Tráfego pesado destruiu rodovia Cristina-Maria da Fé
Excesso de tráfego, peso excessivo dos caminhões,
falta de manutenção e erros de planejamento causaram a deterioração
de vários trechos da BR-383, que liga os municípios de Cristina e
Maria da Fé, após apenas um ano e meio da sua inauguração. A rodovia
foi planejada para durar dez anos. Essas constatações foram obtidas
a partir dos depoimentos prestados nesta terça-feira (12/8/2003),
aos deputados da Comissão de Transporte, Comunicação e Obras
Públicas.
Desde maio deste ano a Comissão vem investigando a
construção dessa rodovia, que tem 17 km de extensão e custou R$
5.133.595,00, repassados às prefeituras de Cristina e Maria da Fé
pela Companhia Mineradora de Minas Gerais (Comig). O deputado
Laudelino Augusto (PT) foi incumbido de promover uma inspeção no
local, acompanhado de assessores técnicos, para documentar
fotograficamente os trechos avariados, a impropriedade do material
de base e a escassa espessura do asfalto. Em seu relatório, o
deputado incluiu uma suspeita de superfaturamento. Da reunião desta
terça-feira, participaram o prefeito de Cristina, João Dionísio
Chaves, e os diretores da Global Engenharia, que executou o projeto,
e da Eneplan Projetos e Consultoria, que preparou o projeto
executivo de engenharia. Dirigentes da Comig também compareceram,
mas o DER-MG não se fez representar.
Graneleiros gaúchos - A
reunião foi presidida pelo deputado Adalclever Lopes (PMDB), que
voltou a cobrar a operação de balanças móveis e a reativação das
balanças fixas do Departamento Nacional de Infra-estrutura e
Transportes (Dnit). "O governo gasta milhões do dinheiro público
para fazer estradas e se encontra lamentavelmente incapacitado de
fazer a fiscalização. A legislação prevê um máximo de 9.300 quilos
por eixo dos caminhões, e vemos aí graneleiros do Rio Grande do Sul
trafegando em Minas com 17 a 20 mil quilos por eixo. Não há estrada
que resista a isso", acusou Adalclever.
O prefeito de Cristina, João Dionísio Chaves,
assumiu que não tem "pessoal à altura" para fazer a manutenção
preventiva nos bueiros e sarjetas da rodovia, e aprovou a proposta
de Adalclever Lopes de pedir que o DER assuma essa tarefa. Para
Chaves, o principal problema não é a infra-estrutura, mas o asfalto
fino que não comportou o tráfego pesado que veio a seguir.
Carreta de 63 toneladas -
Roberto Mello, da Eneplan, disse que a rodovia foi planejada para
chegar, daqui a dez anos, a suportar um tráfego diário de 142
caminhões e 500 veículos leves, e que atualmente passam por ali,
além de 542 carros em média, e 242 caminhões pesados. Quando os
deputados criticaram tal erro de planejamento, Mello exemplificou
com a rodovia de Ouro Branco a Ouro Preto, proibida para o tráfego
pesado, e mesmo assim é usada por caminhões que vêm do Rio de
Janeiro durante a madrugada porque diminui em 115 km o trajeto. O
empresário fez ainda duas denúncias sobre a rodovia Cristina-Maria
da Fé: a ação de fazendeiros que entopem as sarjetas
propositadamente para acumular água para o gado e a apreensão de uma
carreta com 63 toneladas.
Deputado do PT questiona aditivos ao
contrato
O deputado Laudelino Augusto concentrou-se na
tarefa de interrogar os convidados, para tentar esclarecer os pontos
que considera obscuros da construção da BR-383. Explicou
inicialmente que seu objetivo é evitar que os erros de planejamento,
de licitação e de execução possam ser repetidos num futuro próximo,
quando o governo de Minas começar a cumprir sua promessa de
interligar os 224 municípios que ainda não têm asfalto.
O deputado petista fez questionamentos sobre os
contratos, com sucessivos termos aditivos e cancelamentos. O
prefeito de Cristina disse não se lembrar de detalhes, e que o papel
da prefeitura era o de mero repassador das verbas enviadas pela
Comig para a empresa Global Engenharia. Maurílio Reis Bretas, da
Global, disse que os aditivos se referem a mudança,
redimensionamento e adequação de quantitativos, e que não tem mais
as cópias do projeto original. Marcelo Arruda Nassif, da Comig,
prontificou-se a enviar ao deputado as cópias do projeto
original.
