Deputados sugerem parcerias para financiar a Uemg

A Comissão Especial da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) da Assembléia Legislativa ouviu nesta terça-feir...

23/09/2003 - 17:06
 

Deputados sugerem parcerias para financiar a Uemg

A Comissão Especial da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) da Assembléia Legislativa ouviu nesta terça-feira (23/9/2003) oito representantes de fundações do interior, ligadas à instituição, e também o reitor da Uemg, professor José Antônio dos Reis. Foram feitas sugestões para o relatório final da comissão, que deve ser apresentado até 4 de outubro, segundo o relator, deputado Ricardo Duarte (PT). As principais conclusões do encontro mostraram a necessidade de se buscar alternativas para a falta de recursos, como parcerias privadas; e a urgência de haver um trabalho conjunto entre a comissão da Assembléia e o grupo técnico do governo, que estuda o mesmo assunto.

A Comissão Especial da Uemg foi criada para, no prazo de 60 dias, estudar e propor alternativas viáveis para a implantação da universidade. A Uemg foi criada pela Constituição mineira de 1989 e deveria absorver todas as fundações estaduais que já existiam, no interior do Estado, na proporção de duas a cada quadrimestre. Até hoje, nenhuma foi absorvida. Os trabalhos da Comissão Especial tiveram início no dia 5 de junho. A apresentação do relatório, previsto para 3 de setembro, foi adiada até início de outubro. A comissão foi proposta por requerimento do deputado Domingos Sávio (PSDB), que a preside.

A reunião foi aberta pelo vice-presidente da comissão, deputado Ivair Nogueira (PMDB), que a presidiu até a fase de depoimentos. Ele pediu nova reunião para ouvir o secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Bilac Pinto, que encaminhou correspondência à Assembléia, justificando sua ausência nesse encontro, por encontrar-se em viagem oficial fora do País.

Relatos das unidades do interior

Tanto na abertura quando nas considerações finais, o relator Ricardo Duarte ressaltou a importância dos relatos das oito unidades agregadas do interior (são nove, mas a de Patos de Minas não compareceu).Ele lançou alguns questionamentos, como a opção de as fundações permanecerem ou não no sistema da Uemg, sobre alternativas de financiamento e sobre a discussão da gratuidade universal da instituição.

O presidente da Fundação Educacional de Divinópolis, professor Gilson Soares, sintetizou o pensamento presente, respondendo à primeira indagação de Ricardo Duarte, sobre a permanência ou não no sistema Uemg. Com exceção da conselheira da Fundação de Ensino e Pesquisa do Sul de Minas, de Varginha, professora Cleusa Elizabeth de Abreu, que levantou a possibilidade de deixar o sistema Uemg, os demais manifestaram o compromisso de continuar pertencendo à instituição e de levar adiante a luta pela efetiva transformação das unidades em universidade estadual. Eles destacaram a necessidade de uma consulta à comunidade acadêmica a que pertencem. E manifestaram sua concordância sobre a impossibilidade de a universidade ser 100% gratuita.

Gilson Soares lembrou que suas considerações fazem parte de um documento originado de recente encontro em Passos, e encaminhado à comissão da Assembléia. Nele estão considerações básicas sobre a implantação da universidade estadual: a necessidade de um trabalho conjunto entre a comissão dos deputados e o grupo técnico da Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia; novo ordenamento jurídico, com a alteração da Lei 11.539, de 1994, que previu a absorção, sem concurso público, dos professores das instituições do quadro administrativo à época. O professor destacou que as fundações hoje têm outra realidade. "É preciso nova legislação, pois não dá para absorver 200 professores sem concurso, ferindo a Constituição Federal", afirmou.

E por fim, ele destacou o financiamento da implantação da universidade, afirmando que é preciso buscar alternativas, para fugir da falta de recursos. Gilson Soares citou duas fontes, já levantadas em estudos anteriores, como o financiamento pela Loteria Mineira e pelo BNDES, através de permuta com imóveis do Estado. Ele enfatizou, contudo, que medidas mais urgentes precisam ser implantadas, já para o ano que vem, como a construção do campus de Belo Horizonte, aproveitamento do trabalho dos pesquisadores das unidades do interior, e da concessão de bolsas de estudo para os alunos carentes.

Fundações precisam oferecer ciência

A vice-reitora da Unilavras, professora Dilma Abreu Tourino, destacou que não é só a questão da gratuidade que deve ser discutida, mas os problemas estruturais, enquanto a diretora- executiva da Fundação Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Carangola, professora Adelaide Knupp, afirmou que se o Estado não pode absorver todos os custos das unidades, pelo menos que assuma a parte dos alunos, através de bolsas de estudo.

O diretor acadêmico da Fundação Educacional de Ituiutaba, professor Sérgio Jerônimo de Andrade, disse que pertencer à Uemg virou referência para a fundação de sua cidade. Ele concordou com as alternativas de financiamento, via Loteria Mineira e BNDES, e salientou que ao lado de oferecimento de ensino gratuito e superior, a universidade estadual tem de oferecer a produção de ciência. A conselheira da Fundação de Ensino e Pesquisa do Sul de Minas, professora Cleusa Elizabeth de Abreu, questionou o problema da autonomia universitária para as unidades do interior, já que todas têm seus próprios reitores e estariam submetidas ao reitor central.

