Ministra afirma que sua missão é contribuir para um País mais
justo
Sem ter um programa concreto de ações, nem um
balanço a exibir ao final do ano, a ministra Matilde Ribeiro, da
Secretaria Especial de Políticas de Promoção de Igualdade Racial
(Sepir) do governo federal, disse que sua missão é abrir portas,
"dar um passo à frente para a formação de um País mais justo". A
declaração foi feita durante a reunião ordinária do Plenário da
Assembléia Legislativa, nesta quarta-feira (20/8/2003). A ministra
veio a Belo Horizonte atendendo a requerimento do líder do Bloco
PT/PCdoB, deputado Rogério Correia (PT), e participou da primeira
parte da reunião ordinária, que foi interrompida pelos deputados
para as homenagens a ela e a lideres de movimentos negros. Nessa
fase, os trabalhos foram conduzidos pelo deputado Adelmo Carneiro
Leão, 2º-vice-presidente da Assembléia.
Matilde Ribeiro, assistente social paulista, com
mestrado na PUC de São Paulo, foi assessora dos Direitos da Mulher
da prefeitura de Santo André, em São Paulo. Ela foi ativista de
movimentos feministas e do movimento negro e assumiu a Sepir há
cinco meses. Segundo a ministra, o marco do movimento negro foi a
"Marcha Zumbi dos Palmares pela Vida", feita em 1995, a Brasília,
que resultou na entrega de um documento ao governo federal contendo
o "Programa para Superação do Racismo no Brasil". Segundo Matilde, a
partir daí, a luta do movimento foi para incluir nas políticas
públicas, de forma permanente, os mecanismos de superação da
desigualdade racial.
Ação integrada com outros ministérios
A criação da Sepir, para a ministra, foi o
reconhecimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o
racismo existe no Brasil, além de ser o coroamento de três décadas
de lutas. Matilde Ribeiro disse que não cabe à sua Secretaria um
papel de executar programas, "mas de se relacionar com os demais
órgãos do governo, para que todos incluam em suas agendas a
discussão da desigualdade racial, com o objetivo de resgatar uma
história que o Brasil fez questão de esquecer".
Para ela, o melhor balanço de sua pasta ao final do
ano será apresentar um mapeamento de todos ministérios, órgãos e
governos estaduais e municipais, com quem foram mantidos contatos
para abrir a discussão sobre o racismo. Em entrevista concedida à
imprensa antes da reunião, Matilde Ribeiro, mesmo defendendo as
cotas em universidades públicas para os negros, afirmou que isso só
não é suficiente para inseri-los como cidadãos brasileiros. "É
preciso uma política de educação, e, principalmente, uma política
integrada com outras áreas, como as que lidam com emprego",
acrescentou.
Agenda nacional - Matilde
Ribeiro foi saudada pelo deputado Rogério Correia, ao dizer que a
discussão sobre a desigualdade racial é uma necessidade de Estado,
"que foi colocada na agenda nacional pelo presidente Lula". Já o
deputado Adelmo Carneiro Leão saudou a ministra anunciando a
disposição dele em apresentar um projeto de lei no Legislativo
Mineiro que objetive preservar áreas remanescentes de quilombos,
como espaços culturais.
Após a passagem pelo Plenário, a ministra reuniu-se
no auditório com dirigentes de rádios e tvs comunitárias e, mais
tarde, com lideranças religiosas de matriz africana. Á noite,
participaria de encontro com lideranças sindicais, na Escola
Sindical do Barreiro, e depois de um show de música de raiz
africana.
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