Bueiro triplo - Roberto
Mello informou aos deputados que o projeto original, oferecido pelo
DER, deve ter sido preparado sobre "restituições
aerofotogramétricas", sem medições no local e sem precisão. Para
exemplificar sua constatação, disse que a Eneplan substituiu uma
ponte de 52 metros por um bueiro triplo, barateando o custo final.
Contudo, explicou que o custo final de uma obra rodoviária é
impossível de ser orçado, pelo tipo de dificuldades e imprevistos
que podem surgir, e pelas condições climáticas, que podem provocar
atrasos e prejuízos. Contudo, argumenta que um projeto de engenharia
bem feito poderia aproximar muito o orçamento do custo final.
Laudelino indagou sobre as obras do parque de
exposições de Maria da Fé, que deveriam ser feitas dentro do
contrato, e também sobre um interceptor de esgotos e duas pontes
metálicas na rodovia. Os empresários admitiram que essas obras não
foram realizadas, mas que o dinheiro foi convertido para outras
necessidades da construção da rodovia. Roberto Mello afirmou que é
"muito comum" nesse tipo de contrato prever três objetos e depois
fazer mudanças "politicamente".
"Infelizmente, no Brasil, quando se vislumbra uma
possibilidade de recursos, é uma correria para fazer o projeto em 15
dias e começar a obra, e isso gera muitos erros no orçamento. No
Brasil, não se gasta em projetos. Nos Estados Unidos, leva-se um ano
fazendo o projeto e quatro meses na execução", assegurou o
empresário da Eneplan.
Laudelino Augusto, no entanto, preferiu condenar o
hábito "muito comum" de mudar o projeto e pagar faturas sem
registrar exatamente a mudança feita e o novo preço. O deputado
Sidinho do Ferrotaco (PL) procurou amenizar a crítica, dizendo que a
falta de um levantamento técnico preciso faz com que os termos
aditivos sejam necessários. Para ele, o poder público deveria usar
critérios mais rigorosos para a elaboração dos projetos
técnicos.
Mineradora faz estrada -
Laudelino voltou à ofensiva lendo o texto da lei que estabelece como
finalidade da Comig a exploração mineral, e estranhou que a empresa
se dedicasse a financiar a construção de estradas. Arruda Nassif
informou que a Comig discute internamente seus objetivos sociais,
mas que a decisão de pagar a construção dessa estrada foi tomada nos
altos escalões do governo anterior, por razões que não lhe caberia
questionar. Informou ainda que a Comig é uma sociedade anônima que
paga dividendos ao Estado, seu acionista majoritário. Não recebe
recursos do Tesouro e presta contas ao Tribunal de Contas do
Estado.
Durante a reunião, os convidados anotaram várias
solicitações de envio de cópias de documentos para exame do deputado
Laudelino Augusto. Os deputados aprovaram também um requerimento
deste para uma visita local à rodovia MG-10 no trecho da Serra do
Cipó até Conceição do Mato Dentro.
Pareceres e requerimentos
Além do requerimento de Laudelino Augusto de visita
à MG-10 e do requerimento do deputado Adalclever Lopes para
deslocamento de balança móvel para a BR-383, os deputados da
Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas decidiram o
seguinte:
O Projeto de Lei 46/03, do deputado Miguel Martini
(PSB), que dispõe sobre o cadastramento de usuários de telefones
celulares pré-pagos, recebeu parecer pela rejeição. O relator,
Laudelino Augusto, argumentou que a finalidade era louvável, mas
inócua, porque uma lei federal já obriga as concessionárias a fazer
esse registro. O parecer pela rejeição foi aprovado.
O PL 225/03, do deputado Pastor George (PL), teve a
votação do parecer adiada. O PL 712/03, do deputado Leonardo Moreira
(PL), foi retirado de pauta a requerimento do deputado Laudelino
Augusto. Foi aprovado o parecer de 1º turno favorável ao PL 94/03,
do deputado Alencar da Silveira Jr. (PDT), que reserva as duas
primeiras poltronas nos ônibus intermunicipais para pessoas com
dificuldade de locomoção. A aprovação se refere ao substitutivo nº
2. Retirado de pauta também o PL 175/03 do deputado Ricardo Duarte
(PT).
Em seguida foi aprovado o PL 466/03, do deputado
Antônio Andrade (PMDB), que dá o nome do vereador Vicente Bernardes
Dias ao trecho da rodovia MG-739 que liga Guimarânia à BR-365.
Decisão positiva também para seis requerimentos dos deputados
Domingos Sávio (PSDB), Leonardo Moreira e Márcio Passos (PL).
Presenças - Compareceram os
deputados Adalclever Lopes (PMDB), vice-presidente; Laudelino
Augusto (PT); Sidinho do Ferrotaco (PL); e Djalma Diniz
(PSDB).
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