Produtores e deputados debatem tecnologia e qualidade do
café
A tecnologia de agregação de valor ao café foi o
tema da Comissão Especial da Cafeicultura Mineira desta quinta-feira
(02/10/2003). A comissão já realizou três reuniões com
especialistas, debatendo questões relacionadas à cadeia de produção,
às tecnologias de pesquisa e comercialização e à qualidade do
café.
O coordenador do Centro de Estudos do Café da
Universidade Federal de Lavras, Fábio Meira Borém, disse que
a qualidade deve trazer benefícios para o produtor, a indústria e o
consumidor. Ele destacou a falta de investimento em tecnologia e de
conscientização do produtor como as maiores causas da perda da
qualidade. Segundo Borém, muitos produtores mineiros ainda utilizam
métodos rudimentares de produção e faltam técnicas básicas de
processamento. Ele sugere a implantação de unidades móveis para
prestação de serviços de extensão em pós-colheita e treinamento e
reciclagem para os técnicos responsáveis por esse trabalho.
Fábio Borém falou, ainda, da importância das linhas
de crédito que foram criadas, recentemente, e permitiram aos
pequenos e médios agricultores a aquisição de equipamentos e
infra-estrutura, mas destacou a necessidade de investimentos do
Estado em tecnologia e pesquisa nas instituições que trabalham com a
pós-colheita. "A implementação de um programa de qualidade do café
industrializado; a regulamentação da identificação, nas embalagens,
da quantidade de café arábico e prazo de validade; o desenvolvimento
de novos produtos; e o estímulo do consumo são algumas medidas que
precisam ser implantadas", afirmou.
O gerente-geral da Empresa Brasileira de Pesquisa
(Embrapa Café), Antônio de Pádua Nacif, apontou a peneira, a
qualidade da bebida, a exclusão dos defeitos, o café de chão, o
rastreamento, a certificação de origem, a segurança alimentar e,
ainda, a preocupação com a preservação ambiental e com as condições
de trabalho como alguns fatores podem agregar valor ao café. Ele
afirmou que os cuidados devem ser tomados para não permitir que o
café perca valor, durante a colheita e pós-colheita, pois "não há
tecnologia suficiente para agregação de valor ao produto maduro",
disse.
O pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária
de Minas Gerais (Epamig) Paulo Gontijo Guimarães garantiu que o
maior estoque tecnológico sobre a cultura do café está em Minas. O
que falta, segundo ele, é a transferência de tecnologia e o emprego
de técnicas que valorizem o café de boa qualidade e penalizem o café
ruim. Para isso, ele acredita que o Estado deve disponibilizar mais
recursos e aprovar projetos que contribuam para a melhoria das
técnicas de cultivo e processamento e para a socialização do
conhecimento.
Segurança alimentar - A
responsável técnica pelo Laboratório de Micotoxinas do Ministério da
Agricultura em Minas Gerais, Eugênia Azevedo Vargas, chamou a
atenção para a existência de uma micotoxina, produzida por fungos,
durante o processo de produção do café, nociva à saúde do
consumidor. Eugênia alertou sobre a necessidade de implantação de
medidas de controle e de pesquisas sobre a toxina que permitam a
avaliação do risco que o consumidor está correndo e para a urgência
de treinamento para os produtores quanto às técnicas agrícolas que
devem ser utilizadas para evitar a produção das toxinas. "Nós
possuímos as ferramentas, os técnicos e os equipamentos necessários,
mas não temos essas facilidades implantadas na extensão da produção,
o que prejudica a erradicação do problema", disse. Segundo ela, essa
pode ser uma forma de conter a contaminação e de agregar valor ao
café.
O presidente do Sindicafé, Almir José da Silva
Filho, comentou alguns pontos discutidos pelos demais convidados e
destacou a falta de recursos para atualização tecnológica de quem
finaliza o produto, como o principal problema para a agregação de
valor ao café. Ele disse que é preciso melhorar o conceito do café
no mercado nacional através de ações concretas e, principalmente,
com a disponibilização de uma matéria-prima de qualidade. Um bom
começo, segundo ele, seria os órgãos públicos realizarem licitações
de compra de café baseados na qualidade e não no preço: "Para
estimular o consumo do café é preciso que ele seja saboroso e de boa
qualidade. No mercado há mais de 2.500 marcas diferentes de café
disponíveis a preços variados e procedência duvidosa", afirmou.
O representante da Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater/MG), Marcelo de
Pádua Felipe, afirmou que para agregar valor ao café deve-se
trabalhar em toda a cadeia produtiva atingindo a tecnologia, o
mercado e o processo, visando reduzir custos e perdas e garantir a
sustentabilidade do processo produtivo. Marcelo mostrou pontos
críticos do controle da produção e apontou a falta de consciência
como um fator importante: "O produtor, na maioria das vezes, não
conhece a qualidade do café que está colhendo, não sabe classificar
nem provar", disse.
