Assembléia cria Frente Parlamentar de Negociação da Alca

A Assembléia Legislativa lançou na manhã desta sexta-feira (22/8/2003) a Frente Parlamentar Mineira de Acompanhamento...

22/08/2003 - 14:15
 

Assembléia cria Frente Parlamentar de Negociação da Alca

A Assembléia Legislativa lançou na manhã desta sexta-feira (22/8/2003) a Frente Parlamentar Mineira de Acompanhamento das Negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). A primeira atividade foi a realização do Ciclo de Debates "O Brasil na Alca", com exposições e debates, durante todo o dia, no Plenário. Em seu depoimento, o ministro Régis Arslanian, diretor geral do Departamento de Negociações Internacionais do Ministério das Relações Exteriores, afirmou que no estágio atual, se não houver reestruturação das negociações, "não há futuro para a Alca e isto é consenso entre os 34 integrantes".

A abertura do Ciclo de Debates foi feita pelo deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), 2º-vice-presidente da Assembléia e autor do requerimento que pediu a realização do evento. Ele destacou a polêmica que é a criação da Alca, proposta pelos Estados Unidos em 1994, com o objetivo de instituir o livre comércio entre as 34 nações americanas, excluindo-se Cuba. Sobre a Frente, o deputado disse que se trata de uma contribuição de Minas para as deliberações do governo brasileiro, bem como de um estímulo para que outros Estados formem suas instituições similares.

Negociações passam por três vias

O ministro Régis Arslanian afirmou que há consenso entre todos os participantes, incluindo os Estados Unidos, de que é preciso rever as negociações sobre a Alca, principalmente em alguns pontos considerados "gargalos", pelos países mais fracos economicamente. Com a aproximação do prazo final para a implantação da área - janeiro de 2005 -, os integrantes aceitaram a proposta brasileira apresentada no último encontro de grupos setoriais, em El Salvador, e adotada pelos outros três países do Mercosul (bloco econômico formado pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai). O formato de negociação proposto pelo Brasil, segundo o ministro, é o do 4x1, ou seja, a negociação será feita pelo Mercosul com Estados Unidos, ou Canadá, ou México.

Ele destacou que ainda não existe a área, mas apenas um projeto, "o que não dá para classificá-la de boa ou ruim". Régis Arslanian apresentou a proposta do Itamaraty, em três vias. A primeira é a negociação bilateral, do Mercosul com os demais países, sobretudo Estados Unidos. Nessa fase, a discussão será sobre o acesso aos mercados, o que inclui, principalmente a questão tarifária e as barreiras. Como exemplo do desequilíbrio que é hoje, o ministro lembrou que a tarifa média imposta pelos Estados Unidos aos produtos importados do Brasil é de 44%, enquanto a tarifa média brasileira imposta a produtos estrangeiros é de 14%. Há ainda a questão das barreiras, que segundo o ministro tornam o mercado americano extremamente fechado, exemplificando com as dificuldades para as siderúrgicas brasileiras e a agricultura, com a política protecionista americana, para os dois setores.

Para a agricultura, o diplomata lembrou que os Estados Unidos têm uma política de incentivos para os próximos oito anos, que envolve U$ 80 bilhões. "O Brasil não consegue vender quase nada de produto agrícola para os Estados Unidos, apesar dos produtos brasileiros terem mais competitividade do que os norte-americanos". Por isso, segundo ele, os outros países precisam de mais acesso ao mercado americano, "se querem a Alca".

A segunda via refere-se às regras sobre o acesso aos mercados, os procedimentos, as soluções de controvérsias. Nesse ponto ele cita as exigências fitossanitárias impostas pelos Estados Unidos, em produtos brasileiros, como a carne. E a terceira via é a transferência da discussão sobre serviços de governo, propriedade intelectual e industrial, para a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Destacando que a negociação sobre a formação da Alca é seu trabalho mais difícil no Itamaraty, em 18 anos, Régis Arslanian, que já veio a Minas três vezes falar sobre o assunto, disse que a formação da área, se concluída bem ou mal, vai envolver um cenário de comércio para 20, 30 anos. "Hoje, 50% do meu trabalho estão dedicados a preparar as informações sobre a formação do bloco", afirmou.

O que é a área

A Área de Livre Comércio das Américas foi proposta pelos Estados Unidos na Primeira Cúpula de Chefes de Estado e de Governo das Américas, realizada em Miami, em 1994, com o objetivo de instituir o livre comércio entre os 34 países americanos. Em reunião posterior, definiu-se o ano de 2005 como o prazo limite para que entre em vigor o acordo destinado a institucionalizá-la.

Até agora, a preparação incluiu além da Cúpula, as reuniões ministeriais de Denver, em 1995; de Cartagena, em 1996; Belo Horizonte, em 1997; e San José, em 1998. E ainda a II Cúpula das Américas em Santiago, também em 1998; além das reuniões ministeriais em Toronto e Buenos Aires em 2000 e 2001. Já em 2002 acorreu a III Cúpula, em Quebec, com o início das negociações de acesso a mercados. Este ano já aconteceu a reunião ministerial de Quito.

Em seu pronunciamento, o deputado Adelmo Carneiro Leão, destacou que o acordo pode ser benéfico para todos os países, na medida que remove as restrições atuais à circulação de produtos e mercadorias no continente, "apesar de ser apenas uma tese". O aspecto negativo, para ele, é a desigualdade econômica dos outros países americanos frente aos Estados Unidos, favorecendo as empresas norte-americanas com maior poder de competitividade. Ele lembrou ainda, como um dos problemas da Alca, a ameaça à soberania nacional, "diante da probabilidade de uma crescente perda de mecanismos de proteção ao setor produtivo e aos recursos naturais brasileiros".

 

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