Equipe hospitalar confirma que barman chegou morto
Em reunião fechada à imprensa, com medidas de
segurança para assegurar o sigilo e o anonimato dos depoentes como
precaução contra represálias, seis profissionais de saúde e de
assistência social do Hospital Odilon Behrens asseguraram aos
deputados da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia que o barman
Anderson Rodrigues Teixeira chegou morto à emergência, após ser
preso por policiais civis no dia 26 de agosto. A reunião foi nesta
terça-feira (9/9/2003).
O deputado Durval Ângelo (PT) falou em nome da
Comissão com a imprensa. "Médicos e enfermeiros que o examinaram
disseram que Anderson deu entrada na sala de emergência sem pulso,
com as pupilas dilatadas, feições arroxeadas e parada
cardiorrespiratória, em clara situação de óbito", descreveu o
deputado. O corpo não tinha marcas de espancamento, mas o deputado
acredita que Anderson tenha morrido em função de pressão aplicada em
seu peito com o joelho.
Muito dinheiro - Dados
novos foram trazidos à investigação da Comissão. Segundo Durval
Ângelo, o barman foi colocado na maca da emergência por dois homens,
provavelmente policiais, um deles com a camisa rasgada e sangue no
rosto. No entanto, não há descrição desses homens. Anderson
carregava R$ 5.700,00 no bolso interno do paletó, e esse dinheiro
foi encontrado por atendentes de saúde que listavam os pertences do
morto. Após a descoberta, policiais teriam exigido a entrega desse
dinheiro pelos atendentes.
Doação de órgãos - "Um dos
depoentes nos disse que, em 18 anos que trabalha no Odilon Behrens,
jamais viu tantos policiais dentro do hospital, nem tanta pressa
para liberar um corpo para o IML", revelou Durval Ângelo. A mãe de
Anderson, Nésia Rodrigues Teixeira, disse que sequer teve tempo de
doar os órgãos de seu filho, e com isso, salvar outras vidas. Nésia,
que trabalha como voluntária na Pastoral do Menor em sua comunidade,
afirmou que seu filho "não era violento, era um rapaz muito calmo,
falava baixo e adorava crianças", informou.
Já o pai do rapaz, o confeccionista José Leonardo
Teixeira, disse que o filho era forte, fazia musculação e que era
inflamado defensor do PT. "Precisaram juntar dez homens para
dominá-lo. Se ele agrediu o policial, este deveria fazer exame de
corpo de delito e meu filho seria indiciado por agressão. Mas o que
fizeram foi matá-lo dentro da viatura", acusou.
Durval denuncia omissão do Poder Público
O deputado Durval Ângelo lamentou que o temor de
represálias esteja dificultando as investigações, e acusou o poder
público de omissão. "No caso do chinês morto no Rio, em dois dias as
autoridades envolvidas tinham sido afastadas e cinco dias depois os
responsáveis foram demitidos. Aqui, a polícia sequer informa quem
prendeu o rapaz. A ocorrência teria que ir para uma delegacia do
centro e também para a Corregedoria, já que envolvia policial, mas
foi enviada para o Departamento de Investigações, onde o
corporativismo prevalece. Minas trabalha em silêncio e na impunidade
contra a vida humana", criticou o parlamentar, anunciando que, na
próxima quarta-feira, mais cinco pessoas irão depor.
O incidente - Anderson
Rodrigues Teixeira, de 30 anos, morou nos últimos oito anos na
Suíça, depois de passar quatro anos na Holanda. Nesses 12 anos,
trabalhou como garçom, ajudante de cozinha e barman. Nas horas
vagas, fazia musculação. Com o dinheiro poupado, decidiu regressar
ao Brasil. No dia 26 de agosto, saiu de casa para tirar R$ 5.000,00
no Banco do Brasil como parte do pagamento de um carro que iria
comprar. Estava bem vestido, envolveu-se numa discussão de política
com um idoso cambista de bilhetes de loteria no centro. Surgiu uma
briga, na qual interferiu um policial civil. O rapaz foi dominado e
preso por muitos policiais. Chegou sem vida à emergência do Hospital
Odilon Behrens. O atestado de óbito, segundo a mãe, registra "causa
indeterminada".
Presenças - Participaram
da reunião os deputados Durval Ângelo (PT), Roberto Ramos (PL), Biel
Rocha (PT) e Leonídio Bouças (PTB), além de seis depoentes cujos
nomes são mantidos em sigilo, e os pais da vítima, José Leonardo
Teixeira e Nésia Rodrigues Teixeira.
|