Excesso de velocidade pode ter causado acidente em Uberaba

Excesso de velocidade pode ter sido a principal causa do acidente com o trem da Ferrovia Centro-Atlântica ocorrido em...

08/08/2003 - 15:36
 

Excesso de velocidade pode ter causado acidente em Uberaba

Excesso de velocidade pode ter sido a principal causa do acidente com o trem da Ferrovia Centro-Atlântica ocorrido em Uberaba no último dia 10 de junho. A afirmação foi feita pelo diretor-geral da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), José Alexandre Rezende, em audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia de Minas, realizada nesta sexta-feira (8/8/2003) naquela cidade do Triângulo Mineiro.

Segundo José Alexandre, a ANTT já apurou as causas do acidente, e já é possível identificar o que provocou o descarrilamento do trem. "Há claramente indícios de excesso de velocidade", garantiu ele. Outro fator que pode ter contribuído para o acidente, segundo o diretor da ANTT, é a monocondução, ou seja, apenas um operador conduzia a composição com 18 vagões. De acordo com José Alexandre, a ANTT aguarda a conclusão de um laudo encomendado ao Instituto Paulista de Tecnologia (IPT) para aplicar as penalidades previstas no contrato de concessão da ferrovia.

Por causa dos danos ambientais provocados pelo acidente, a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) foi multada pelo Ibama em R$ 10 milhões. A carga transportada pelo comboio era altamente tóxica, e atingiu o córrego Alegria e depois o rio Uberaba, que abastece a cidade. Ao todo o trem transportava 245 toneladas de octanol, 381 toneladas de metanol, 94 toneladas de isobutanol e 147 toneladas de cloreto de potássio. O fornecimento de água em Uberaba ficou suspenso durante oito dias, período em que o abastecimento teve que ser feito por caminhões-pipa contratados pela prefeitura e pela FCA.

Sindicalista critica FCA

Mesmo com o empenho da FCA em restabelecer o abastecimento de água, a empresa foi duramente criticada pelo diretor da Federação Nacional Independente dos Trabalhadores sobre Trilhos, Rock José Ferreira. "Esse acidente não foi uma fatalidade, foi uma tragédia anunciada", disse. Para Rock, o desastre pode ter sido causado pela precária condição da ferrovia e das composições. Outro fator que pode ter provocado o acidente, na sua opinião, é a monocondução. "Colocar um único operador para conduzir um comboio daquele tamanho é como obrigar um piloto a conduzir um Boeing sozinho", disparou.

A FCA rebateu as críticas feitas durante a audiência pública. Segundo o diretor de operações da empresa, Jayme Nicolato, a FCA já conseguiu reduzir pela metade o número de acidentes, e pretende contratar neste ano 1.100 funcionários para fazer a manutenção dos trens e dos trilhos. Ele lembrou também que a empresa agiu com rapidez para minimizar os efeitos do acidente. "Recuperamos 100% dos resíduos sólidos e 40% do líquido derramado", explicou. Ainda segundo Jayme, a FCA contratou 270 caminhões-pipa e ainda distribuiu 100 mil litros de água mineral. "Em momento nenhum fugimos de nossa responsabilidade. Somos uma empresa socialmente responsável", garantiu.

Para ministro, foi uma fatalidade

O ministro dos Transportes, Anderson Adauto, classificou o acidente como uma fatalidade. "Foi um tremendo azar o acidente acontecer justamente naquela curva, onde tinha um riacho que deságua no rio que abastece a cidade", lamentou. Adauto também disse estar preocupado com a monocondução, prática comum em boa parte das ferrovias brasileiras. "O trem não pode ser conduzido por um maquinista só. Essa economia pode sair caro para vocês (da FCA)", disse.

Para o deputado uberabense Adelmo Carneiro Leão (PT), 2º-vice-presidente da Assembléia, o acidente deve servir de lição para que novos desastres sejam evitados no futuro. "Não podemos ficar só na lamentação. Temos que fazer uma reflexão sobre as conseqüências do acidente e as ações tomadas para atenuar seus efeitos", afirmou. Ele reclamou da ausência das autoridades locais à audiência pública. Segundo o deputado, o prefeito e o presidente da Câmara Municipal foram convidados para o evento, mas nenhum dos dois compareceu à audiência.

Já o deputado Fábio Avelar (PTB), que presidiu a reunião, lembrou que a Assembléia está sempre preocupada com os acidentes ambientais, e a comissão especial criada para analisar as causas desses desastres deve concluir seus trabalhos ainda neste mês.

Vida normal - Quase dois meses após o acidente, a vida em Uberaba, cidade de 250 mil habitantes, já voltou ao normal. O abastecimento já foi normalizado, embora moradores de alguns bairros periféricos reclamem do gosto ruim da água tratada. O córrego Alegria teve seu leito desviado, e a prefeitura aguarda a conclusão de estudos sobre a qualidade do solo para fazer com que o córrego volte ao seu curso normal. O transporte de carga da FCA voltou a ser feito dez dias após o acidente.

Presenças - Estiveram presentes os deputados Adelmo Carneiro Leão (PT) e Fábio Avelar (PTB). Também participaram o ministro dos Transportes, Anderson Adauto; o senador Aelton de Freitas (PL-MG); o gerente do Ibama em Minas Gerais, Roberto Messias Franco; o diretor-geral da ANTT, José Alexandre Rezende; o diretor da Federação Nacional Independente dos Trabalhadores sobre Trilhos, Rock José Ferreira; e o presidente do Sindiextra, Fernando Coura.

 

 

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