Manifestação de policiais civis gera indignação entre os
deputados
Vários deputados ocuparam a tribuna, na reunião
extraordinária de Plenário da noite de quarta-feira (25/6/2003),
para protestar contra a manifestação de policiais civis, ocorrida na
porta da Assembléia Legislativa, no final da tarde. Um projeto de
lei foi aprovado - PL 119/2003, do deputado Dalmo Ribeiro Silva
(PSDB), que determina aos bancos a instalação de assentos nas filas
especiais para aposentados, pensionistas, gestantes e deficientes
físicos - e as discussões estenderam-se até 23 horas, com o registro
de 70 presenças. O presidente Mauri Torres (PSDB) comunicou que já
havia entrado em contato com o governador Aécio Neves e com outras
autoridades e lamentou a morte do policial civil sepultado na
quarta-feira (24), lembrando que os assassinatos têm atingido toda a
sociedade brasileira. "Esse episódio leva ao fortalecimento de todos
nós, para que cada classe política se una, indiferentemente das
cores partidárias e das lideranças políticas, em favor dos
interesses maiores da sociedade, como o fortalecimento do exercício
democrático e do direito de ir e vir de cada um dos cidadãos",
afirmou.
O primeiro a comentar o episódio foi o deputado
Rogério Correia (PT), que considerou ofensiva a manifestação e
desrespeitosa a atitude dos policiais civis que usaram os microfones
para agredir o parlamento. O deputado convocou os membros do
Legislativo para se unirem em torno da segurança pública que é,
segundo ele, uma questão pluripartidária. "Tenho certeza de que o
governador tem a coragem necessária para enfrentar o problema da
segurança no Estado e o Legislativo tem que estar junto dele",
defendeu. O deputado Durval Ângelo (PT) concordou que a resposta ao
episódio deve ser institucional, de toda a Assembléia. Ele lamentou
que os policiais, que deveriam defender a segurança e a vida dos
cidadãos, estivessem utilizando armas e viaturas do Estado para
incentivar a insegurança. O deputado Zé Maia (PSDB) também defendeu
uma reação do Legislativo. Segundo ele, caso isso não aconteça, a
Assembléia se tornará refém dos agressores. "Nós, deputados, somos
eleitos pelo povo e temos que passar pelo crivo do povo e não de um
segmento, que é minoria", afirmou. "Não podemos nos ajoelhar diante
dos agressores."
Momento é de reflexão
Apesar de considerar o uso de viaturas na
manifestação um ato de indisciplina, o deputado Sargento Rodrigues
(PDT) disse que o momento atual é de reflexão. "É para a Assembléia
que o povo recorre em momentos de angústia, de conflitos", disse.
"Dezessete policiais morreram nos últimos meses e este é um momento
de enfrentamento", completou. O deputado defendeu ainda que não se
deve generalizar a atuação dos "maus" policiais. "As comissões da
Assembléia têm que cuidar para não fazerem um julgamento prévio dos
policiais", afirmou. Ele disse ainda que a prova de que o momento é
de reflexão são os inúmeros debates feitos na Casa sobre a segurança
pública. "É momento de cobrarmos investimentos em recursos humanos e
aparelhagem das polícias", disse. Sargento Rodrigues citou ainda o
movimento da PM em 1997, por melhores salários, para lembrar que a
realidade e as dificuldades enfrentadas pelas corporações devem ser
consideradas para avaliar a atitude de seus integrantes.
O deputado Rogério Correia (PT) concordou com as
reflexões do deputado Sargento Rodrigues (PDT), mas ponderou que os
policiais deram um mau exemplo querendo intimidar o Poder
Legislativo. "A democracia tem que ser respeitada. A manifestação de
hoje foi um momento de impunidade e indisciplina". afirmou. Segundo
ele, os policiais militares são punidos, mas os civis, não. O
deputado acrescentou ainda que a Assembléia de Minas sempre esteve
aberta às reivindicações da Polícia. O deputado Domingos Sávio
(PSDB) tem a mesma opinião. Para ele, o momento não é de
contemporizar. "A Assembléia sempre teve as portas abertas para os
policiais. A agressão ao Legislativo, enquanto espaço da democracia,
é uma ofensa a todo o povo mineiro", defendeu.
