Baixa aplicação de verbas na saúde será debatida em comissão

A Comissão de Saúde vai realizar audiência pública para discutir a aplicação de recursos na área da saúde, normatizad...

18/09/2003 - 18:44
 

Baixa aplicação de verbas na saúde será debatida em comissão

A Comissão de Saúde vai realizar audiência pública para discutir a aplicação de recursos na área da saúde, normatizada na Emenda à Constituição Federal 29, de 2000. O requerimento com esse teor foi aprovado na reunião da comissão desta quinta-feira (18/9/2003), na Assembléia de Minas. Vão ser convidados para a reunião representantes do Ministério Público Estadual, Tribunal de Contas de Minas, Conselhos Estadual e municipais de Saúde, além dos secretários de Estado da Saúde, da Fazenda e do Planejamento e Gestão.

A afirmação de que não seria viável para o Estado, no curto prazo, atender ao que determina a Emenda 29 quanto à área de saúde (aplicar 8,87% das receitas orçamentárias no setor) provocou a reação de todos os deputados presentes à reunião. O chefe da Assessoria Econômica da Secretaria de Estado da Fazenda, Iran Almeida Pordeus, disse que há uma dificuldade histórica do Estado de obedecer às determinações do Orçamento. Disse ele que, mesmo com o esforço para reduzir os gastos, por meio da reforma administrativa, e aumentar a arrecadação, está previsto um déficit de R$ 1 bilhão ao fim de 2003 (menos que os R$ 2,3 bilhões previstos no orçamento deste ano).

Vinculação de receitas - Uma das dificuldades para atender ao Orçamento apontadas pelo assessor seria a excessiva vinculação de receitas, com percentuais de gastos previstos em lei para educação, saúde, pesquisa. Há também o gasto com a folha de pagamento do Estado, que representa 75% das receitas (sendo 40% só com servidores inativos). Segundo Iran Pordeus, se forem somados todos os percentuais de receitas vinculadas mais as despesas correntes do Estado, atinge-se 103%.

Para Pordeus, não há condições de o Estado atender a essas prioridades ao mesmo tempo, isso sem considerar outras obrigações, como a segurança pública e as despesas correntes. O diretor da Superintendência Central de Planejamento da Secretaria de Estado do Planejamento e Gestão, Bernardo Tavares Almeida, ressaltou que o Estado tem o compromisso de aplicar recursos crescentes na saúde, mesmo sabendo que o percentual de 8,87%, previsto por lei, é materialmente impossível de ser aplicado. Ele lembrou também que a União consegue diminuir os gastos com a saúde por meio do dispositivo de desvinculação de receitas.

Deputados mostram insatisfação com a falta de recursos na saúde

Apesar dos argumentos dos técnicos das secretarias de Estado, vários deputados mostraram sua insatisfação com a falta de recursos aplicados na saúde. O deputado Neider Moreira (PPS), apesar de reconhecer as dificuldades de caixa do governo estadual, lembrou que os municípios, que também têm poucos recursos, investem na saúde acima até de suas metas. Ele condenou o descumprimento de várias leis, que estaria levando a uma falta de credibilidade das instituições perante a sociedade, podendo gerar um grave conflito social. "O povo é obrigado a cumprir suas obrigações; o governo, não!", criticou.

