Protecionismo dos EUA é principal obstáculo à Alca
As barreiras protecionistas norte-americanas contra
produtos brasileiros foram apontadas com o mais importante entrave
ao ingresso do Brasil na Área de Livre Comércio das Américas (Alca),
pelos expositores que abordaram seus riscos e oportunidades, na
manhã desta sexta-feira (22/8/03) no Plenário da Assembléia. Régis
Arslanian, do Ministério das Relações Exteriores; o senador Eduardo
Suplicy (PT); Martha Lassance, da Fiemg; e Wilson Brumer, secretário
de Estado do Desenvolvimento Econômico, abordaram a evolução das
negociações em torno da área, o que seria desejável nos processos de
integração, os interesses da indústria mineira e brasileira, e a
balança comercial brasileira, durante o Ciclo de debates "O Brasil
na Alca".
O ministro Arslanian abriu sua exposição com um
desabafo: em décadas trabalhando com comércio exterior, nunca lidou
com uma agenda tão complexa e controversa quando a da Alca. Segundo
ele, a proposta norte-americana tem pontos insatisfatórios, ao
exigir a abertura de mercados na América Latina e manter barreiras
tarifárias e não tarifárias para acesso ao seu mercado. "Para
cumprir o cronograma de implantação da Alca até 2005, teremos que
ser mais pragmáticos e buscar equilibrar os interesses numa proposta
que seja aceitável para todos", disse o ministro.
Arslanian comentou também o subsídio que o governo
americano concede a seus produtos agrícolas, que foi de US$ 90
bilhões nos últimos oito anos, tornando impossível a entrada dos
produtos agrícolas brasileiros nos EUA. "O suco de laranja
brasileiro tem uma sobretaxa de 55% para entrar no mercado
americano; nossa cota de exportação de açúcar para lá é menor do que
a da República Dominicana; o mercado deles é fechado para a nossa
carne", ilustrou ele, ao comentar que o projeto da Alca coloca uma
redução progressiva das tarifas até chegar a zero.
Suplicy idealiza renda mínima do Alasca à
Patagônia
Se o profissional do Ministério das Relações
Exteriores propôs um caminho mais pragmático e realista para os
acordos da Alca, o senador Eduardo Suplicy (PT) preferiu dar asas às
utopias humanitárias, e imaginar uma integração das américas no
nível do que hoje se vê na União Européia. "Os cidadãos europeus
podem escolher onde querem viver, estudar ou trabalhar. Já os
americanos, que tanto aplaudiram a queda do muro de Berlim,
construíram outro muro maior para isolar-se da América Latina, na
fronteira com o México. Morre muito mais gente tentando transpô-lo
do que morreu nas décadas do muro de Berlim", disse o senador.
Suplicy lembrou que, em seu último ano de mandato,
George Bush pai dizia a Fernando Henrique Cardoso que, em 2005, a
América estaria unida "do Alasca à Patagônia". A aceleração da
implantação da Alca, após os atentados de 11 de setembro de 2001,
ganhou o nome de "fast-track", e agora os americanos têm o "Trade
Promotion Authority", que chega ao ponto de negar ao governo o
direito de negociar a imigração, disse o senador.
Após essas considerações, Eduardo Suplicy passou a
explicar o seu projeto de lei - já aprovado no Senado e que deve ser
votado na Câmara ainda este semestre - que condiciona a participação
do Governo nas negociações da Alca à promoção do desenvolvimento
econômico e social do país. Para ele, o Brasil deve sugerir aos
demais países que estabeleçam programas de renda mínima, "do Alasca
à Patagônia" e frisou que o Alasca é o estado mais igualitário dos
Estados Unidos, porque adotou programa semelhante a partir de
1976.
Siderurgia mineira é mais competitiva que a
americana
O secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas,
Wilson Brumer, retomou o tema da participação na Alca pelo prisma da
economia mineira. Informou que o Estado participa com cerca de 20%
no saldo da balança comercial brasileira e que o desempenho poderia
ser melhor se o Brasil tivesse investido mais em infra-estrutura e
logística nos últimos anos. Para Brumer, o Brasil inundaria o
mercado americano com produtos siderúrgicos, se não fossem as
barreiras protecionistas. "Nos últimos oito anos, nossa indústria
siderúrgica investiu R$ 12 bilhões para tornar-se competitiva. Hoje
somos muito mais competitivos que as siderurgias americanas, mas
eles continuam usando os velhos argumentos de quando nossa indústria
de base era estatal", afirmou.
O México e o Nafta - O
ponto de vista mineiro foi retomado também na exposição da
representante da Fiemg, Martha Lassance, que demonstrou que a
participação das exportações mineiras para os blocos da Alca, da
União Européia, do Mercosul e da Ásia é mais equilibrada do que a
nacional. Lassance acrescentou que a visão empresarial é "pragmática
e concreta", que muitos têm pensamento pré-formado, mas seus temores
seriam fundamentados. Analisou a experiência do Acordo de Livre
Comércio do América do Norte (Nafta), que teria sido negativa para o
México, ao permitir a instalação das chamadas "empresas
maquiladoras".
Martha Lassance disse que a exportação de US$ 20
mil em produtos, para o Brasil, custa R$ 3,588, e para os Estados
Unidos apenas U$ 2.215, e que a carga tributária na exportação aqui
é de 38% e lá de apenas 16,5%. No entanto, avaliou que os riscos de
ficarmos fora da Alca são maiores do que os da adesão. "O Brasil
fora significa isolamento, perda de mercados e sujeição a altas
tarifas", resumiu.
Presenças - Estiveram
presentes no Ciclo de Debates, durante a manhã, os deputados Adelmo
Carneiro Leão (PT), Maria Olívia (PSDB), Vanessa Lucas (PSDB),
Weliton Prado (PT), Chico Simões (PT), Rogério Correia (PT), Fábio
Avelar (PTB) e Ivair Nogueira (PMDB).
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