Subsecretário da Educação reconhece pouca ajuda ao transporte escolar

Em audiência pública realizada na manhã desta segunda-feira (29/9/2003), em Caratinga, no Vale do Rio Doce, a Comissã...

30/09/2003 - 09:34
 

Subsecretário da Educação reconhece pouca ajuda ao transporte escolar

Em audiência pública realizada na manhã desta segunda-feira (29/9/2003), em Caratinga, no Vale do Rio Doce, a Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembléia Legislativa constatou a falta dos repasses legais para o transporte escolar, por parte do Estado. Reunidos na Câmara Municipal, deputados, vereadores e representantes dos sistemas estadual e municipal de ensino prometerem buscar fontes de recursos para financiar a sustentabilidade do transporte escolar, conforme determina recente lei federal, que responsabiliza o Estado pela manutenção do sistema.

O deputado Chico Simões (PT), autor do requerimento que pediu a audiência para discutir a Lei 10.709, de julho de 2003, que incluiu tal responsabilidade na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, disse que pretende acionar o Ministério Público, para que seja apurada a situação, especialmente da região de Caratinga. Na cidade, a prefeitura financia parte do transporte escolar universitário, apesar de reclamar da falta de recursos para financiar o transporte com alunos dos ensinos fundamental e médio.

Representando a Secretaria de Estado da Educação, o subsecretário Gilberto Resende dos Santos reconheceu que o Estado não financia o transporte escolar, "mas apenas ajuda". Ele disse que a audiência serviria para todos se unirem na busca de alternativas de financiamento. Segundo ele, dos R$ 57 milhões previstos no Orçamento deste ano, o Estado já repassou cerca de R$ 32 milhões, através de convênio com as prefeituras. "Foram beneficiadas cerca de 650 prefeituras, porque as demais estão inadimplentes e não podem celebrar convênios", disse o subsecretário. Segundo ele, em fevereiro havia 400 prefeituras em situação irregular, sem condições de fazer convênios, mas que a Secretaria procurou uma a uma, tentando resolver as pendências, restando somente 180 delas ainda sem conseguir regularizar documentos.

Comissão vai buscar soluções

Em seu pronunciamento, o presidente da comissão, deputado Adalclever Lopes (PMDB), lembrou que o problema deve ser multiplicado pelos demais 853 municípios, que como Caratinga, estão sofrendo com a queda de arrecadação, diminuição dos repasses do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) e aumento da demanda de alunos. Mas o deputado garantiu que a comissão estaria buscando soluções.

O deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) reconheceu o esforço da Secretaria da Educação, lembrando todos os programas novos que devem ser implantados já no ano que vem, como a diminuição da idade para o ingresso no ensino fundamental, abarcando as crianças da pré-escola. Já o deputado José Henrique (PMDB) destacou que a questão do transporte escolar é mais um motivo para que os prefeitos tenham maior participação no bolo tributário. Para ele, as prefeituras já arcam com a segurança e a manutenção de estradas e os recursos estão minguando, daí ser urgente uma participação maior da União.

Nascido na região de Caratinga, o deputado Leonardo Quintão (PMDB) lembrou a extensão territorial da cidade, com seus dez distritos, como uma dificuldade maior de atendimento do transporte escolar. Ele criticou a política educacional implantada em 1996, que acabou com as escolas da zona rural, no programa de nucleação. Com isso, segundo ele, ao tirar as crianças de seu local de origem, criou-se outro problema, além da perda de identidade do aluno, "a crescente demanda por transporte". Leonardo Quintão questionou os gastos do governo com a implantação dessa política, que ele considera equivocada.

Prefeitura garante que oferece transporte

A perda de identidade do aluno foi também destacada pela secretária municipal da Educação, Célia Bonfim. A secretária garantiu que a prefeitura vem atendendo plenamente os alunos da rede municipal, "com merenda escolar, material pedagógico e transporte", mantendo uma frota de 23 carros e um programa de passe escolar que atende até mesmo alunos universitários. Célia Bonfim questionou se não se estaria criando uma cultura do transporte escolar, em detrimento da cultura da escola na comunidade rural.

Ela informou que o programa do passe escolar da prefeitura de Caratinga financia 30% dos 1.248 alunos dos ensinos fundamental e médio, e 50% de 842 alunos que cursam faculdade. Célia Bonfim disse que enquanto a cidade gastou até setembro R$ 326 mil com o transporte escolar, recebeu apenas R$ 32 mil do Estado, para o ano todo, através do convênio de cooperação. A rede estadual conta com cerca de 13 mil estudantes matriculados nos ensinos fundamental e médio em Caratinga, enquanto a rede municipal conta com 5.800 alunos.

Representantes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caratinga e da subsede do Sindicato dos Trabalhadores em Ensino (Sind-UTE) lembraram crises com alunos da zona rural, completando que a falta de condições para o alunos freqüentarem a escola é um dos componentes fortes do êxodo rural.

O vereador Juarez Gomes (PT), membro da Comissão de Educação da Câmara Municipal de Caratinga, disse que a audiência é fruto da mobilização da comunidade, "o que nos deixa felizes em constatar que a população ainda acredita na política".

Propostas - Juarez Gomes propôs a criação de um grupo de estudos emergencial, para discutir o programa de transporte escolar, que inclua entre suas primeiras atividades o pedido de inclusão de uma rubrica no Orçamento de 2004 exclusiva para o transporte escolar. Além disso, ele quer que a Comissão de Educação da Assembléia faça uma audiência pública em Belo Horizonte, com a participação de representantes do Ministério da Educação, da Secretaria de Estado da Educação, do sindicato dos trabalhadores em ensino e outras entidades. Ele pediu ainda o reajuste do percentual destinado à merenda escolar.

O secretário-adjunto da Educação, Gilberto Resende, sugeriu que o Ministério da Educação aumente os valores do repasse do Fundef, cujo valor por aluno deveria ser de R$ 700,00 e hoje está em cerca de R$ 400,00. E pediu a ajuda do deputado Chico Simões para garantir o aumento já no próximo ano. Simões havia criticado o descumprimento, pelo Estado, dos repasses relativos ao transporte escolar.

Requerimentos - Foram aprovados os seguintes requerimentos: do deputado Dalmo Ribeiro Silva solicitando audiência pública para apurar denúncias de possíveis irregularidades no Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), para a Universidade Federal de Ouro Preto; do deputado Chico Simões, pedindo informações à prefeitura de Caratinga, sobre o programa de passe escolar para universitários, em detrimento do ensino fundamental. E dos deputados Adalclever Lopes, Chico Simões, Leonardo Quintão, José Henrique e Dalmo Ribeiro Silva, pedindo a criação da Delegacia Regional de Saúde em Caratinga.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Adalclever Lopes (PMDB), presidente; Dalmo Ribeiro Silva (PSDB); José Henrique (PMDB); Leonardo Moreira (PMDB); e Chico Simões (PT); além dos convidados citados, vereadores de Caratinga e região, professores e população.

 

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