Vítimas da tortura afirmam que Lei da Anistia é incompleta

Na data do 24º aniversário de vigência da chamada "Lei da Anistia", a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legi...

28/08/2003 - 15:42
 

Vítimas da tortura afirmam que Lei da Anistia é incompleta

Na data do 24º aniversário de vigência da chamada "Lei da Anistia", a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas realizou, nesta quinta-feira (28/8/2003), uma audiência pública para debater a situação das pessoas que foram presas, torturadas e exiladas durante o regime militar. De acordo com o deputado Durval Ângelo (PT), presidente da comissão, o período da ditadura não pode cair no esquecimento. "Ele tem que ser sempre discutido, para que não volte mais", afirmou o deputado na abertura da reunião, que contou com a presença de dezenas de pessoas que foram presas e torturadas por motivos políticos.

A Lei Federal 6.683/79, conhecida como "Lei da Anistia", foi criticada pelos participantes da audiência pública. Para o ex-deputado e atual subsecretário de Direitos Humanos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes, João Batista de Oliveira, a lei só anistiou os torturadores. Apesar de considerá-la uma conquista dos movimentos populares, ela se tornou uma "lei da amnésia", afirmou a coordenadora do Movimento "Tortura Nunca Mais", Heloísa Greco.

Já a coordenadora da Comissão de Anistiados, Gilse Cosenza, lembrou que a tortura continua sendo usada no Brasil como instrumento de investigação e recebeu aplausos da platéia ao cobrar punição para torturadores. Ela disse que a Argentina reverteu recentemente uma lei que impedia o julgamento de pessoas que praticaram tortura. Para a secretária executiva do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (Conedh), Caroline Dantas, "a anistia se materializa também na punição daqueles que impediram a existência de uma democracia no Brasil", opinou ela.

Vítimas cobram indenização

A questão da indenização às vítimas de tortura em Minas Gerais também foi debatida. Em 1999, o governo estadual sancionou a Lei 13.187, originada do Projeto de Lei 1.424/97, da deputada Maria José Haueisen (PT). A proposição prevê o pagamento de uma indenização cujo valor varia entre R$ 5 mil e R$ 30 mil às pessoas que, por razões políticas, foram torturadas pelos agentes estaduais. De acordo com o coordenador da Comissão de Indenização do Conedh, Robson Sávio Reis Souza, dos 225 processos aprovados em 2002, 129 ainda não foram pagos. Neste ano 65 processos já foram aprovados.

Souza cobrou do governo que, se não é possível pagar a todos de uma vez, que pelo menos seja estabelecido um cronograma. "Em que pese a difícil situação econômica do Estado, trata-se de uma decisão política", afirmou, acrescentando que o pagamento das indenizações não se restringe a questões financeiras ou administrativas. O deputado Roberto Carvalho (PT) também cobrou do governo estadual o cumprimento da lei. "É o resgate mínimo que deve ser feito", disse ele.

Programação - Durval Ângelo anunciou algumas das próximas atividades promovidas pela Comissão de Direitos Humanos. Ele disse que um debate semelhante ao desta quinta será realizado em João Monlevade. No dia 7 de outubro, a comissão fará uma reunião em Ipatinga para lembrar o 40º aniversário da invasão feita pela Polícia Militar na Usiminas, quando mais de 50 trabalhadores foram assassinados. Já no segundo semestre de 2004 será realizado um grande seminário sobre Direitos Humanos na Assembléia Legislativa, informou o deputado.

Presenças - Compareceram à reunião os deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Mauro Lobo (PSB); Roberto Carvalho (PT), Marília Campos (PT) e Biel Rocha (PT). Participaram ainda, além dos convidados citados na matéria, o vice-presidente da Associação dos Perseguidos Políticos do Brasil, Vicente Gonçalves; o gerente de atendimento do Procon-BH, André José de Castro Bernardes; o frei Cristóvão Pereira, do Fórum Mineiro de Direitos Humanos; e o coordenador municipal dos Direitos Humanos, Willian Santos.

 

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