Direitos Humanos cobra do Estado solução para Furtos e Roubos
A Comissão de Direitos Humanos vai cobrar dos
Poderes Executivo e Judiciário uma solução para o problema da
superlotação de presos na Delegacia de Furtos e Roubos, em Belo
Horizonte. Requerimento nesse sentido foi aprovado nesta
quarta-feira (13/8/2003), em reunião da comissão, requerida pelo
deputado Célio Moreira (PL), no salão paroquial da Igreja de São
Sebastião, no Barro Preto. Nesse bairro se localiza essa delegacia e
outras duas - a de Furtos de Veículos e a de Mulheres. Na Furtos e
Roubos, que possui 80 vagas, estão encarcerados, atualmente, 520
presos, muitos com sentenças julgadas, que já deveriam ser removidos
para penitenciárias. Devido a superlotação e condição subumana dos
detentos, só em 2003, ocorreram 20 mortes na delegacia. A população
da região tem ficado apreensiva com constantes tentativas de fugas,
rebeliões e mortes.
Um dos requerimentos da comissão solicita
informações ao governador Aécio Neves sobre o cronograma para a
desativação da Furtos e Roubos. Outro requerimento pede a visita da
comissão ao presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais
cobrando desse poder o cumprimento das decisões judiciais que
limitaram o número de presos a um máximo de 200 nessa delegacia e
também na de Tóxicos e Entorpecentes. Segundo o presidente da
comissão, deputado Durval Ângelo (PT), no caso da Furtos e roubos, a
liminar foi proferida, há mais de quatro anos, pelo juiz Cássio
Salomé, exigindo inclusive que essa delegacia fosse desativada.
Três novas penitenciárias vão ser inauguradas
O superintendente geral da Polícia Civil, Elson
Matos da Costa, anunciou que até, no máximo, o dia 15 de setembro
deste ano, os presos das delegacias de Furtos e Roubos e da Tóxicos
e Entorpecentes seriam transferidos para as três novas
penitenciárias do Estado: "É uma promessa do governador de que não
haverá mais nenhum preso nessas delegacias". Ele acrescentou que as
três novas penitenciárias, em Uberlândia, São Joaquim de Bicas e
Pará de Minas, com capacidade para 395 presos cada uma, serão
inauguradas em breve.
Já o superintendente de Segurança e Movimentação
Penitenciária, José Karan, respondendo a uma pergunta do deputado
Célio Moreira (PL) sobre a viabilidade de cumprir esse prazo,
afirmou que não seria possível a remoção até 15 de setembro. Para
ele, apesar de as três novas unidades estarem quase prontas, há
outras despesas (como mobiliário, infra-estrutura) que dificultariam
o cumprimento do prazo, devido às dificuldades financeiras do
Estado.
Greve de fome - O delegado
titular da Divisão de Crimes contra o Patrimônio, Marcelo Machado,
avaliou que, se não houver a transferência dos presos da Furtos e
Roubos, os problemas com rebelião, mortes e tentativas de fuga vão
continuar. Na semana passada, os presos fizeram uma greve de fome -
"movimento pacífico e ordeiro", segundo ele, exigindo a
transferência de presos já condenados, sendo transferidos 40 deles.
Juiz revela que mais de 2000 presos estão em
situação irregular
O juiz da Vara de Execuções Criminais de Belo
Horizonte, Hebert Almeida Carneiro, revelou que, só em Belo
Horizonte, são mais de 2.000 presos em situação irregular - em
delegacias, distritos policiais - que deveriam ser transferidos para
penitenciárias. Além disso, a determinação de que o preso deve ficar
próximo a sua família, prevista na Lei de Execução Penal, também não
é cumprida. Carneiro avalia que, mesmo se fossem construídos outros
presídios, o problema penitenciário não estaria resolvido. O juiz
aposta na construção de Apacs como um modelo mais adequado para o
problema carcerário, mas ele pondera que isso só surtirá efeito com
a participação efetiva da sociedade.
Concordando com o juiz, o representante da Pastoral
Carcerária, Fábio dos Santos, acredita que a solução do problema
carcerário passa pelas Apacs. Ele avaliou que, somente com o
envolvimento de todos os poderes, do Ministério Público e da
sociedade civil, a questão poderá avançar. Santos criticou também as
falas dos representantes da Polícia Civil, declarando que elas eram
um "atestado claro de que não há uma política penitenciária no
Estado".
Ilegalidade - Num tom
também crítico, o representante da Pastoral Evangélica, Roberto Luiz
da Silva, atacou a postura do Poder Executivo com relação ao não
cumprimento das determinações judiciais quanto às delegacias de
Furtos e Roubos e Tóxicos e Entorpecentes: "Temos um Estado que não
cumpre as leis!" Ele defendeu o uso emergencial da penitenciária
Nelson Hungria, que poderia abrigar dois presos por cela, em vez de
um, como acontece hoje. Como essa penitenciária tem capacidade para
cerca de 750 presos, todos os detentos das duas delegacias poderiam
ser transferidos para lá, na opinião dele.
Padre exige desativação da delegacia e não só da
carceragem
O pároco da Igreja de São Sebastião, padre José
Cândido, reivindicou não somente a destruição da carceragem na
Delegacia de Furtos e Roubos, mas sim, sua completa desativação. No
entender dele, se apenas retirarem a carceragem, "daqui a pouco,
volta a mesma situação". Ele reclamou também da interdição da rua
Uberaba à noite pela Polícia Civil, cerceando o direito dos cidadãos
de passarem pelo local público. Vários membros dessa polícia
justificaram que a interdição era para a segurança da própria
população. De acordo com Elson Matos, bandidos de várias quadrilhas
estão presos na Furtos e Roubos, havendo grande perigo de tentativas
de fugas e resgates de presos, principalmente à noite.
Requerimentos - Além dos
requerimentos cobrando providências com relação à Delegacia de
Furtos e Roubos, foram aprovados outros dois solicitando debates
públicos. O primeiro, assinado pela comissão, requer o debate da
comissão com agentes públicos de todas as esferas sobre a
implantação do Estatuto do Idosos, aprovado recentemente no Senado
Federal. O segundo requerimento, do deputado Célio Moreira (PL),
solicita debate público, envolvendo a sociedade e a Prefeitura de
Belo Horizonte, sobre o modelo Apac e sobre a possibilidade de
implantação de uma Apac na Capital.
Presenças - Participaram da
reunião os deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos
(PL), vice; e Célio Moreira (PL). Além das autoridades citadas,
compareceram também: o coordenador de operação da Chefia de Polícia,
João Evangelista Souza Netto; e representantes das Associações
Comunitária e Comercial do Barro Preto.
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