza com a produção familiar em
regiões com dificuldades para mecanizar a colheita", afirmou,
completando que, para competir nesse mercado, é preciso assegurar a
qualidade necessária para a certificação internacional do
produto.
Produtor pede moratória
Gilson Ximenes de Abreu, integrante do Conselho
Nacional do Café, concorda que a busca da qualidade é importante,
mas acha que somente o perdão da dívida pode ajudar os cafeicultores
a enfrentarem a crise. "A situação é desesperadora. Precisamos da
ajuda dos deputados para salvar a cafeicultura. Estamos à beira da
falência e precisamos de uma moratória de nossas dívidas", declarou.
A mesma opinião foi compartilhada por boa parte dos produtores que
assistiram à reunião e o aplaudiram de pé.
Os deputados se solidarizaram com a difícil
situação dos cafeicultores do Sul de Minas. O deputado Laudelino
Augusto (PT), que pediu a realização da reunião, disse que os
questionamentos dos produtores serão levados ao vice-presidente da
República, José Alencar, em encontro a ser agendado com os membros
da comissão.
Já o relator, deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB),
apresentou dois requerimentos, que foram aprovados pela comissão. Um
vai pedir ao Banco do Brasil e ao Ministério da Fazenda mais um
alongamento de quatro anos da dívida dos cafeicultores do Sul de
Minas. Outro vai pedir ao Banco do Brasil que altere as garantias
financeiras dos empréstimos concedidos aos cafeicultores, de modo
que a cédula penhoratícia tenha seu valor reduzido à medida em que o
produtor amortize o principal da dívida, viabilizando, assim, a
concessão de novos empréstimos antes da quitação dos débitos. Os
deputados Paulo Piau (PP), Domingos Sávio (PSDB) e José Henrique
(PMDB) também manifestaram apoio aos cafeicultores.
Presenças - Participaram da reunião os
deputados Paulo Piau (PP), presidente; Laudelino Augusto (PT), vice;
Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), relator; José Henrique (PMDB); Domingos
Sävio (PSDB) e Sebastião Navarro Vieira (PFL). Também estiveram
presentes o presidente da Associação de Cafeicultura Orgânica do
Brasil, Ivan Franco Caixeta; o diretor da Bourbon Speciality
Coffees, Cristiano
Carvalho Ottoni; o presidente da Cooperativa Mineira de
Cafeicultores, Breno Pereira Mesquita; o prefeito de Machado, José
Miguel de Oliveira; o presidente da Câmara Municipal, Ribamar José
da Costa; o ex-deputado Jorge Eduardo de Oliveira; e o diretor da
Faemg João Roberto Puliti.
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