Pesquisa científica e tecnológica é debatida na comissão de Educação

A situação atual da pesquisa científica e tecnológica do Estado e o repasse de verbas para o setor foram discutidos n...

24/09/2003 - 18:20
 

Pesquisa científica e tecnológica é debatida na comissão de Educação

A situação atual da pesquisa científica e tecnológica do Estado e o repasse de verbas para o setor foram discutidos na reunião desta quarta-feira (24/9/2003) da Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia da Assembléia de Minas. Participaram da reunião, requerida pelo deputado Paulo Piau (PP), a pedido da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), representantes da comunidade acadêmica e científica e os secretários-adjuntos de Estado da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior e da Agricultura, além de deputados da comissão.

O secretário-adjunto da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior, Jacques Schwartzman, disse que a secretaria sempre teve sob sua alçada vários órgãos estaduais de pesquisa - Fapemig, Cetec, IGA, Ipem. Com a incorporação do ensino superior à pasta, também estão sob sua responsabilidade a Uemg e a Unimontes. Com relação a Universidade do Estado de Minas Gerais, ele anunciou que, no próximo mês, será divulgada a nova política do Estado para a entidade. Schwartzman destacou os principais programas que a Secretaria está realizando: de inovação tecnológica dos parques industriais e incubadoras, programa de arranjos produtivos locais, identificação das principais cadeias produtivas do Estado.

Já o secretário-adjunto da Agricultura, Antônio Cândido Martins Borges, afirmou que o setor agropecuário é um dos maiores clientes da área de ciência e tecnologia. Essa parceria resultou em grandes avanços tecnológicos para o Estado, na produção, manuseio e conservação de produtos. Ele citou os exemplos do frango, que teve seu tempo de crescimento reduzido de 105 para 42 dias; e os avanços na produção da carne, tornando o país seu primeiro produtor mundial.

Recursos para a ciência e tecnologia estão diminuindo

Ao mesmo tempo em que apresentava dados em slides sobre a Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), o seu presidente, José Geraldo de Freitas Drumond, destacou que a entidade já completou 17 anos, dando apoio à pesquisa no Estado. Mas ressalvou que, desde 1995, o percentual de recursos para a ciência e tecnologia caiu de 3% para 1%, quando foi aprovada a Emenda 17 à Constituição Estadual. Com tudo isso, a Fapemig se destacou em vários setores, como exemplificou Drumond, entre eles, o desenvolvimento de aços coloridos, da vacina anti-carrapato, e a patente da vacina anti-ofídica. Além disso, destacou ele, desde a fundação da entidade, 5000 projetos de pesquisa foram desenvolvidos.

A criação de um fundo setorial estadual como forma de aumentar os recursos para a ciência e tecnologia no Estado foi defendida pelo presidente da SBPC, Ênio Candotti. Segundo ele, com a instituição desses fundos em nível federal, a partir de 1993, os orçamentos de C&T duplicaram nos últimos anos. "Temos que ser mais criativos na obtenção de recursos." Ele acredita que seria viável para Minas criar um fundo estadual ligado à mineração, que é um setor de ponta no qual várias empresas teriam interesse de investir em pesquisa, se houvesse incentivo do Estado. Assim, os recursos que o Estado não repassa para a Fapemig, devido às restrições orçamentárias, poderiam ser obtido junto a empresas.

Minas investe em tecnologia menos do que outros Estados

O pró-reitor de pesquisa da UFMG, José Aurélio Garcia Bergman apresentou uma síntese do estudo comparado sobre o desenvolvimento da ciência e tecnologia em Minas, São Paulo, Rio de Janeiro e nos três estados da Região Sul. Os dados mostram que, na média, o investimento no setor em Minas é de um terço do aplicado em São Paulo e menor do que em outros Estados, como Goiás e Paraná. Bergman afirmou ainda que São Paulo aplica efetivamente o que estabelece a Constituição, cumprindo o que está no orçamento. Quanto à produção bibliográfica e técnica (que inclui patentes e registros), Minas contribui com cerca de um décimo da produção brasileira, enquanto que São Paulo entra com mais de um terço do total.

De acordo com José Aurélio Bergman, o investimento em C&T per capita em Minas Gerais é menos da metade do que o de São Paulo (R7,40 contra R$16,40). Esses problemas vêm causando prejuízos ao Estado que deixou de ter os maiores pólos de biotecnologia e de informática do País (localizados na Região Metropolitana de Belo Horizonte). Mesmo com todas as dificuldades, o Brasil, segundo o professor, é responsável por 3,4% da produção mundial de ciência e tecnologia.

O reitor da Universidade Federal de Viçosa, Evaldo Ferreira Vilela, representando o Fórum das Instituições Públicas de Ensino Superior em Minas Gerais, conclamou os presentes a sensibilizarem os governos para que invistam na ciência e tecnologia. Ele defendeu também a parceria entre as universidades e as empresas, o desenvolvimento de tecnologias sociais. Depois de apresentar dados da produção científica da UFV, ele concluiu dizendo que "os investimentos e o domínio do conhecimento geram novas tecnologias, e o domínio delas reduz a evasão de divisas do Estado".

Evasão - Já Luciano Rezende, presidente da Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), lamentou que os governantes ainda desconheçam a importância da C&T para o desenvolvimento do país. De acordo com ele, 40 mil pesquisadores saem, por ano, da América Latina e vão para os países desenvolvidos, onde são oferecidas melhores condições. Minas Gerais também perde muitos "cérebros" para outros estados, principalmente São Paulo, que oferece melhores salários. Rezende também criticou os baixos valores pagos aos bolsistas da Fapemig (R$700 por mês para mestrado e R$1.000 para doutorado). E pediu que todos cobrassem do governo Aécio o cumprimento da Constituição quanto aos investimentos em ciência e tecnologia.

Deputados fazem propostas em prol da ciência e tecnologia

Diante do quadro apresentado, os deputados fizeram comentários e sugestões visando contribuir na solução dos problemas. O deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), lembrou que em diversas ocasiões, a Assembléia cobrou do Governo Estadual o cumprimento do preceito constitucional, inclusive acionando o Ministério Público, em 2002. Dalmo sugeriu a criação de um fundo do Estado para ciência e tecnologia nos moldes do Fundo Estadual de Recuperação do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico (Funpat).

O deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), lamentou que o percentual de 1%, que já é baixo, é também retórico, pois não é efetivamente aplicado na C&T, assim como o destinado à saúde. Ele propôs que fosse criada uma lista com os "Amigos da Universidade". E declarou que está determinado a votar contra a aprovação das contas do governador, caso o Estado não aplique os percentuais determinados na Constituição para a ciência e tecnologia e para a saúde. Já o deputado Paulo Piau (PP) disse que a "questão de ciência e tecnologia não é questão política é questão de Estado". Ele defendeu também a idéia de criação de fundos setoriais e da "Sociedade dos Amigos da Ciência".

Presenças - Participaram da reunião os deputados Adalclever Lopes (PMDB), Leonídio Bouças (PTB), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), Paulo Piau (PP), Adelmo Carneiro Leão (PT) e Maria Tereza Lara (PT).

 

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