Concentração de recursos na União é criticada por prefeitos

Mais de 50 prefeitos mineiros participaram nesta quarta-feira (13/8/2003) da reunião conjunta das comissões de Admini...

13/08/2003 - 22:31
 

Concentração de recursos na União é criticada por prefeitos

Mais de 50 prefeitos mineiros participaram nesta quarta-feira (13/8/2003) da reunião conjunta das comissões de Administração Pública e de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembléia de Minas, que discutiu a redução do repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) pelo governo federal. A transferência de compromissos para os municípios e a concentração de recursos nas mãos da União foram as principais reclamações dos prefeitos presentes.

O presidente da Comissão de Administração Pública, deputado Domingos Sávio (PSDB), convocou os prefeitos para o evento institucional "Em defesa dos municípios", que a Assembléia realiza no dia 26 de agosto, e propôs um encontro dos prefeitos com os deputados federais e senadores mineiros para discutir medidas concretas em defesa dos municípios. "Precisamos que os deputados e senadores digam se vão votar contra ou a favor dos municípios. Queremos medidas concretas, como a apresentação de emendas à reforma tributária que favoreçam os municípios", afirmou o deputado.

Segundo Domingos Sávio, a reforma tributária está sendo pautada pelo Estado e pela União, sem atender ao pleito dos municípios. Para o deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), autor do requerimento para a realização da reunião, o repasse do FPM para os municípios caiu de 20% para 13%, enquanto os encargos aumentaram. "Precisamos fazer prevalecer o pacto federativo. Não nos contentamos com a medida paliativa do governo federal de encaminhar uma verba extra em agosto. Os municípios precisam de uma previsibilidade", afirmou.

A concentração de recursos nas mãos da União, que acumula cerca de 70% do montante arrecadado com impostos, foi criticada também pelo deputado Bonifácio Mourão (PSDB). Segundo ele, a CPMF rende R$ 24 bilhões por ano e os municípios não recebem nada. "Todos vivemos em municípios. Se os municípios não se fortalecerem, nunca teremos um país forte", disse. Para o deputado Chico Simões (PT), o problema dos municípios não é a falta de dinheiro, mas o desrespeito ao pacto federativo, em que os prefeitos recebem atribuições que não são deles. Chico Simões disse ainda que a distribuição do ICMS é injusta, priorizando os municípios mais ricos.

Mais compromissos - O acúmulo de compromissos por parte dos municípios foi criticado também pelo subsecretário de Estado de Assuntos Municipais, Aristides Vieira. Segundo ele, as ações que geram ônus financeiros, como educação, segurança e saúde, de competência da União, estão sendo assumidas pelos municípios. "É inadmissível que os municípios tenham todos os seus recursos comprometidos com folha de pagamento e com obrigações constitucionais, e fiquem sem condições de investir e de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos", defendeu.

Prefeitos pedem apoio a deputados

O vice-presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), José Silvério, falou das dificuldades encontradas pelos prefeitos e pediu o apoio dos deputados. Ele ressaltou que os parlamentares representam os 853 municípios, enquanto cada prefeito representa apenas um. As dificuldades sofridas pelos pequenos municípios foram apresentadas pelo vice-presidente da Associação dos Municípios do Médio Sapucaí (Amesp), Reinaldo Ferreira Costa. Segundo ele, os moradores dessas cidades estão buscando os municípios maiores, devido à falta de assistência onde moram.

De acordo com o prefeito Sebastião Edicássio, presidente da Associação dos Municípios da Microrregião do Alto Sapucaí (Amasp), os prefeitos estariam sendo obrigados a fazer cortes em serviços essenciais. Ele convocou os prefeitos a se unirem. "Nós não sabemos a força que temos. Estamos como elefantes dormindo", disse. O presidente da Associação dos Municípios da Microrregião do Circuito das Águas (Amag), Luiz Vilela, lembrou que, além das áreas de saúde e segurança já estarem quase totalmente nas mãos dos municípios, os prefeitos ainda precisam cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal. "Como faremos?", desabafou o prefeito.

Preocupações do TCMG - A preocupação de que a diminuição no repasse do FPM aumente os índices de desemprego e provoquem perda de qualidade do serviço público foi manifestada pelo diretor de auditoria do Tribunal de Contas do Estado, Marconi Augusto Fernandes. Ele ressaltou ainda que a legislação restritiva aplicada hoje aos municípios, o aumento dos compromissos que eles têm que assumir e a queda das transferências governamentais são as principais preocupações do Tribunal de Contas com relação à situação dos municípios.

