Direitos Humanos cobra devolução de área desapropriada em Sabará

Com o objetivo de buscar uma solução para o drama de 829 famílias da cidade de Sabará, na Região Metropolitana de Bel...

25/09/2003 - 14:10
 

Direitos Humanos cobra devolução de área desapropriada em Sabará

Com o objetivo de buscar uma solução para o drama de 829 famílias da cidade de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que se arrasta há oito anos, a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas realizou, nesta quarta-feira (24/9/2003), uma audiência pública naquela cidade. Os deputados estão solidários à reivindicação dos moradores, que querem a revogação de um decreto municipal que, em 1996, desapropriou um terreno de 420 mil metros quadrados, conhecido como Várzea do Moinho. Esse terreno havia sido comprado pelas famílias no ano anterior. Porém, com a desapropriação, elas não puderam construir suas casas e nem obtiveram, com poucas exceções, o dinheiro investido de volta.

Cerca de cem pessoas lotaram o salão do Esporte Clube Farol, em Sabará, para acompanhar a reunião. O presidente da Comissão, deputado Durval Ângelo (PT), disse que aquelas famílias não estão pedindo lotes, nem material de construção. "Isso elas já compraram. O que elas querem é justiça, que seja devolvido o que lhes pertence", referindo-se ao terreno, adquirido em 1995 por R$ 250 mil.

A revolta dos compradores da Várzea do Moinho se deve a vários motivos. O Decreto Municipal 626/1996 foi publicado pouco depois da assinatura do contrato para a compra da área e antes do registro da escritura em nome dos novos proprietários. Ou seja, a desapropriação foi feita quando eles ainda não eram legalmente os donos do terreno. Além disso, o prefeito justificou o decreto alegando o "assentamento de famílias em caráter de urgência", mas até hoje nada foi feito.

Essa inoperância permite a revogação da medida. De acordo com Durval Ângelo, um decreto de desapropriação tem validade de cinco anos. Se, nesse período, não for dado ao terreno a destinação prevista, a Câmara Municipal pode publicar um Decreto Legislativo revogando o do Executivo.

O deputado fez essa afirmação respondendo ao vereador Ricardo Antunes de Oliveira, que disse que o Poder Legislativo não pode interferir em um ato do Executivo. O deputado Roberto Ramos (PL), vice-presidente da comissão, também rebateu a fala do vereador, dizendo que "se um vereador não sabe que a Câmara Municipal pode revogar um ato da prefeitura, então ele está no lugar errado".

Secretário culpa administração anterior

A deputada Marília Campos (PT) lamentou a ausência, na reunião, do prefeito de Sabará, Wander Borges, que foi representado pelo secretário municipal de Assistência Social, Jeferson Antônio Reis. Ele disse que a responsabilidade pelo decreto (nº 626/1996) é do prefeito anterior, Diógenes Fantini, mas que mesmo assim a administração atual estava empenhada em resolver o problema. O vereador Ricardo Oliveira garantiu que a questão terá uma solução até o final do ano.

A defesa do prefeito Wander Borges também foi feita pelo presidente do Centro Social do Bairro General Carneiro, Edber Malacco Ribeiro de Resende. Ele afirmou que na última terça-feira (23) reuniu-se por uma hora com o prefeito e recebeu a garantia de que todos os compradores da Várzea do Moinho serão atendidos dentro de um acordo firmado com 15 representantes das famílias. Segundo esse acordo, disse ele, todos os compradores que já têm um imóvel próprio serão indenizados, enquanto que os demais serão assentados no local.

Famílias exigem resposta concreta do prefeito

As palavras dos representantes do prefeito Wander Borges na reunião não convenceram os presentes. Vários questionamentos foram feitos pelos representantes da Associação dos Lesados da Várzea do Moinho (Alvam), entidade que reúne as famílias que adquiriram o terreno em 1995. A presidente da Alvam, Jaqueline Luzia de Lima e Silva, perguntou, por exemplo, por que o prefeito Wander Borges tem se recusado sistematicamente a receber a associação para discutir o assunto.

A vice-presidente da entidade, Magali Auxiliadora Campos, quis saber quais os interesses do prefeito naquela área. O titular do Cartório de Notas do município de Nova União, Antônio Maximiano Santos Lima, opinou que a devolução do terreno às famílias é uma questão de bom senso. "Vocês compraram e pagaram", resumiu, dirigindo-se à platéia.

O vereador de Sabará, Argemiro Afonso Ramos, também duvidou das palavras do secretário de Assistência Social e do seu colega de Câmara, Ricardo Oliveira. Segundo ele, é muito fácil resolver o problema, basta uma assinatura do prefeito revogando o decreto. Já o advogado William Santos denunciou que a Várzea do Moinho está passando por um processo de degradação ambiental, sendo que uma lagoa que havia no local já está assoreada e há muito lixo espalhado.

Ao final da reunião, a deputada Marília Campos conseguiu um contato telefônico com o prefeito e agendou uma reunião para a próxima segunda-feira (29). O encontro, que contará com a presença de representantes dos compradores, deverá ser formalizado nesta quinta-feira (25)

Requerimentos - Três requerimentos foram aprovados durante a reunião:

* do deputado Durval Ângelo, solicitando à juíza de Direito da Comarca de Sabará, Maria Isabel Flack, o agendamento de reunião para encaminhar acordo judicial referente à situação da desapropriação da Várzea do Moinho, com a presença do prefeito Wander Borges; da presidente e da vice da Alvam, Jaqueline Luzia de Lima e Silva e Magali Auxiliadora Campos; dos membros da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia; de um advogado das famílias que compraram o terreno; do engenheiro e empresário Walter Caetano Pinto; do presidente do Centro Social do Bairro General Carneiro, Edber Malacco Ribeiro de Resende; e de um representante do Ministério Público Estadual.

* do deputado Célio Moreira (PL), em que solicita seja realizada audiência pública para discutir denúncia de favoritismo nas promoções de juízes do Tribunal de Justiça de Minas Gerais;

* do deputado Roberto Ramos, pedindo a realização de uma audiência pública com a presença do secretário Nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, para debater o caso do "barman" Anderson Rodrigues Teixeira, falecido no dia 26/8/2003, quando estava sob a guarda da Polícia Civil. Essa reunião foi realizada na tarde desta quarta-feira (24);

Presenças - Compareceram à reunião os deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PL), vice; e Marília Campos (PT). Participaram ainda as personalidades citadas na reportagem.

 

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