Audiência em Sabará discute patrimônio histórico

A determinação do Ministério Público de interditar cinco igrejas em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte...

03/07/2003 - 20:28
 

Audiência em Sabará discute patrimônio histórico

A determinação do Ministério Público de interditar cinco igrejas em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, devido às suas más condições de conservação, foi tema de audiência pública da Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia, nesta quinta-feira (3/7/2003). A interdição, a sétima acatada pela prefeitura, foi realizada na quarta (2). O encontro reuniu, na cidade histórica, representantes da Polícia Civil, do Corpo de Bombeiros, do Ministério Público e de órgãos federais e estaduais envolvidos na preservação do patrimônio histórico, que reclamaram da falta de recursos humanos e financeiros. A reunião foi requerida pelo deputado Célio Moreira (PL), que participou com o deputado André Quintão (PT), políticos da região, padres e moradores.

"Infelizmente, teve que ocorrer o incêndio na Igreja das Mercês para todos os envolvidos começarem a debater, com a comunidade, as dificuldades na conservação do patrimônio histórico", afirmou a promotora Marise Alves da Silva, que solicitou a interdição. Ela destacou duas medidas que considera necessárias e urgentes: impedir o trânsito pesado em torno das igrejas históricas e regulamentar a Lei 14.130, de 2001, que trata da prevenção contra incêndio e pânico no Estado, permitindo ao Corpo de Bombeiros realizar interdição - e não apenas sugerir.

"As interdições causam transtornos, mas são necessárias neste momento", disse o comandante do Corpo de Bombeiros em Sabará, subtenente Marcelo Queiroz. Ele se queixou de que a imprensa só destaca situações problemáticas e que chamam a atenção, impossibilitando que a comunidade tome conhecimento do trabalho da corporação: "O Corpo de Bombeiros trabalha dia e noite correndo riscos. Recentemente, tivemos seis incêndios, um deles em uma caçamba, no meio da rua, cujas chamas atingiram quatro metros", defende.

Vistorias - O subtenente fez questão de reforçar que foi pedida a interdição de várias edificações, como o Clube Mundo Velho, por risco de desabamento, e a Mina Mundo Velho, por risco de incêndio: "Todo o patrimônio em Sabará foi e está sendo vistoriado, a começar pelo próprio prédio dos Bombeiros, que já foi recuperado". Ele deu exemplo de outros problemas sérios, como a quantidade de velas nas residências das cidades da região e a falta de hidrantes em Caeté.

O 1º Batalhão do Corpo de Bombeiros, responsável por Sabará, atua da região Centro-Sul de Belo Horizonte à cidade de Ponte Nova. "A prevenção do patrimônio histórico é indispensável, apesar de complexa. Qualquer edificação precisa de um projeto específico de prevenção contra incêndio e pânico, que seja compatível com o risco instalado", explicou o comandante do 1º Batalhão, tenente-coronel Etvan Geraldo Fonseca. Ele apontou, no próprio Teatro Municipal, onde aconteceu a reunião, pontos vulneráveis "facilmente visíveis" de ativação de fogo, que indicam que a edificação sofreu intervenções imprevistas. O comandante dos bombeiros de Sabará informou que a vistoria no Teatro está marcada para a próxima segunda-feira, 7 de julho.

Prefeito cobra punição para vândalos

O prefeito de Sabará, Wander Borges, afirmou que a preservação não é mais a única dificuldade, referindo-se aos atos de vandalismo registrados com freqüência na cidade. "As ações criminosas, como a que ocorreu na Capela do Bom Jesus e a que acredito ter acontecido na Igreja das Mercês, estão impunes. As autoridades precisam apresentar os culpados", apontou Borges. Ele disse que R$ 200 mil já foram aplicados na preservação do patrimônio histórico da cidade, em 2003.

O delegado de polícia de Sabará, Milton Gomes Pereira, afirmou que os laudos das Polícias Civil e Federal estão sendo feitos e que várias pessoas já foram ouvidas e intimadas a depor. Ele fez um alerta: "A ocasião faz o ladrão. Vários prédios públicos não têm vigilância nem estrutura física como proteção. O delegado lembrou que a Polícia Civil faz a investigação, mas a fiscalização preventiva cabe ao policiamento ostensivo.

O deputado Célio Moreira leu ofício encaminhado pelo delegado da Polícia Federal Magno José Teixeira em que afirma que o Ministério Público Federal é a única instituição que pode exigir providências do governo federal sobre o risco de fogo e desmoronamento das igrejas, como a da Nossa Senhora da Conceição. A Polícia Federal atuaria, segundo ele, como força repressiva; a ação após uma ocorrência seria limitada, pela dificuldade de identificar causas e autores. O delegado informou que visitou o imóvel e constatou "condições precárias" e enviou, junto com o ofício, cópias de notificações do Corpo de Bombeiros e da Promotoria de Justiça. O Ministério Público Federal foi convidado a participar da reunião, mas não enviou representante.

Órgão federal só tem nove técnicos em MG

Criado em 1937, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) conta com apenas nove técnicos em Minas Gerais, para atender 200 tombamentos isolados e 11 conjuntos que totalizam 5 mil edificações. Treze desses bens estão em Sabará. Além da falta de recursos financeiros e humanos - o último concurso público foi realizado há 25 anos, o superintendente regional do instituto, Raimundo Rodrigues, destaca como principal dificuldade a inconstância das políticas do setor. "O ideal seriam medidas preventivas, mas o que se vê é um direcionamento de políticas de incentivo fiscal que destacam empresas que optam pela restauração de patrimônios, em detrimento de critérios técnicos", criticou. O Iphan é responsável por 16 mil imóveis, 50 sítios históricos e mais de 15 mil sítios arqueológicos. É esperada abertura de concurso para 400 profissionais.

O técnico do Iphan em Sabará, arquiteto Sérgio Fagundes, é responsável também pela capital e outras cidades, como ocorre com os demais técnicos. "Apesar do quadro dramático de pessoal, não estamos omissos", frisou. Fagundes afirmou, por exemplo, que o instituto faz alertas ao Ministério Público sobre a recuperação da Matriz Nossa Senhora da Conceição desde 2001, assim como já existem projetos antigos sobre as igrejas do Rosário e de Santana. "O próprio Museu do Ouro, patrimônio do Iphan, está precário", avaliou, lembrando que a Casa de Borba Gato e Igreja do Ó já foram restauradas. A arquiteta do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) Delmari Ribeiro ressaltou a falta de recursos também do órgão estadual. O Iepha não tem orçamento próprio para execução de obras de recuperação, utilizando-se de leis de incentivo à cultura.

Deputado vai solicitar informações

O deputado Célio Moreira afirmou que vai apresentar requerimentos pedindo informações sobre a possibilidade de disponibilizar para o município carros recolhidos em investigação policial, sobre a aplicação do Fundo Estadual de Recuperação do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico e sobre a possibilidade, junto ao Ministério da Cultura, de aumentar o número de técnicos no Estado. "O Brasil ainda não tem difundida a consciência de preservação da nossa memória histórica. É fundamental uma integração institucional entre os órgãos públicos, inclusive na co-responsabilidade no financiamento de políticas públicas", analisou o deputado André Quintão

Presenças - Participaram da reunião os deputados Célio Moreira (PL) e André Quintão (PT), além das autoridades citadas na matéria.

 

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