O representante da Frente Mineira de Municípios, Nilson Souto, disse que os repasses do FPM não sofreram redução, e que dados fornecidos pela Secretaria do Tesouro Nacional demonstram que as oscilações sempre aconteceram. Ele defendeu que as prefeituras reivindiquem a participação na distribuição da Cide e da CPMF, além de refletirem sobre a necessidade de realizarem reformas administrativas no âmbito dos municípios para corrigir falhas de gestão. Os deputados Paulo César e Zé Maia (PSDB) também defenderam uma distribuição mais justa dos recursos arrecadados pela União.

Debates - Na fase de debates, Aramis Passuelo, prefeito de Fronteira, aprovou o movimento municipalista que será lançado na Assembléia, no dia 26. Segundo ele, "de Minas saem sempre as grandes decisões que depois o Brasil adota".

José Geraldo Andalécio Costa, de Moema, concentrou-se na injustiça tributária, ao dizer que seu município tem 8 mil habitantes e paga 40 professores. O município vizinho tem 1.700 habitantes e paga apenas cinco professores. No entanto, recebem o mesmo repasse do FPM. Para ele, "o repasse de FPM não caiu. Continuou o mesmo. Mas a luz subiu, os combustíveis também, as dívidas da Prefeitura também". Costa disse que é cobrado pessoalmente pelo eleitor sobre o valor do IPTU, e conclui que "está muito difícil ser prefeito".

Os problemas das cidades médias e pequenas é vivenciado simultaneamente pelo prefeito de Pouso Alegre, Enéas Castilho Chiarini, que custeia muitos dos serviços que antes eram pagos pelo Estado. "Se há um hemocentro na cidade, é porque nós pagamos os funcionários. Se há IML, nós também pagamos. Para o funcionamento das duas novas varas da Justiça, pagamos aluguel, luz, telefone e funcionários. Ao todo, cedemos 130 funcionários ao Estado, a um custo de quase R$ 100 mil por mês". Chiarini acha injusto que o Governo Federal conceda redução do IPI sem consultar os municípios, e também que o Estado perdoe multas de trânsito sem consultá-los. "Seria justo que cada esfera fizesse suas cortesias com suas cotas-partes, sem tocar nas nossas, porque precisamos de cada centavo para cumprir nossos compromissos", disse ele.

Marlene Bastos Costa, de Bandeira do Sul, também descreveu o aumento progressivo dos gastos municipais, ao assumir responsabilidades com a educação, e propôs a municipalização da PM. Para ela, policiais locais seriam mais adequados para lidar com as demandas do município.

O encerramento da reunião foi feito por três deputados. José Henrique lembrou o tempo em que presidiu a Comissão de Assuntos Municipais e acompanhou o processo de emancipação de uma centena de municípios mineiros. "A emancipação foi a forma encontrada para redistribuir os recursos tributários, que, de outra maneira, jamais chegariam a distritos remotos do município original. Desde que a Constituição de 88 deu importância ao município como ente federado, levando-o a assumir outras responsabilidades, temos agora que lutar para que o município alcance sua autonomia.

Dalmo Ribeiro Silva acredita que o governo do Estado já está sensibilizado para apoiar a luta dos prefeitos. Afirmou que o evento marcado para o dia 26 de agosto na Assembléia será o primeiro passo para a criação da Frente Municipalista, "que será um movimento permanente, resgatando o verdadeiro sentimento do municipalismo e fazendo com que o pacto federativo seja respeitado".

Domingos Sávio encerrou definindo que "municipalismo não é atender o interesse dos prefeitos, mas dos municípios". Confirmou que a Comissão de Administração Pública estará em mobilização permanente até a votação da reforma tributária, "para assegurarmos justiça fiscal no país". O deputado anunciou que, no dia 26, será lançado um manifesto municipalista contendo as emendas que os prefeitos e suas entidades desejam ver incluídas na Reforma Tributária, particularmente as que assegurem parcelas da CPMF e da Cide, "mesmo que o Sr. Palocci e o FMI não queiram".

Presenças - Participaram da reunião os deputados Domingos Sávio (PSDB), presidente da Comissão de Administração Pública; Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), vice; Carlos Pimenta (PDT); Leonardo Quintão (PT); José Henrique (PMDB); Gilberto Abramo (PMDB), vice-presidente da Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização; Zé Maia (PSDB); Ana Maria (PSDB); Bonifácio Mourão (PSDB); Chico Simões (PT); Jayro Lessa (PL); Adalclever Lopes (PMDB); Paulo Piau (PP); Gustavo Valadares (PFL) ; Paulo César (PFL), Fahim Sawan (PSDB); e Weliton Prado (PT). Além dos expositores citados na matéria, participaram da reunião o presidente da Amarp, Edson Lopes; e o presidente da Femam, José Fernando de Oliveira.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 3290 7715