Hospitais universitários de Minas querem verbas emergenciais

O sucateamento dos hospitais públicos universitários no Estado, motivado principalmente por dívidas com contratos tra...

21/08/2003 - 19:11
 

Hospitais universitários de Minas querem verbas emergenciais

O sucateamento dos hospitais públicos universitários no Estado, motivado principalmente por dívidas com contratos trabalhistas e com fornecedores de equipamentos e materiais médicos, foi denunciado por diversos diretores de instituições nesta quinta-feira (21/8/2003), em reunião da Comissão de Saúde da Assembléia. Segundo a direção dos hospitais-escola, somente a aplicação imediata de recursos possibilitará a manutenção do atendimento até o final do ano. Para tentar garantir o funcionamento desses hospitais, a comissão, a requerimento de seu presidente, deputado Ricardo Duarte (PT), solicitará ao governo estadual a liberação emergencial de verbas.

"Esta é uma crise anunciada", analisa o reitor da Universidade Federal de Uberlândia, Arquimedes Diógenes Ciloni, explicando que as dificuldades se originam da falta de financiamento, da distribuição desigual de recursos entre os hospitais e, principalmente, da escassez de recursos humanos. Coordenador do Grupo de Trabalho dos Hospitais Universitários da Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais do Ensino Superior (Andifes), Ciloni se diz alarmado com os gastos das instituições para com funcionários terceirizados: "Os 45 hospitais-escolas do País representados pelo grupo reuniam, em 2001, 37.934 funcionários efetivos e quase 20 mil celetistas. Em 2002, este número passou para 22 mil, responsáveis por 37,5% do total de recursos recebidos".

Segundo ele, uma grande dificuldade das instituições será cumprir a decisão de Tribunal de Contas da União e do Ministério Público de demitir, em até um ano, todos os funcionários fundacionais. "Em Uberlândia, cada demissão custará R$ 3 mil. Não há caixa para isso", pondera. Arquimedes Ciloni afirma que, apesar de o governo federal reconhecer em R$ 230 milhões a dívida dos hospitais universitários, os hospitais consideram que esse valor ultrapassa a ordem de R$ 303 milhões. O reitor considera que alguns avanços foram obtidos em 2003, como concessão de vagas, aumento dos recursos do Fundo Interministerial e instalação de uma Comissão Interinstitucional Ampliada, com representação não só dos hospitais, como de gestores públicos.

Diretores explicam dificuldades

O superintendente do Hospital-Escola da Faculdade de Medicina do Triângulo, Hélio Moraes de Souza, está preocupado com a redução dos servidores da fundação de apoio. No hospital, que possui 343 leitos e registrou, em 2001, 343 mil atendimentos, trabalhavam 914 funcionários nessa situação. A folha deles correspondia a 59% do faturamento e já foram reduzidos a 778. A meta é ficar com 400. "A situação é caótica. O gasto inicial com a rescisão contratual é de R$ 80 mil. Todo dia tem fornecedor na porta do hospital querendo suspender entrega de material ou retirar equipamento", alerta.

Souza reivindicou maior subsídio do governo estadual, citando o exemplo do Paraná, onde o governo paga as contas de luz e água dos hospitais universitários, e sugeriu aos deputados a apresentação de projeto de lei nesse sentido. A sugestão foi encaminhada à consultoria da Assembléia Legislativa, para análise.

Já o diretor diretor-geral do Hospital das Clínicas de Uberlândia, Alair Benedito de Almeida, apontou a maior participação das instituições hospitalares universitárias na pactuação entre gestores como medida essencial para minimizar os problemas do setor. "Os 489 leitos do HC servem 100% ao SUS", afirma. O HC de Uberlândia, segundo ele, é o maior hospital universitário do Estado. As dificuldades são semelhantes às relatadas pelo diretor-geral do Hospital de Universitário de Juiz de Fora, Jorge Baldi.

Crédito social - Apesar de estarem sucateados pela crise financeira, os hospitais-escola têm enorme crédito social, conforme acredita o diretor clínico do Hospital das Clínicas da UFMG, Ênio Ribeiro Pietra, que destacou a importância dessas instituições na formação ética dos profissionais. "Os hospitais universitários custam caro, mas têm valor fundamental tanto para a sociedade quanto para as instituições privadas", reflete.

Recursos - Os hospitais-escola mantêm 10% dos 43.300 leitos hospitalares em funcionamento no Estado e, em 2002, foram responsáveis por 11,6% do total de internações realizadas. Esses números, segundo o subsecretário de Inovação e Logística à Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Marcelo Gouvea Teixeira, evidenciam a importância desse segmento como prestador de serviço à rede de saúde do Estado. "No ano passado, o nível médio de rejeição dos hospitais foi de 5%. No caso dos universitários, essa média ficou em 1%", afirmou. Ele disse que a Secretaria está revendo os valores de remuneração a procedimentos de baixa e média complexidade.

Deputados cobram mais atenção ao problema

Os hospitais universitários sempre foram vitrine para profissionais e sociedade, por realizarem procedimentos de alta complexidade que outros hospitais não conseguem executar, afirmou o deputado Fahim Sawan (PSDB), defendendo aumento na tabela de pagamentos. O presidente da Comissão de Saúde, deputado Ricardo Duarte (PT), destacou a excelência dos hospitais na formação profissional dos médicos. Para o deputado Neider Moreira (PPS), a crise dos hospitais-escola é reflexo da falta de prioridade dada à saúde pública no País. Já o deputado Leonídio Bouças (PTB) destacou a importância de refletir sobre os problemas da saúde em conjunto com a educação, "áreas estritamente ligadas".

O 2º-vice-presidente da Assembléia, deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), cobrou o repasse do mínimo constitucional por parte do governo estadual, afirmando que a obrigação já é cumprida pela grande maioria dos municípios. Ele referiu-se à Emenda Constitucional nº 29, de 2000, estabelece percentuais mínimos que os Estados devem investir em saúde. O deputado Sebastião Helvécio (PDT), por sua vez, pediu maior sensibilidade por parte do Ministério da Educação em relação às deficiências dos hospitais-escola, que até pouco tempo eram considerados "filhos bastardos". Os deputados ressaltaram ainda a importância da atuação da Frente Parlamentar da Saúde na defesa dos hospitais universitários.

Requerimento - A requerimento do presidente Ricardo Duarte, a comissão vai oficiar à empresa Siemens que renegocie prazo para pagamento de tomógrafos por parte do Hospital das Clínicas da Universidade de Uberlândia. A empresa teria ameaçado retirar os aparelhos do hospital no prazo de cinco dias, se a primeira parcela do pagamento não for efetuada.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Ricardo Duarte (PT), presidente; Adelmo Carneiro Leão, 2º-vice-presidente da Assembléia; Fahim Sawan (PSDB); Neider Moreira (PPS); Leonídio Bouças (PTB); Sebastião Helvécio (PDT) e Weliton Prado (PT).

 

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