Equipe hospitalar confirma que barman chegou morto

Em reunião fechada à imprensa, com medidas de segurança para assegurar o sigilo e o anonimato dos depoentes como prec...

15/09/2003 - 11:42
 

Equipe hospitalar confirma que barman chegou morto

Em reunião fechada à imprensa, com medidas de segurança para assegurar o sigilo e o anonimato dos depoentes como precaução contra represálias, seis profissionais de saúde e de assistência social do Hospital Odilon Behrens asseguraram aos deputados da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia que o barman Anderson Rodrigues Teixeira chegou morto à emergência, após ser preso por policiais civis no dia 26 de agosto. A reunião foi nesta terça-feira (9/9/2003).

O deputado Durval Ângelo (PT) falou em nome da Comissão com a imprensa. "Médicos e enfermeiros que o examinaram disseram que Anderson deu entrada na sala de emergência sem pulso, com as pupilas dilatadas, feições arroxeadas e parada cardiorrespiratória, em clara situação de óbito", descreveu o deputado. O corpo não tinha marcas de espancamento, mas o deputado acredita que Anderson tenha morrido em função de pressão aplicada em seu peito com o joelho.

Muito dinheiro - Dados novos foram trazidos à investigação da Comissão. Segundo Durval Ângelo, o barman foi colocado na maca da emergência por dois homens, provavelmente policiais, um deles com a camisa rasgada e sangue no rosto. No entanto, não há descrição desses homens. Anderson carregava R$ 5.700,00 no bolso interno do paletó, e esse dinheiro foi encontrado por atendentes de saúde que listavam os pertences do morto. Após a descoberta, policiais teriam exigido a entrega desse dinheiro pelos atendentes.

Doação de órgãos - "Um dos depoentes nos disse que, em 18 anos que trabalha no Odilon Behrens, jamais viu tantos policiais dentro do hospital, nem tanta pressa para liberar um corpo para o IML", revelou Durval Ângelo. A mãe de Anderson, Nésia Rodrigues Teixeira, disse que sequer teve tempo de doar os órgãos de seu filho, e com isso, salvar outras vidas. Nésia, que trabalha como voluntária na Pastoral do Menor em sua comunidade, afirmou que seu filho "não era violento, era um rapaz muito calmo, falava baixo e adorava crianças", informou.

Já o pai do rapaz, o confeccionista José Leonardo Teixeira, disse que o filho era forte, fazia musculação e que era inflamado defensor do PT. "Precisaram juntar dez homens para dominá-lo. Se ele agrediu o policial, este deveria fazer exame de corpo de delito e meu filho seria indiciado por agressão. Mas o que fizeram foi matá-lo dentro da viatura", acusou.

Durval denuncia omissão do Poder Público

O deputado Durval Ângelo lamentou que o temor de represálias esteja dificultando as investigações, e acusou o poder público de omissão. "No caso do chinês morto no Rio, em dois dias as autoridades envolvidas tinham sido afastadas e cinco dias depois os responsáveis foram demitidos. Aqui, a polícia sequer informa quem prendeu o rapaz. A ocorrência teria que ir para uma delegacia do centro e também para a Corregedoria, já que envolvia policial, mas foi enviada para o Departamento de Investigações, onde o corporativismo prevalece. Minas trabalha em silêncio e na impunidade contra a vida humana", criticou o parlamentar, anunciando que, na próxima quarta-feira, mais cinco pessoas irão depor.

O incidente - Anderson Rodrigues Teixeira, de 30 anos, morou nos últimos oito anos na Suíça, depois de passar quatro anos na Holanda. Nesses 12 anos, trabalhou como garçom, ajudante de cozinha e barman. Nas horas vagas, fazia musculação. Com o dinheiro poupado, decidiu regressar ao Brasil. No dia 26 de agosto, saiu de casa para tirar R$ 5.000,00 no Banco do Brasil como parte do pagamento de um carro que iria comprar. Estava bem vestido, envolveu-se numa discussão de política com um idoso cambista de bilhetes de loteria no centro. Surgiu uma briga, na qual interferiu um policial civil. O rapaz foi dominado e preso por muitos policiais. Chegou sem vida à emergência do Hospital Odilon Behrens. O atestado de óbito, segundo a mãe, registra "causa indeterminada".

Presenças - Participaram da reunião os deputados Durval Ângelo (PT), Roberto Ramos (PL), Biel Rocha (PT) e Leonídio Bouças (PTB), além de seis depoentes cujos nomes são mantidos em sigilo, e os pais da vítima, José Leonardo Teixeira e Nésia Rodrigues Teixeira.

 

 

 

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 3290 7715