Convênios - O deputado Carlos Pimenta (PDT) observou que muitos avanços têm acontecido em áreas como a educação e a segurança pública, mas na saúde os problemas vêm se agravando. Ele relatou que, em 2000, o governo estadual firmou mais de 2 mil convênios com municípios mineiros para repasse de recursos da saúde. No fim de 2001, os valores não foram pagos aos municípios e lançados na conta Restos a Pagar. Com isso, segundo Pimenta, o Estado zerou suas contas com a União, mas deixou em maus lençóis os municípios, que ficaram como maus prestadores de serviços. Pimenta perguntou se esse problema poderia impedir que eles recebessem novos repasses da União e do Estado, mas os técnicos das secretarias disseram não ter informações a respeito. Carlos Pimenta ainda reclamou da desatenção do Estado com os Vales do Jequitinhonha e Mucuri e com a regiões Norte do Estado: "a saúde em Minas chegou a um ponto insustentável; é uma vergonha. E, acima do paralelo 18 (ao norte do Estado), é um caos!" Já o deputado Doutor Viana (PFL) questionou o tratamento diferenciado dado à União e aos Estados em relação aos municípios: "os Estados e o governo federal podem descumprir a Emenda 29, mas os municípios, não, pois são cobrados e ameaçados". Diante da total falta de recursos, ele lamentou que muitas unidades de saúde como hospitais e postos estão sendo fechados no interior.

Deputado diz que Estado não cumpre Constituição na área da saúde

Com críticas contundentes à atuação do Estado na saúde, o deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), 2º-vice-presidente da Assembléia, disparou: "a fala dos técnicos é uma confissão de que o Estado não cumpre a Constituição. Se sairmos daqui sem uma atitude forte em relação a essa declaração, a Assembléia perde sua função!" Ele propôs que a Comissão de Saúde fizesse a denúncia de descumprimento da Emenda 29 ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas do Estado. Também o deputado Chico Simões (PT) disse que a lei tinha que ser cumprida. "Temos que assumir a responsabilidade de denunciar ao MP. Quando um prefeito é denunciado, o MP ameaça colocar na cadeia; com o Estado, o tratamento tem que ser o mesmo!", enfatizou.

Também o vice-presidente da comissão, deputado Fahim Sawan (PSDB), reclamou da pouca prioridade dada ao setor de saúde, provocando o fechamento de hospitais e ambulatórios e a volta de doenças como chagas e dengue. Ele defendeu que o governo estadual invista pelo menos o mínimo estabelecido por lei. "Muito além dos números, temos que priorizar o ser humano; sabemos que não é gasto, é investimento em saúde", concluiu.

Denúncia - Diante da insatisfação manifestada pelos deputados, o presidente da comissão, deputado Ricardo Duarte (PT), apresentou requerimento pela formulação de denúncia formal ao MP e ao TCMG para que obriguem o Estado a cumprir a Emenda 29, alocando os recursos necessários. Mas os deputados Carlos Pimenta e Fahim Sawan manifestaram-se contra o requerimento, por entenderem que o Estado só poderia ser denunciado após o fim do exercício de 2003. Como solução para o impasse, o deputado Adelmo Carneiro Leão sugeriu que, em vez da denúncia, a comissão solicitasse uma audiência pública para discutir o assunto, o que foi aceito pelos deputados presentes.

Requerimento - Foi aprovado também requerimento do deputado Carlos Pimenta (PDT) solicitando audiência pública em Januária, para debater a instalação da Diretoria Regional de Saúde (Dads), que terá a função de coordenar a saúde pública dos municípios da Microrregião do Baixo São Francisco, com convidados. O deputado Neider Moreira (PPS) foi designado como relator, em 1º turno, do Projeto de Lei (PL) 928/2003, do deputado Doutor Ronaldo.

Presenças - Compareceram à reunião os deputados Ricardo Duarte (PT), presidente, Fahim Sawan (PSDB), vice-presidente; Carlos Pimenta (PDT), Célio Moreira (PL), Chico Simões (PT), Neider Moreira (PPS), Leonídio Bouças (PTB), Adelmo Carneiro Leão (PT), Doutor Viana (PFL) e Laudelino Augusto (PT). Além dos convidados citados, compareceram também o diretor da Superintendência Central de Administração Financeira da Subsecretaria do Tesouro Estadual, Eduardo Antônio Côdo Santos; e a diretora de Programação Orçamentária da Seplag, Ana Clara Bernardes de Oliveira.

 

 

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