Órgãos ambientais defendem uso racional dos agrotóxicos

A racionalização do uso dos agrotóxicos foi defendida nesta terça-feira (12/8/2003) pelos participantes da reunião da...

12/08/2003 - 19:36
 

Órgãos ambientais defendem uso racional dos agrotóxicos

A racionalização do uso dos agrotóxicos foi defendida nesta terça-feira (12/8/2003) pelos participantes da reunião da Comissão Especial dos Acidentes Ambientais da Assembléia de Minas. Para o coordenador técnico de Meio Ambiente da Emater, José Fernando Domingues, os acidentes provocados pelos agrotóxicos poderiam ser evitados se os aplicadores do produto seguissem as instruções técnicas e utilizassem aparelhos adequados para esse trabalho. Segundo ele, alguns aplicadores desconhecem totalmente a forma correta de se utilizar esses produtos. José Fernando disse ainda que considera a exigência do receituário agronômico um saneador para esse problema. "O técnico fornecerá a receita indicando o produto adequado para cada caso e a forma correta de aplicá-lo", disse.

O diretor da Secretaria de Assalariados da Fetaemg, Jairo Darcy Passos, ressaltou o uso abusivo de agrotóxicos, sem os devidos cuidados na sua aplicação, pelos agricultores familiares, que não têm instrução. Segundo ele, a preocupação da Fetaemg não é só com a preservação do meio ambiente, mas especialmente com os agricultores e com os consumidores de produtos agrícolas. Jairo Passos disse ainda que falta uma fiscalização mais efetiva do comércio de defensivos agrícolas e que é possível comprar esses produtos sem receita.

O engenheiro do IMA, Heitor Schiavon Cougo discordou do diretor da Fetaemg, dizendo que a fiscalização do comércio de agrotóxicos é feita pelo instituto, onde são feitos os registros para venda desses produtos. O engenheiro apresentou algumas propostas para minimizar os acidentes provocados pelo uso abusivo de agrotóxicos, como a habilitação do aplicador, a proibição da capina química (uso de herbicida) em região urbana, a inclusão da disciplina Toxicologia na grade curricular dos cursos de ciências agrárias e a normatização de distâncias para aplicação dos agrotóxicos. Para o coordenador da área rural da Fundacentro, Antônio Ídolo Dias, essa normatização é complexa, já que uma gota de agrotóxico pode ser levada pelo vento por quilômetros. Ele denunciou ainda a utilização de pivôs de irrigação para aplicar o produto.

A exigência por lei do descarte dos recipientes que armazenam o agrotóxico, após seu uso, também foi considerada um avanço por Antônio Dias. Segundo ele, a inutilização desses recipientes evita a contaminação do solo, sobretudo. Antônio Dias disse ainda que a procura pelos agrotóxicos mais fortes, com índices de toxidade 1 e 2 é maior. Para ele, deveria haver uma inversão nesses índices, mas os agrotóxicos de nível toxicológico 3 e 4 são mais caros.

Parcerias na fiscalização do uso do agrotóxico

A parceria dos órgãos ambientais na fiscalização da aplicação e armazenagem do agrotóxico, bem como no descarte das embalagens, foi defendida pelos participantes da reunião. Para o gerente técnico do Crea João César Cardoso do Carmo, a fiscalização tem que ser integrada. Segundo o conselheiro do Crea Miguel Ângelo dos Santos Sá, os órgãos ambientais têm falhado na prevenção aos acidentes. "O ponto fundamental para inverter esse processo são mesmo as parcerias", reforçou.

Amplo mercado - O assessor econômico da Faemg, Rodrigo de Almeida Pontes, disse que a proteção de plantas movimenta um mercado de US$ 32 bilhões, mundialmente. "É um grande mercado", afirmou. Ele citou ainda os avanços na agricultura que só foram possíveis com a utilização de agrotóxicos e agroquímicos (fertilizantes).

Rodrigo Pontes manifestou ainda sua preocupação com uma medida tomada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, em 30 de dezembro do ano passado, dando aos técnicos agrícolas o direito de fornecerem receituário agronômico, assim como os engenheiros. "Se nem os profissionais de nível superior, que passam cinco anos na faculdade e não estudam toxicologia, estão totalmente preparados para aplicarem o receituário, o que podemos dizer dos técnicos, que fazem um curso mais curto, de um ano e meio?", questionou.

Na fase de debates, o coordenador técnico de Meio Ambiente da Emater, José Fernando Domingues, disse que a agricultura orgânica é uma alternativa viável para a produção de alimentos sadios. No entanto, os produtos orgânicos ainda são insuficientes para atender às demandas. "A Emater está preparada tecnicamente para o desenvolvimento desses produtos", garantiu.

Contaminação - O deputado Doutor Ronaldo (PDT) manifestou sua preocupação com o dado apresentado por Antônio Ídolo Dias, de que 47% de pessoas do campo que se submeteram a uma pesquisa estariam com colesterase positiva. "A preocupação com o ser humano tem que ser prioritária", afirmou. A deputada Maria José Haueisen (PT), presidente da comissão e autora do requerimento para a realização da reunião, ressaltou a importância da conscientização da sociedade para a aplicação da legislação.

Crea relata inundações em pequenas barragens

No início da reunião, a presidente da comissão, deputada Maria José Haueisen, cedeu espaço ao inspetor-chefe do Crea da região de Ponte Nova, Wagner Moura, que fez uma exposição sobre as inundações que ocorreram na cidade em decorrência do rompimento de pequenas barragens. Segundo a deputada, a comissão especial abordou diversos acidentes envolvendo barragens, mas não tratou das pequenas.

O inspetor Wagner Moura disse que na madrugada de 7 de janeiro deste ano, houve uma tromba d'água na cidade de Ponte Nova provocando inundações, destruição e a morte de quatro pessoas. Outras 1.500 foram atingidas e 421 casas danificadas. Segundo ele, foi realizada uma perícia de 25 a 28 de março, por um perito cedido pelo Ministério Público, que revelou diversas irregularidades na construção dessas barragens, que teriam sido erguidas fora das normas do IEF. Wagner Moura informou ainda que as cabeceiras dos rios foram desmatadas. Com as chuvas, várias pequenas barragens de propriedades rurais, construídas ao longo do rio na parte alta de Ponte Nova, se romperam. Com o transbordamento das águas da primeira barragem, houve o enchimento da seguinte e assim sucessivamente, ocorrendo o efeito dominó até inundar a cidade.

Presenças - Compareceram à reunião os deputados Maria José Haueisen (PT), presidente; Leonardo Quintão (PMDB); Leonardo Moreira (PL); Doutor Ronaldo (PDT); Biel Rocha (PT); e Fábio Avelar (PTB), além dos convidados citados na matéria e ainda o engenheiro agrônomo do IMA Renato Coutinho de Siqueira, o inspetor adjunto do Crea (Ponte Nova) Artur Sena Avelar Nunes, e a diretora de infra-estrutura e monitoramento da Feam, Alice Soares.

 

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