Adequação de lei ambiental é defendida em reunião de comissão

A Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial vai criar um fórum permanente para discutir formas de adequar as...

09/09/2003 - 21:00
 

Adequação de lei ambiental é defendida em reunião de comissão

A Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial vai criar um fórum permanente para discutir formas de adequar as leis ambientais à realidade dos setores produtivos do Estado. Requerimento nesse sentido, apresentado pelo deputado Paulo Piau (PP), foi aprovado na reunião desta terça-feira (9/9/2003), que contou com a participação de representantes do Ministério Público, das Secretarias de Estado de Agricultura e de Meio Ambiente e de diversas entidades ligadas ao assunto.

O deputado Paulo Piau, que solicitou a reunião, lembrou que no próprio Ministério Público há correntes distintas de interpretação da legislação. "As leis devem ser reais - e não ideais - para não sobrecarregar os setores diretamente envolvidos", afirmou. Ele deu como exemplo o caso do Rio Grande, que, apesar de ter a nascente em Minas, rende ao Estado de São Paulo enorme faturamento com o processo de irrigação, o que não é permitido aqui. "Este é um exemplo real de como nosso Estado está defasado", destacou.

O consultor de meio ambiente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faemg), Carlos Alberto Santos Oliveira, concordou com o deputado e defendeu um maior equilíbrio na interpretação das leis. "A Faemg realiza ações educativas para orientar os produtores, mas se Ministério Público, Polícia Militar, Fiemg e demais órgãos envolvidos não entrarem em um consenso quanto a vários pontos da legislação, a situação vai ficar insustentável em pouco tempo", alertou. Um exemplo, segundo ele, é a definição do que é reserva legal e como deve ser aplicada.

Outro convidado que defendeu uma adequação na legislação ambiental foi o presidente da Associação Mineira de Silvicultura, José Batuíra de Assis. "O Código Florestal, por exemplo, é meramente geométrico no que diz respeito à inclinação, quando deveria levar em conta o tipo de solo. Não há interlocutor para a produção, mas apenas para o comando e o controle", comentou. "As plantações, que ocupam apenas 0,5% do território do País, rendem 16,2 bilhões de dólares ao PIB nacional. É muito para uma área tão pequena", disse.

Políticas públicas - O engenheiro florestal da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Antônio de Pádua Alves, ressaltou as medidas que a Secretaria vem desenvolvendo para melhorar as condições dos produtores. Entre elas, a descentralização das ações de Belo Horizonte para o interior do Estado; a integração entre órgãos prestadores de serviço para agilizar os processos; e a isenção de exigências em determinadas faixas produtivas, como para monocultores de eucalipto.

O representante da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, José Silva Soares, também afirmou que a pasta está trabalhando para incrementar os setores produtivos, como a recuperação de bacias, a proteção de nascentes e a parceria com o governo federal para a revitalização do Rio São Francisco.

Procurador defende aplicação da lei

"A legislação estadual não pode ser menos protetora que a legislação federal", afirmou o procurador do Ministério Público, Luciano Luiz Pardini Araújo, reconhecendo as dificuldades sentidas pelos setores produtivos. Segundo ele, o Ministério Público já conseguiu reduzir a aplicação de multas nesse primeiro semestre. O procurador destacou que a função do órgão é zelar pelo cumprimento da lei, sem intenção de prejudicar qualquer classe produtiva: "A intenção da lei não é punir, mas repor o dano ao meio ambiente".

Segundo Luciano Luiz Pardini Araújo, o MP reconhece que a legislação tem falhas, mas nunca pode ser descumprida. "O Ministério Público pode propor sugestões para adequar a lei", disse. O procurador reconheceu que houve abusos no passado, como a aplicação de multas quando o produtor ainda sem licença ia buscar o licenciamento. Além disso, outro problema, ainda presente, conforme alegaram diversos representantes presentes na reunião, é a postura "apaixonada" de promotores recém chegados à instituição, que querem seguir a legislação à risca, sem tentar qualquer medida consensual.

Questionamento - "Fica claro que a legislação ambiental, precisa ser revista. Não agrada a nenhum lado", ressaltou o deputado Luiz Humberto Carneiro (PSDB). Segundo ele, uma definição urgente que precisa ser feita é a de quais são as áreas de preservação permanente do Estado. "Há municípios que possuem muitas terras improdutivas e podem desenvolver projetos que tragam recursos", disse. Ele afirmou que apresentará, nos próximos dias, um projeto de lei propondo viabilizar o desenvolvimento da agricultura em todo o Estado.

Já o deputado Padre João (PT) lembrou que outra dificuldade do Estado é a diversidade de recursos naturais, cuja utilização fica a cargo de uma única lei. "Falta também compromisso por parte dos municípios. Muitos não têm qualquer política de apoio à produção", analisou. Ainda de acordo com Padre João, apesar das dificuldades, é preciso estar atento ao controle ambiental. O deputado Laudelino Augusto(PT) enfatizou a importância de ouvir a sociedade no processo de elaboração das leis. O deputado Leonídio Bouças (PTB) lembrou que Minas Gerais foi, durante muitos anos, contra a produção em todos os setores.

Hidrelétrica - A Comissão de Política Agropecuária quer visitar o município de Coronel Murta, no Vale do Jequitinhonha, onde será construída a Usina Hidrelétrica de Murta, a requerimento dos deputados Padre João, Laudelino Augusto e Maria José Haueisen, todos do PT. Segundo os deputados, a obra, que gerará apenas 120 megawatts de energia, vai resultar no deslocamento de 900 pequenos e médios produtores rurais e na inundação de 22.600 hectares de terra nas cidades de Grão Mogol, Berilo, Coronel Murta, Josenópolia e Virgem da Lapa. O consórcio responsável pelo empreendimento, Murta Energética S.A., é formado pelas empresas Logos Engenharia (São Paulo), Construtora EIT (Ceará) e Eptisa (Espanha).

Presenças - Participaram da reunião os deputados Gil Pereira (PP), presidente; Luiz Humberto Carneiro (PSDB); Padre João (PT); Paulo Piau (PP); Leonídio Bouças (PTB); Célio Moreira (PL); Domingos Sávio (PSDB) e Laudelino Augusto (PT), além das autoridades citadas na matéria e de representantes de diversos órgãos e entidades produtoras e ambientais, como IEF, Semad, Embrapa, AMS, Coocacer, Amef, Credipontal, Amipa, Sindbio e Coopertinga.

 

 

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