A paralisação dos trabalhos da Casa, como forma de
protesto, foi sugerida pelo deputado Célio Moreira (PL). Na opinião
dele, o presidente Mauri Torres deveria convidar o Chefe da Polícia
Civil, Otto Teixeira Filho, para um debate sobre o assunto no
Plenário da Casa, além de cobrar do governador e do secretário de
Estado de Defesa Social, Lúcio Urbano, providências urgentes para o
episódio. O deputado Ermano Batista (PSDB) considerou que houve
abuso de autoridade na manifestação. "Se fizessem isso em uma
delegacia ou no gabinete de um juiz a situação não ficaria assim.
Quando agridem a Assembléia, ferem a democracia e a liberdade",
afirmou.
"Não consegui lembrar há quanto tempo, mesmo no
período da ditadura, o parlamento não é cercado pela força
policial", lamentou a deputada Jô Moraes (PCdoB). A deputada disse
ainda que a Assembléia vai oferecer ao governador todo o apoio
necessário para que as medidas disciplinares sejam tomadas. "Tenho
absoluta consciência das dificuldades da instituição, mas é
inaceitável que os funcionários públicos encarregados da segurança
afrontem de forma tão desrespeitosa a casa da democracia",
afirmou.
A deputada Maria Tereza Lara (PT) lembrou que o
Congresso Nacional está fazendo um esforço concentrado para votar
todos os projetos sobre segurança pública que estão na pauta, o que
demonstra a preocupação do governo federal com a questão. Ela disse
também que, há poucos dias, o deputado Sargento Rodrigues (PDT)
propôs que a Assembléia de Minas fizesse o mesmo. O deputado Irani
Barbosa (PL) acredita que a questão da segurança merece uma reflexão
mais profunda. Ele disse já ter anunciado que haveria uma crise na
polícia.
A apuração cautelosa dos fatos foi defendida pelo
deputado Paulo Piau (PP), que quer que o episódio se torne um
exemplo positivo para o País. "A Assembléia tem que exercer o seu
papel. Não concordo com a interrupção dos trabalhos, como propôs o
deputado Célio Moreira", afirmou. O deputado Chico Simões (PT), que
é médico legista da Polícia Civil, afirmou que a situação dos
policiais hoje é bem diferente da ocorrida em 1997, citada pelo
deputado Sargento Rodrigues (PDT). "Naquela época o governador
estava fora do Brasil e os policiais reivindicavam melhores
condições. Hoje o Aécio Neves está aqui, os policiais têm um
representante da categoria na Assembléia e eles não reivindicaram
nada, apenas insultaram", disse. O deputado prestou solidariedade ao
governador na solução do problema da segurança pública e manifestou
seu desejo de que o episódio de 1997, que resultou na morte de um
policial, não se repita na história de Minas Gerais. Chico Simões
defendeu ainda que os Estatutos das Polícias sejam discutidos pela
Assembléia para dar dignidade aos bons policiais e punir rapidamente
os que não forem bons.
O deputado Mauro Lobo (PSB) afirmou que no Poder
Legislativo está representada toda a sociedade em sua pluralidade.
Segundo ele, se alguns deputados são alvo de críticas, por parte de
segmentos, não se pode ignorar que eles representam a sociedade. "A
aparente fragilidade do Poder Legislativo é, na verdade, a sua
força. O concurso para entrada no Legislativo não é para buscar a
homogeneidade, como em outras instituições, mas a pluralidade",
afirmou. Ele afirmou que a manifestação dos policiais civis é
preocupante, mas acredita que a Polícia Civil é mais forte do que o
ato realizado. "A Polícia Civil é também defensora dos direitos
humanos, porque zela pela segurança da sociedade. Não devemos
defender um Estado de força, mas um Estado forte", concluiu.
Projeto aprovado retorna às comissões
O PL 119/2003 foi aprovado na forma do substitutivo
nº 1, da Comissão de Constituição e Justiça, e será encaminhado para
a Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social para ser
analisado em 2º turno. De acordo com o substitutivo aprovado, o
projeto passa a alterar a Lei 10.837, de 1992, que dispõe sobre o
atendimento preferencial a aposentados, gestantes e deficientes
físicos em agências bancárias, estabelecendo a obrigatoriedade da
instalação de assentos especiais. O substitutivo também altera o
valor da multa para quem descumprir a lei, que passa a ser de R$ 1
mil e não mil Ufirs, como estabelecia o projeto original.
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