Alemanha - Na fase de
debates, o deputado Laudelino Augusto (PT) perguntou aos convidados
sobre a posição da Alemanha no mercado da cafeicultura: "O que eles
fazem que nós, no Brasil, não podemos fazer?". O presidente do
Sindicafé, Almir José, disse que enquanto no Brasil "estávamos
preocupados com a produção, os alemães investiram na indústria e no
mercado consumidor". Ele disse ainda que não é possível ignorar as
condições privilegiadas de produção e os incentivos que eles
possuem.
O deputado Domingos Sávio (PSDB), que é
cafeicultor, lembrou a situação difícil vivida pelos produtores, que
estão descapitalizados e em situação de falência. Ele defendeu
investimentos em pesquisa e extensão, além de cobrar do governo a
definição de uma política reguladora e de criticar o Conselho
Nacional de Política do Café, "dominado pelo poder econômico". O
parlamentar também cobrou uma ação mais agressiva das cooperativas
contra esse poderio, acrescentando que elas não podem ser pautadas
pelos oligopólios.
A maior participação do produtor rural no esforço
de agregação de valor ao café foi sugerida por Marcelo Pádua, da
Emater, e pelo professor Morengue, da Universidade Federal de Lavras
(Ufla). "A difusão e a transferência de tecnologia têm chegado aos
cafeicultores. Mas eles também precisam participar", enfatizou
Pádua, citando a parceria entre o órgão e a universidade e o repasse
constante de informações de pesquisas "saídas do forno". Já a
qualidade do café foi o tema abordado pelo gerente-geral da Embrapa
Café, Antônio de Pádua Nacif. Ele falou sobretudo da qualidade do
café da merenda escolar, sugerindo a conscientização dos governos
municipais ao comprarem o produto.
O investimento em marketing e a mudança de cultura
visando ao aumento do consumo do produto também foram assuntos
abordados. O relator da comissão, deputado Dalmo Ribeiro Silva
(PSDB), e o vice-presidente, deputado Laudelino Augusto (PT),
enfatizaram a importância do estudo e do investimento em marketing,
destacando que é preciso mostrar que o café faz bem à saúde.
Requerimentos - Ao final da
reunião, foram aprovados dois requerimentos: do relator, solicitando
a presença permanente de representante do Sindicafé nas reuniões da
comissão e também a relação das empresas processadoras de café
sindicalizadas; e do presidente, deputado Paulo Piau (PP),
solicitando a presença, na reunião do dia 16 de outubro, do
diretor-geral do Conselho de Exportadores de Café do Brasil,
Guilherme Braga Abreu Pires Filho. O tema a ser discutido é a
tributação do café. O presidente também informou que a comissão fará
quatro viagens, para colher subsídios ao seu trabalho: aos
municípios de Manhuaçu, Monte Carmelo, Machado e Capelinha, todas já
autorizadas pela Presidência da Assembléia.
Fiscalização do Ministério Público do Trabalho é
discutida
O deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) solicitou que
os parlamentares façam uma visita à sede do Ministério Público do
Trabalho, a fim de apurar fatos relatados pelos produtores da
cooperativa de Caratinga, visitada pela comissão. Essa entidade
possui 350 cooperados e uma área de atuação de 58 mil hectares. Os
produtores relataram aos deputados os problemas que vivenciam, como
a evasão do homem do campo e a queda da produção de 1,1 milhão de
sacas, em 2002, para 600 mil sacas, neste ano. De acordo com os
cafeicultores, o Ministério Público do Trabalho fez uma "devassa"
nas lavouras em três dias de fiscalização, com 45 autos de
notificação. Um pai teria sido multado por levar os filhos à lavoura
para ajudá-lo. Falta de segurança e de equipamentos também foram
notificados. O relator ressaltou que não é contra a fiscalização,
mas reivindicou que ela ocorra no sentido de orientar o pequeno
produtor.
Presenças - Participaram da reunião os
deputados Paulo Piau (PP), presidente, Laudelino Augusto (PT),
vice-presidente, Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), José Henrique (PMDB),
Luiz Humberto Carneiro (PSDB), Doutor Viana (PFL), Carlos Pimenta
(PDT), Leonardo Quintão (PMDB), e Domingos Sávio (PSDB). Além dos
deputados estavam presentes os seguintes convidados: o coordenador
do Centro de Estudos do Café da Universidade Federal de Lavras,
Fábio Meira Borém; o
gerente-geral da Empresa Brasileira de Pesquisa (Embrapa Café),
Antônio de Pádua Nacif; o pesquisador da Empresa de Pesquisa
Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Paulo Gontijo Guimarães; a
responsável técnica pelo Laboratório de Micotoxinas do Ministério da
Agricultura em Minas Gerais, Eugênia Azevedo Vargas; o presidente do
Sindicafé, Almir José da Silva Filho; o representante da Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais
(Emater/MG), Marcelo de Pádua Felipe; o presidente da Companhia de
Armazéns e Silos (Casemg), Célio Gomes Floriani; o presidente da
Sociedade Mineira de Engenheiros Agrônomos (Smea), Rodrigo de
Almeida Pontes.
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