Crescimento da agricultura orgânica é debatido na AL

A produção orgânica de alimentos está se tornando um ramo lucrativo do agronegócio, atingindo preços até o triplo do ...

02/07/2003 - 19:34
 

Crescimento da agricultura orgânica é debatido na AL

A produção orgânica de alimentos está se tornando um ramo lucrativo do agronegócio, atingindo preços até o triplo do produto convencional, além de significar melhoria de saúde para o agricultor e equilíbrio para o meio ambiente. No entanto, impõe custos mais altos de produção e um custo adicional de certificação. Para discutir as questões em torno da certificação da agropecuária orgânica - objeto do Projeto de Lei (PL) 637/2003, do deputado Leonardo Moreira (PL) - a Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legislativa realizou uma reunião com especialistas e autoridades, nesta quarta-feira (2/7/2003).

Miriam Ester Soares, do Ministério da Agricultura, disse que Minas está na dianteira da agricultura orgânica, não só por causa da predominância da pequena propriedade, mas também na questão da legislação. A lei 14.160/2002, a qual o deputado Leonardo Moreira pretende aperfeiçoar com seu projeto, é uma das pioneiras no país. A técnica informou que a Instrução Normativa 07, do seu Ministério, conceitua que produção orgânica é aquela desenvolvida sem contaminantes e de forma limpa, além de instituir o selo orgânico.

O conselho que tem competência para credenciar empresas certificadoras é composto por representantes da sociedade civil, dos órgãos de pesquisa, técnicos e órgãos governamentais. Soares insiste para que os métodos de certificação estejam de acordo com os dos outros países, para facilitar a comercialização internacional. "Temos hoje um mercado internacional para o alho, os derivados do mel, aves, ovos, café e cereais em plena expansão", empolga-se ela, revelando que produtores de café orgânico de Poço Fundo acabam de exportar 640 sacas para os Estados Unidos, ao triplo do preço do café tipo exportação.

Técnico alerta contra vulgarização do selo

João Nelson Gonçalves Rios, do Instituto Mineiro de Agropecuária, alertou contra a vulgarização do selo orgânico, para não desmoralizá-lo, como aconteceu com a certificação do morango em São Paulo, há quatro anos. Rios defende a profissionalização do agricultor orgânico e também das empresas certificadoras. O deputado Leonardo Moreira apoiou essas afirmativas, dizendo que "o selo é o coroamento do esforço do agricultor e não pode ser concedido indiscriminadamente". Aproveitou para alertar que um substitutivo ao seu projeto, apresentado na Comissão de Constituição e Justiça, representaria um desvirtuamento dos objetivos, ao estabelecer multas e punições que sufocariam o produtor. "Não quero ser algoz da agricultura orgânica", resumiu.

O deputado Paulo Piau (PP) informou que foi o relator do substitutivo na Comissão de Justiça, e que o objetivo da proposta que relatou foi o de dar constitucionalidade ao projeto, reconhecendo que a discussão do mérito cabe à comissão temática, que é a de Agropecuária. Gilberto Abramo, deputado do PMDB, anotou que o agricultor orgânico enfrenta um custo mais alto de fertilização e defesa contra pragas, e que também tem que custear as inspeções de certificação. Indagou quais seriam as perspectivas de financiamento. Leonardo Fernandes Moreira, da Emater, informou que os custos de produção de alguns itens são quase iguais aos convencionais, e que podem baixar com o aumento da produção. Quanto à questão do financiamento, o Banco do Brasil só financia os sistemas certificados. Moreira defende que o BB passe a financiar também os agricultores em processo de conversão.

Luiz Gomes Correia, presidente da associação certificadora Minas Orgânica, explicou que o custo de certificação não é alto, considerando o deslocamento do técnico até a propriedade e a coleta de amostras para análise química em laboratório de resíduos tóxicos. "Cobramos R$ 20,00 mensais de cada associado nosso", informou. Correia destacou também o interesse crescente dos agricultores do Sul de Minas. Um grupo de 125 deles teriam fretado ônibus para conhecerem uma propriedade orgânica em Fruta de Leite, no Norte de Minas.

O presidente da Comissão, deputado Doutor Viana (PFL), saudou os esforços dos militantes do movimento orgânico como uma resistência à expansão dos transgênicos e contra a agricultura tradicional que abusa de pesticidas e larvicidas que concentram resíduos tóxicos. "Esses alimentos podem estar envenenando a nós e a nossas crianças, sem falar nos que são cancerígenos. Como médico, tenho que trabalhar para que ninguém venha a adoecer", disse Viana.

Requerimentos aprovados - Ao final da reunião, a Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial aprovou dois requerimentos. O primeiro do próprio presidente, propondo reunião com o prefeito, o presidente da Câmara, os presidentes da CDL e da Associação Comercial de Januária, além de representante do Banco do Nordeste, para discutir o fracasso do projeto Avinorte, que produziria e abateria 40 mil frangos por dia. O segundo, do deputado Laudelino Augusto (PT), propõe um fórum técnico, a ser realizado pela Assembléia no segundo semestre, para dar maior abrangência à discussão da produção orgânica.

Presenças - Compareceram à reunião os deputados Doutor Viana (PFL) - presidente, Gilberto Abramo (PMDB), Luiz Humberto Carneiro (PSDB), Paulo Piau (PP), Laudelino Augusto (PT) e Leonardo Moreira (PL). Também estiveram presentes Lucas Rocha Carneiro (diretor de Recursos Tecnológicos da Seapa); Miriam Ester Soares (coordenadora do Colegiado de Agricultura Orgânica de Minas Gerais do Ministério da Agricultura), Leonardo Fernandes Moreira (coordenador técnico da Emater-MG), Luiz Gomes Correia (presidente da Associação Minas Orgânica), João Nelson Gonçalves Rios (IMA), e Rogério Martins Maurício (pesquisador da Funed).

 

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