Rede institucional de contatos pode resolver problemas dos refugiados

A criação de uma rede institucional de contatos, com o objetivo de buscar soluções para problemas de moradia e empreg...

08/10/2003 - 15:22
 

Rede institucional de contatos pode resolver problemas dos refugiados

A criação de uma rede institucional de contatos, com o objetivo de buscar soluções para problemas de moradia e emprego dos refugiados, foi uma das sugestões propostas na reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, nesta quarta-feira (8/10/2003). A comissão se reuniu para discutir a integração dos refugiados africanos no Brasil, sobretudo o acesso deles ao mercado de trabalho. Com depoimentos emocionados, eles pediram o cumprimento de acordos internacionais do Brasil que prevêem a cidadania plena.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Durval Ângelo (PT), citou como motivadora da reunião a Constituição Federal que, no artigo 4º, consagra a concessão do asilo político. Ele destacou ainda o Estatuto dos Refugiados (Lei 9.474/97) e a Lei 10.559/2002, que trata dos direitos dos anistiados políticos. O encontro serviu ainda para apresentar a Associação dos Refugiados Africanos do Brasil (Arab), entidade criada em Minas, em 2000, pelos próprios refugiados, e que tem uma atuação nacional.

Com 60 integrantes originários de Angola, Guiné-Bissau e Camarões, a Arab vem trabalhando em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por meio da Fundação Mendes Pimentel (Fump), e com as Universidades Federais de Juiz de Fora (UFJF) e do Rio de Janeiro (UFRJ). As três instituições oferecem o ingresso em seus cursos sem a necessidade da seleção pelo vestibular. O presidente da entidade, o angolano Manoel Fernando, disse que Minas é o único Estado a ter uma entidade como a Arab e a possuir órgãos oficiais, como a UFMG, trabalhando efetivamente para a inserção dos refugiados políticos.

UFMG aceita matrículas sem vestibular

A presidente da Fump, professora Maria José Cabral Grillo, informou que a UFMG aboliu o vestibular para os refugiados por meio de uma resolução de 1998. Segundo ela, a decisão veio do entendimento de que os alunos asilados seriam considerados transferidos, procedimento que já existe na universidade para a aceitação de alunos de outras instituições. O pré-requisito é que tenham terminado o ensino médio em seus países de origem.

Maria José Grillo destacou que não adiantava somente resolver o problema da educação, mas também da moradia e emprego. A Fump vem fornecendo desde 1998 alguma ajuda nesse sentido, "mas nossos recursos são limitados, já que não há rubrica para a Fump no orçamento da UFMG". Ela preconiza a necessidade de se criar uma rede com outros parceiros "para ajudar no encaminhamento, principalmente de emprego". A UFMG conta com 26 alunos refugiados matriculados em diversos cursos, atualmente. Desde 1998, foram 33 solicitações de matrícula. Até o momento, apenas um aluno foi excluído do programa, por baixo rendimento escolar. A Fump oferece uma vaga por curso.

Ausência lamentada - Bonifácio José Teixeira, conselheiro da Arab, professor da PUC Minas e ex-pró-reitor de Extensão, afirmou que as universidades particulares deveriam participar da luta em prol dos refugiados. Lembrando que eles enfrentam dupla dificuldade, a da cidadania e a da discriminação racial, Bonifácio José afirmou que a ação junto à Arab é um caminho para resolver os problemas dos negros do Brasil. E lamentou a ausência de dois convidados, o ministro da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, e o deputado federal Patrus Ananias, ambos do PT: "pela posição que ocupam, a presença deles teria engrandecido o encontro".

Também convidada, a subsecretária de Direitos Humanos da Prefeitura de Belo Horizonte, Maria Emília Silva, colocou a entidade à disposição para incrementar a luta pela criação de redes de apoio aos refugiados. E destacou que, embora tenha sido procurada há um ano pela Arab, não conseguiu responder com ações práticas, "devido à falta de recursos do órgão, subordinado à Secretaria dos Direitos da Cidadania. Mas ficamos parceiros dos africanos desde então", completou.

Apresentação - Os participantes fizeram uma apresentação para os convidados, cantando duas músicas africanas, louvando o orgulho africano e elogiando o Brasil e Minas Gerais. O deputado Durval Ângelo apresentou um requerimento, que será votado na próxima reunião da comissão, pedindo nova audiência pública com a presença dos refugiados e de representantes do Ministério da Educação, de universidades privadas e de entidades como Cáritas, Fundação de Solidariedade dos Agostinianos e Fundação Marista, para a discussão do problema, com enfoque no emprego e educação.

Presenças - Participaram da reunião, os deputados, Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PL), Biel Rocha (PT) e Mauro Lobo (PSB).

 

 

 

 

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