Testemunhas confirmam agressões a rapaz que morreu em
viatura
Em depoimento na manhã desta quinta-feira
(4/9/2003), na Comissão de Direitos Humanos da Assembléia
Legislativa, duas testemunhas confirmaram as agressões sofridas por
Anderson Rodrigues Teixeira, morto no último dia 26, depois de ser
preso pela Polícia Civil, na Praça Sete, em Belo Horizonte.
Encapuzados, para preservação de sua identidade e segurança, S.B.F e
S.D.C.J. descreveram a prisão de Anderson e os maus-tratos sofridos
por ele, dentro de uma kombi da Polícia Militar, além de terem
manifestado a certeza de que o rapaz foi morto no local por um
policial civil.
Nova reunião - O
presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), informou que as
duas testemunhas foram ouvidas na quarta-feira (3) pelo Ministério
Público, como partes do processo que apura a morte de Anderson
Teixeira. Durval Ângelo disse que a comissão vai ouvir mais quatro
testemunhas, funcionários do hospital Odilon Behrens e os policiais
envolvidos. Deve ser marcada uma reunião extraordinária na próxima
semana. Os pais do rapaz morto, Nésia Rodrigues Teixeira e José
Leonardo Teixeira, presentes à reunião, afirmaram também não terem
dúvidas de que seu filho foi assassinado. Eles pretendem acionar
judicialmente o Estado.
Para o aniversário da mãe
Anderson Rodrigues Teixeira morou 12 anos na
Europa, quatro na Holanda e oito na Suíça. Estava no Brasil há
apenas três dias, para comemorar o aniversário da mãe. Ainda não se
decidira a retornar à Europa, mas, segundo os pais, estava propenso
a ficar por insistentes pedidos da família. No dia 26, foi preso na
Praça Sete. Ficou entre 30 a 45 minutos, segundo as testemunhas,
entre a kombi - identificada por S.D.C.J como sendo de placa
GTL-5774, pertencente ao 1° Batalhão da PM, onde sofreu as agressões
- e a viatura que o levou posteriormente para o Departamento de
Investigações e, cerca de três horas depois, para o hospital Odilon
Behrens, onde já teria chegado morto.
Segundo a primeira testemunha, S.B.F, quando
passava pela Praça Sete, naquele dia, já havia um aglomerado de
pessoas perto da kombi. Ele não acompanhou o momento da prisão, mas
viu quando Anderson Teixeira manifestava sinais de sufocamento,
"pois estava arroxeando". Disse que pediu ao policial para
socorrê-lo, "pois o rapaz estava morrendo", mas o policial teria
tentando dispersar os curiosos. A testemunha presenciou ainda a
chegada da viatura da Civil, "onde foi jogado o rapaz, sobre um
estepe, num chiqueirinho, na parte de trás, como um porco". Ele
teria presenciado ainda quando Anderson foi retirado da kombi, "já
agonizando", e comentários dos policiais de que não iriam levá-lo
para o hospital, mas para o Departamento de Investigações. S.B.F.
informou ainda que havia outro preso na viatura, porém foi levado
separado de Anderson.
Identificação
A segunda testemunha, S.D.C.J., identificou como
Ricardo o policial que teria chutado e pisado no tórax de Anderson.
Ele viu o momento da prisão, quando foi arrastado pela rua, já
algemado, por um policial mais velho, entre 47 e 52 anos, com quem
Anderson Teixeira teria discutido. S.D.C.J. afirmou ter visto o
policial Ricardo apertando as algemas, de joelhos sobre o peito do
rapaz morto, e ameaçando-o de morte.
As duas testemunhas disseram que os policiais não
tinham identificação e nem usavam coletes. Ambos descreveram o
policial com quem teria havido a briga "como muito agitado". E
confirmaram que quem viu a cena se indignou e tentou ajudar
Anderson, pedindo aos policiais que o socorressem, mas sendo
repelidos por eles, sob as ordens de "circula, circula e cala a
boca". A segunda testemunha acrescentou ainda que os policiais se
preocuparam, ao encontrar o passaporte de Anderson, com o visto da
Suíça.
O deputado Durval Ângelo estranhou a não-liberação
do laudo sobre a morte de Anderson Rodrigues Teixeira, que deveria
ter saído na quarta (3). Ele disse que tem informações de que o
laudo está pronto, mas não foi liberado. Na certidão de óbito não há
identificação da causa da morte.
Presenças - Participaram
da reunião os deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto
Ramos (PL), vice; Mauro Lobo (PSB), Weliton Prado (PT) e Roberto
Carvalho (PT).
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