O presidente da Fundação Educacional do Vale do Jequitinhonha, com sede em Diamantina, e que conta com mais cinco pólos em outras cidades, Gilson Gilbertone Brugarelli, comparou o desempenho da universidade estadual com as similares de outros Estados. "Depois de 14 anos de criada, a Uemg falta funcionar efetivamente". Ele disse que a falta de recursos sempre alegada é mais um problema de planejamento, "pois enquanto a Uemg não recebe nada, a Unimontes tem crescido em investimentos nos últimos anos, com uma total inversão de finalidades, já que a Uemg foi criada para ser multicampi e hoje só funciona com um, o de Belo Horizonte, e a Unimontes, que seria unicampi, hoje tem vários", enfatizou. Ele pediu que as unidades da Uemg tenham voz e voto no Conselho Universitário, com a mudança do estatuto do órgão.

A menor unidade, a Fundação Cultural Campanha da Princesa, de Campanha, sul de Minas, foi representada pelo chefe de gabinete da presidência, professor Ronaldo Carvalho, que destacou haver grande esperança entre alunos e comunidade acadêmica, sobre a absorção das fundações, como forma de garantir acesso a mais alunos carentes.

Reitor da Uemg sugere instituição integrada

Para o reitor da Uemg, José Antônio dos Reis, a opção da comunidade acadêmica é por uma universidade pública, mas com um novo modelo, resultado de uma integração dos diversos campi, regidos por um órgão próprio e administrado por um conselho composto pelos membros eleitos pela comunidade acadêmica. Ele sugere ainda a gestão público/privada, que a Uemg já pratica, nos moldes da Parceria Público-Privada (PPP). Sobre o campus de Belo Horizonte, o reitor defendeu o aumento dos R$ 18 milhões previstos para o próximo ano. E quanto ao quadro de pessoal, ele defendeu quadro próprio, com plano de carreira e admissão só por concurso.

Números da Uemg

A Uemg conta com quatro unidades no campus de BH - Escola de Música, de Design, Escola Guignard e Faculdade de Educação. Nove fundações agregadas, em Campanha, Carangola, Diamantina, Divinópolis, Ituiutaba, Lavras, Passos, Patos de Minas e Varginha. De Belo Horizonte e Barbacena, que são as unidades próprias, são 11 cursos de graduação, um fora da sede (Poços de Caldas), um curso de educação à distância, desenvolvido em seis municípios (Projeto Veredas), com um total de 4.070 alunos. Com as fundações agregadas são mais 83 cursos, 12.657 alunos e mais cursos de especialização. No campo de pesquisa são 14 projetos em andamento em Belo Horizonte e 35 nas fundações. Na área de extensão existem 16 projetos na área de Comunicação, nove de Direitos Humanos, 76 de Cultura, 194 de Educação, 28 de Meio Ambiente, 45 de Tecnologia, 45 de Trabalho e 26 de Saúde.

Números das fundações agregadas

Lavras - 14 cursos; 2 mil alunos, 280 profissionais entre professores e funcionários; Carangola - três faculdades, 112 profissionais entre professores e funcionários, 1.200 alunos; Ituiutaba - 14 cursos de graduação, 280 professores, oito cursos de pós-graduação e dois mil alunos; Varginha - 20 cursos, 4 mil alunos, 265 professores e 118 funcionários; Diamantina - duas faculdades, com cinco cursos, 750 alunos, 65 professores e 32 funcionários; Divinópolis - 20 cursos; 3 mil alunos, 200 professores, cem funcionários.

Deputados pretendem ajudar na solução do problema

Ricardo Duarte disse que Minas Gerais está atrasada na discussão da ciência e tecnologia, e "que não poderia ter chegado ao século XXI sem uma universidade estadual". Lembrando o investimento de outros Estados em suas universidades estaduais, como São Paulo (orçamento de R$ 2 bilhões para suas três unidades estaduais - Unesp, Usp e Unicampi), Rio, que terá R$ 600 milhões para o próximo ano, enquanto Minas deve destinar apenas R$ 50 milhões, para as nove unidades do interior e mais o campus de Belo Horizonte. O deputado prometeu contemplar todas as sugestões apresentadas em seu relatório

O deputado Domingos Sávio garantiu que os deputados querem ajudar o governador na busca de soluções para a Uemg, com seriedade, buscando um modelo estrutural baseado numa universidade 100% pública, multicampi. Defendeu também o novo ordenamento jurídico para a implantação da Uemg e a gestão autônoma da unidades do interior. O deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), apresentou requerimento pedindo uma audiência da comissão com o advogado-geral do Estado, José Bonifácio Borges de Andrada, para que seja explicada a situação da Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) que contestou a constitucionalidade da emenda constitucional proposta pelo deputado Paulo Piau, destinando 2% do orçamento do Estado para a Uemg e a Unimontes.

Presenças- Participaram da reunião os deputados Domingos Sávio (PSDB), presidente; Ivair Nogueira (PMDB); Dalmo Ribeiro (PSDB); Ricardo Duarte (PT), Jô Moraes (PCdoB); Leonardo Quintão (PMDB), e mais integrantes das fundações do interior.

 

 

 

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