Pensando em Minas debate atuação dos lobbies

Como conciliar os interesses particulares dos grupos de pressão e lobbies que atuam junto aos parlamentos com o inter...

25/08/2003 - 20:08
 

Pensando em Minas debate atuação dos lobbies

Como conciliar os interesses particulares dos grupos de pressão e lobbies que atuam junto aos parlamentos com o interesse público? Esse é o principal desafio a ser enfrentado na regulamentação da atuação dos lobbies, na opinião de Wagner Frederico Gomes de Araújo, aluno do curso de Administração Pública da Escola de Governo da Fundação João Pinheiro e autor do trabalho "Grupos de pressão, grupos de interesse e lobbies na reforma política brasileira: incorporação de interesses e democratização". O tema foi debatido nesta segunda-feira (25/8/2003) no programa "Pensando em Minas", da Escola do Legislativo da Assembléia. Além de Wagner Araújo, participaram do debate o assessor da Maioria e da Liderança do Governo na Assembléia, José Geraldo de Oliveira Prado; e, por meio do sistema Interlegis de videoconferência, a pesquisadora Laura Frade, mestre em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB).

Em seu trabalho, vencedor da 5ª edição do Prêmio Luís Eduardo Magalhães, promovido pelo Instituto Tancredo Neves, vinculado ao PFL, Wagner Araújo defende a institucionalização dos grupos de interesse como forma de aumentar a transparência e a democratização dos processos políticos. Segundo ele, há hoje, inclusive nos países com maior tradição democrática, uma crise do sistema de democracia representativa. Na raiz desta crise, ele identifica três fatores: a desproporção entre a vontade do eleitor e a ação do parlamentar; a falta de mecanismos que assegurem uma prática parlamentar coerente com as propostas e ideologia do partido do eleito; e a atuação, no parlamento, de outras pessoas que não são os parlamentares eleitos: pessoas que pertencem aos grupos de interesse, grupos de pressão e lobbies.

Modelos diferentes - Em sua palestra, Wagner Araújo lembrou as origens históricas dos grupos de interesse e as diferenças nas formas de atuação em diversos países. Enquanto nos Estados Unidos há o chamado "lobby limpo", institucionalizado desde a década de 30 do século passado, em que toda a atuação dos lobistas tem que ser registrada e as informações colocadas à disposição dos cidadãos; na Europa os lobbies atuam segundo um modelo diferente, em que grupos diversos reúnem-se, episodicamente, em torno de determinados assuntos. Já no Brasil, embora a discussão sobre os lobbies tenha começado na década de 20, há poucos estudos sobre o tema e a ação dos grupos de pressão não foi institucionalizada. Com isso, o próprio conceito de lobby carrega uma forte conotação negativa, sendo a ação dos lobistas relacionada a falcatruas e corrupção.

Para Wagner Araújo, a institucionalização dos lobbies, por si só, nada acrescentaria em termos de aperfeiçoamento democrático, a não ser que seja acompanhada de mecanismos que podem ser fruto de uma reforma política, como a fidelidade partidária. Na opinião dele, é fundamental que haja formas de controle sobre a atuação dos lobbies. "O ideal seria a criação de novos mecanismos de controle, pois os atuais Tribunais de Contas são muito fracos", analisou, ao defender a quebra de preconceitos e que a questão seja delimitada constitucionalmente e a atuação dos lobistas seja regulamentada pelos regimentos internos dos legislativos.

Experiência da Alemg

José Geraldo de Oliveira Prado falou sobre a experiência da Assembléia de Minas na mediação dos interesses dos diversos grupos de pressão e lobbies, iniciada com a Constituinte de 1989 e intensificada na década de 90, com o fortalecimento do papel das comissões no processo legislativo e a prática das audiências públicas como formas de se ouvir os diversos segmentos sociais. O processo foi aprimorado com a criação dos seminários legislativos, em que os grupos organizados da sociedade participam desde a formatação do evento, de forma transparente, e dos fóruns técnicos e ciclos de debates.

De acordo com José Geraldo, hoje o acompanhamento dos projetos de interesse do Poder Executivo no Legislativo está institucionalizada. De um lado, o Executivo acompanha de perto a tramitação de todos os projetos, inclusive os de iniciativa parlamentar. De outro, a Assembléia, por meio da Assessoria da Maioria, busca a opinião do Executivo sobre as proposições durante a tramitação, evitando que o Executivo só se manifeste quando a matéria é remetida à sanção. Na opinião de José Geraldo, o maior desafio na questão dos lobbies é evitar a prevalência de interesses privados sobre os públicos; e a transparência na atuação dos grupos de pressão e a mediação interpoderes conferem maior legitimidade às leis aprovadas. Ele citou, ainda, a apatia da sociedade frente às questões políticas e a complexidade do processo legislativo como dificuldades a serem vencidas.

Acesso às informações

Para Laura Frade, o acesso da população às informações sobre o que acontece no processo político é o ponto chave a ser enfrentado na discussão sobre a institucionalização da ação dos lobbies. Ela destacou a importância das ações de formação da cidadania para o aperfeiçoamento democrático, e avaliou que atualmente os brasileiros ainda não se sentem participantes do jogo político e do processo democrático. A cientista política lembrou que muitas vezes a população não é nem sequer capaz de entender as leis obrigam a fazer ou deixar de fazer algo. "O primeiro desafio é educar, instruir, informar as pessoas. Mostrar como funciona o Legislativo e como os cidadãos podem influenciar", frisou.

Laura Frade manifestou, ainda, sua preocupação com relação à forma de regulamentação da ação dos lobbies. "Por que todas as vezes que se regulamenta alguma coisa, cria-se reserva de mercado?", indagou, ressaltando seu ponto de vista de que o principal é garantir o acesso prévio da população a uma ampla informação sobre o que acontece no Legislativo e sobre os diversos interesses que, a cada momento, fazem parte da agenda e da pauta do Poder.

 

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