Pacientes de doenças intestinais crônicas pedem remédios gratuitos

A marcação de uma audiência com o secretário de Estado da Saúde, Marcus Pestana, com uma comissão de deputados, médic...

14/08/2003 - 14:44
 

Pacientes de doenças intestinais crônicas pedem remédios gratuitos

A marcação de uma audiência com o secretário de Estado da Saúde, Marcus Pestana, com uma comissão de deputados, médicos e pacientes foi um dos resultados da reunião realizada pela Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa, nesta quinta-feira (14/8/2003). A reunião discutiu as dificuldades dos portadores das doenças de Crohn e retocolite ulcerativa, em conseguir, gratuitamente, os medicamentos no Estado, apesar de a Portaria 1.318/2002, do Ministério da Saúde, prever tal custeio desde setembro do ano passado.

Participaram da reunião o representante da Secretaria, Benedito Scaranci Fernandes, superintendente de atenção à saúde, os deputados da comissão, todos médicos, pacientes das doenças e os médicos especialistas - gastroenterologistas e coloproctologistas. O representante da SES ficou de levar o debate ao secretário e marcar a audiência. Foi sugerido por requerimento do deputado Fahim Sawan (PSDB) que seja encaminhado à Frente Parlamentar em Defesa da Saúde, da Câmara de Deputados, um pedido para que os remédios para tratamento de doenças raras, especificamente a doença de Goücher - que em Minas consome 60% dos recursos do setor -, sejam custeados diretamente pelo Ministério da Saúde, sem passar pelos custos do Estado, para que sobrem mais recursos para as demais doenças. A doença de Goücher, hematológica, tem 60 pacientes no Estado.

Doenças vêm aumentando no Brasil

As doenças de Crohn e retocolite ulcerativa são enfermidades inflamatórias intestinais crônicas. Caracterizam-se por uma sintomatologia que causa problemas sociais aos seus portadores. Eles são acometidos por diarréias hemorrágicas freqüentes, que provocam anemia e emagrecimento. Tal quadro leva a constantes afastamentos das atividades profissionais. As enfermidades são mais freqüentes na Europa, acometendo pessoas de classes sociais mais altas. Segundo os especialistas, no Brasil, a incidência da doença está crescendo muito e atacando pessoas mais pobres.

Os remédios mais usados são a mesasalazina, sulfasalazina e infliximabe, todos de alto custo comercial. Não há um levantamento preciso do número de pessoas acometidas pelas doenças em Minas, mas na Secretaria da Saúde já existe um cadastro com 20 mil pacientes interessados em receber os medicamentos. No Estado está sendo criada uma associação dos portadores das doenças de Crohn e retocolite ulcerativa, o Grupo de Apoio aos Portadores de Doenças Inflamatórias Intestinais (Gadii), que já conta com 60 integrantes. Em São Paulo foi criado há mais tempo o primeiro grupo do Brasil, a Associação Brasileira de Doença de Crohn e Retocolite (ABCD).

Ministério não fez repasse de recursos

O representante da Secretaria da Saúde, Benedito Fernandes, disse que a portaria não está sendo seguida, porque o Estado não tem recursos. Apesar de reconhecer como legítimo o direito dos portadores das duas doenças, o médico destacou que o Ministério da Saúde aumentou de 42 para 91 os medicamentos a serem fornecidos pelas secretarias estaduais, "mas não fez qualquer repasse de recursos, permanecendo o mesmo valor de quando eram fornecidos os 42 tipos".

Ele disse que foi feito um acordo com os laboratórios, com a supervisão do Ministério da Saúde, para a redução do ICMS, com o compromisso de diminuição do preço final para os pacientes. Segundo Benedito Fernandes, os laboratórios não abaixaram os preços. Diante disso, em reunião realizada em março, no Ministério, o secretário Marcus Pestana pediu mais recursos, e criou uma subsecretaria de Novação e Logística, encarregada de fazer o cronograma das necessidades de distribuição dos medicamentos. Ele reclamou da legislação de licitações, que atrasa muito o processo de reposição dos medicamentos. Mesmo assim, Benedito acredita que, até o final do ano, a distribuição dos medicamentos para tratamento dessas doenças esteja normalizado.

Doença dolorosa e tratamento caro

Além dos problemas psicológicos causados pela doença, com constantes afastamentos e os incômodos dos sintomas, o paciente da Retocolite Ulcerativa e da Doença de Crohn enfrenta o alto custo do medicamento. O deputado Neider Moreira (PPS), autor do requerimento que originou a reunião, mostrou uma receita de um paciente tratado com a mesasalazina. Para a dosagem recomendada do remédio, o doente precisaria gastar cerca de R$ 780 por mês, com o uso de seis a sete comprimidos diários. Uma caixa com 52 comprimidos custa R$ 192.

A representante do Gadii, Elizeth Nardi, advogada do grupo e portadora da doença de Crohn, lembrou as dificuldades dos pacientes e disse que os afastamentos constantes pelo INSS ficam mais caros que o fornecimento dos remédios. Ao seu pedido, a paciente Alessandra Castro prestou um depoimento sobre suas dificuldades em conseguir o remédio na Secretaria da Saúde, que culminaram com um mandado de segurança, que lhe garantiu o direito de receber o remédio. Elizeth Nardi pediu que a solução não viesse através do Judiciário, mas de um entendimento com a Secretaria da Saúde, com o apoio dos deputados.

A médica Sinara Mônica de Oliveira Leite, especialista em coloproctologia, afirmou que há um crescimento das duas doenças no Brasil, que ao contrário da Europa, vem atacando nas classes mais pobres, "incluindo a população rural". A gastroenterologista Maria das Graças Pimenta Sanna disse que a doença compromete a integridade da pessoa, "por isso, a visão da assistência ao paciente tem de ser multidisciplinar, envolvendo o médico, o terapeuta, o psicólogo e os grupos de apoio que estão se formando". Segundo ela, tais pacientes, bem assistidos, têm uma vida de quase normalidade em outros países. Ela informou ainda que os médicos da área estão se organizando para criar uma central comum de informações e que dentro de um ano, já haverá uma projeção da incidência das duas doenças no País.

O presidente da comissão, que também é médico, deputado Ricardo Duarte (PT), disse que a comissão está aberta a encontrar soluções com os pacientes, tendo acatado a sugestão de se trabalhar com a Frente Parlamentar da Saúde da Câmara de Deputados. Fahim Sawan propôs que, na audiência com Marcus Pestana, seja pedido o cumprimento da exigência constitucional que obriga o Estado a aplicar 10,5% na saúde este ano e 12,5% no próximo. Ele destacou ainda a "situação absurda" da dívida do Estado na área da saúde: R$ 1 bilhão.

Presenças - Além dos convidados, participaram os deputados: Ricardo Duarte (PT), presidente; Neider Moreira (PPS) e Fahim Sawan (PSDB).

 

 

 

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