Criação de leis restritivas pode diminuir consumo de drogas

O álcool e o tabaco, como drogas lícitas, possuem os dois maiores fatores de risco e dependência para os usuários: a ...

03/07/2003 - 15:39
 

Criação de leis restritivas pode diminuir consumo de drogas

O álcool e o tabaco, como drogas lícitas, possuem os dois maiores fatores de risco e dependência para os usuários: a disponibilidade e a aceitação. A afirmação foi feita ontem pelo subsecretário Antidrogas da Secretaria de Desenvolvimento Social e Esportes, Elias Murad, durante a reunião da Comissão de Saúde, nesta quinta-feira (3/7/2003), que debateu o tema "Álcool e outras drogas: uma questão de saúde pública". O subsecretário falou da legalização da maconha como o assunto de maior relevância na discussão sobre o consumo de drogas, e afirmou que essa decisão só acrescentaria uma terceira prerrogativa de problemas sociais.

Ao falar sobre as políticas de prevenção e as estatísticas de consumo de drogas entre crianças e adolescentes, Elias Murad apontou a urgência na criação de leis federais e estaduais restritivas que controlem e proíbam a compra e o consumo de drogas. Segundo o subsecretário, é preciso estabelecer um binômio: "apenas com a implantação de leis restritivas rigorosas quanto ao uso e à propaganda de drogas e conscientização da sociedade podemos combater esse problema", disse. Já o presidente do Conselho Estadual Antidrogas, Aloísio Andrade, afirmou que todo ser humano é um pré-dependente químico em potencial e apontou outras causas e soluções para a questão.

Segundo Aloísio Andrade, a política de prevenção deve ser integral, visando envolver todos os procedimentos que comprometam a qualidade de vida do ser humano. "Trabalhar preventivamente não é alertar os jovens e adolescentes sobre os riscos do consumo de drogas, e sim lutar pela introdução de valores éticos, morais e culturais e evitar o mau-exemplo", disse. Aloísio Andrade afirmou que a sociedade vive um momento de hipertrofia da consciência e que nem sempre o excesso de informação para a juventude se traduz em formação.

Quanto às possíveis soluções, Aloísio alertou para a causa do problema das drogas, que segundo ele, é decorrente de uma questão existencial do ser humano: "Sendo assim, não basta dificultar o acesso, pois a dependência está ligada à vontade pessoal. É preciso estimular a produção de substâncias psicoativas pelo próprio organismo do indivíduo, que preencham seus vazios", concluiu o presidente do Conselho Estadual Antidrogas.

Assistência médica mental aos usuários ainda é deficiente

O coordenador de saúde mental da Secretaria de Estado de Saúde, José Cézar de Moraes, disse que apesar da luta constante para a regulamentação de leis sobre a assistência médica aos usuários de álcool e outras drogas, a legislação e o atendimento aos dependentes químicos ainda são deficientes. Segundo ele, as políticas públicas devem envolver vários setores da sociedade, como legislação, direito, cultura e integrar as diversas áreas da saúde, de acordo com os princípios do SUS. José Cézar afirmou que é indispensável a implantação de políticas de assistência e procedimentos de tratamento e internação em hospitais gerais para facilitar o acesso dos usuários e oferecer uma possibilidade de recuperação. "Dados estatísticos comprovam o alto grau de reincidência dos pacientes, devido à deficiência no tratamento e da falta do amparo legal para o estabelecimento de procedimentos clínicos", disse o médico.

Políticas públicas - Para a diretora do Centro Mineiro de Toxicomania, Ana Regina Machado, políticas intersetoriais para implementação de ações mais eficazes para a redução das conseqüências do uso de drogas devem ser criadas com urgência. Ela sugeriu que se estendessem a rede de Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD), mobilização e capacitação de profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS), além da implantação de atividades de redução de danos pessoais em Minas Gerais, tornando a relação do usuário com as drogas menos prejudicial. De acordo com Ana Regina, dados colhidos por equipes de abordagens a usuários apontam que 40% dos pacientes atendidos no serviço de emergência do hospital Galba Veloso apresentam quadro primário de dependência ao álcool e outras drogas. Ela também informou que grande parte da contaminação de pessoas pelo vírus HIV e de hepatite C foi por meio do uso compartilhado de seringas contendo drogas injetáveis.

A prevenção por intermédio de políticas públicas ligadas à educação, trabalho, lazer e moradia pode ser uma das soluções para o problema do consumo de álcool e outras drogas. Foi o que afirmou o vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde, Nicodemus de Arimathea e Silva Júnior. Ele também defendeu a ampliação da divulgação da lei de trânsito, no sentido de controle do uso de bebidas e drogas no momento da direção de veículos; e a elaboração de uma lei que vise um maior monitoramento sobre a comercialização e o uso de armas de fogo. De acordo com ele, as armas estão diretamente ligadas ao narcotráfico e ao comércio de drogas lícitas e ilícitas. Outra medida apontada por Nidodemus é a realização de um marketing eficiente, que adeqüe o contato dos órgãos de saúde e prevenção com a sociedade, especialmente com os jovens.

Para o vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde, o atual quadro econômico do Brasil contribui para a inserção dos jovens no mundo das drogas, por aparecer como uma atividade mais rentável do que aquela que é aceita como válida perante a lei e a sociedade. Ele criticou, ainda, o fato de o lobby das indústrias de bebidas alcoólicas, tabaco e outras drogas impedirem, por meio de pressões, que o Congresso Nacional atue com mais eficiência nessa questão.

Segundo Nicodemos, a abrangência do tema drogas vai além do âmbito da saúde, repercutindo no aumento dos custos previdenciários, comprometendo a estrutura familiar e prejudicando a economia do País.

Abstinência de drogas é criticada por coordenadora

A adoção de novas formas de relação com a droga foi defendida pela coordenadora de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Ana Marta Lobosque. Segundo ela, os centros de assistência aos usuários devem abandonar a prepotência de exigir a abstinência e adotar uma postura mais acolhedora diante ao paciente. Ana Marta Lobosque disse acreditar que, através do apoio do profissional de saúde, é mais fácil que o usuário se conscientize da importância e da necessidade do tratamento, da forma mais conveniente para o seu caso. Para a coordenadora de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, a abstinência é mítica e um ideal religioso que não deve ser estendido à sociedade como um todo.

Ela defendeu também a melhoria da qualidade da assistência à saúde; a garantia de um atendimento igualitário em todos os sistemas de saúde, preservando as peculiaridades do tratamento dos usuários; e o combate efetivo ao narcotráfico, punindo todas as pessoas envolvidas no processo. Ana Marta Lobosque anunciou, ainda, a implantação, ainda este ano, do primeiro CAPS AD municipal em Belo Horizonte. De acordo com ela, o centro terá uma atuação nos âmbitos da saúde e social. Para a coordenadora, esse tipo de centro não é a solução para o consumo de drogas, mas representa um caminho para a sua prevenção e redução, além da minimização de suas conseqüências.

Fiscalização - Sobre a fiscalização de comunidades terapêuticas, o coordenador Estadual de Saúde Mental da Secretaria de Estado de Saúde, José César de Moraes, explicou que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu um prazo de dois anos para que essas comunidades se adequassem às suas exigências. No entanto, esse prazo foi estendido em 90 dias. Ele informou também que a Secretaria de Estado da Saúde está mapeando as comunidades terapêuticas existentes em Minas Gerais para iniciar as fiscalizações logo que se findar o prazo de adequação imposto pela Anvisa. O subsecretário José Elias Murad afirma que as comunidades terapêuticas surgiram para suprir um vazio deixado pelo Estado.

Os deputados Ricardo Duarte (PT), presidente da Comissão de Saúde, e Neider Moreira (PPS) concordaram com as considerações feitas pelos convidados sobre a necessidade de implementação de políticas públicas adequadas para contribuir para a minimização do consumo de álcool e drogas. Eles também mostraram-se abertos a sugestões para a elaboração de leis sobre o tema.

Presenças - Compareceram à reunião os deputados Ricardo Duarte (PT), presidente da comissão; e Neider Moreira (PPS). Também participaram o coordenador Estadual de Saúde Mental da Secretaria de Estado de Saúde, José César de Moraes; o subsecretário de Estado Antidrogas da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes, José Elias Murad; o representante do Conselho Estadual Antidrogas, Aloísio Andrade; o vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde, Nicodemus de Arimathea e Silva Júnior; a diretora do Centro Mineiro de Taxicomania, Ana Regina Machado; e a coordenadora de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Ana Marta Lobosque.

 

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