Assembléia de Minas faz homenagem póstuma a Aureliano Chaves
"É à memória desse mineiro ímpar, um dos forjadores
da história de nosso Estado, que soube compreender e resgatar as
vocações regionais, que dedicamos essa homenagem", disse o
presidente da Assembléia de Minas, deputado Mauri Torres (PSDB),
durante a reunião especial de homenagem póstuma ao ex-governador de
Minas Aureliano Chaves, nesta segunda-feira (23/6/2003). A reunião
foi realizada a requerimento do deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB).
O político mineiro faleceu em 30 de abril, em Belo Horizonte, aos 74
anos.
Em seu discurso, o presidente destacou ainda o
sentimento de nacionalidade e a prática da honestidade e do decoro
político como o legado que Aureliano Chaves deixou ao País. "Apesar
de sua carreira ter se desenvolvido sob o governo militar, não
hesitou em assumir posições corajosas, situando-se mais de uma vez
contra a corrente dominante", afirmou o presidente. Mauri Torres
citou ainda o papel do então ministro das Minas e Energia, no
governo de José Sarney, para o cumprimento da Lei de Anistia
Política na Petrobras.
No governo de Minas, segundo o presidente,
Aureliano Chaves deu continuidade ao processo de modernização
iniciado por Rondon Pacheco, quando o Estado entrou definitivamente
na era industrial. Ele enfatizou os programas de expansão da
siderurgia e da produção de insumos básicos, principalmente
fertilizantes. "Graças a Aureliano Chaves, Minas Gerais consolidou
sua posição de segundo maior pólo industrial do País", acrescentou.
A preocupação com o meio ambiente, por intermédio da Comissão de
Política Ambiental, também foi lembrada por Mauri Torres. "Sua visão
não era a do desenvolvimento a qualquer preço", afirmou.
O deputado Dalmo Ribeiro Silva recorreu a palavras
ditas pelo próprio Aureliano Chaves em seu discurso de posse como
governador de Minas, em 1975, para prestar sua homenagem. Nessa
ocasião, o governador disse que, em tempos de transformações, como
os vividos à época, o futuro dependeria "da essência do caráter de
nossa gente e de sua fé". O deputado lembrou momentos da vida
pública de Aureliano Chaves e a importância que atribuía ao Poder
Legislativo. "Habituei-me a sentir que o Poder Legislativo é onde se
forja a consciência política, onde as convicções amadurecem e onde
se cristaliza a fé no homem e no seu futuro", disse Aureliano em seu
discurso.
O filho de Aureliano Chaves, Antônio Aureliano
Sanches de Mendonça, recebeu das mãos do presidente da Assembléia e
do deputado Dalmo Ribeiro Silva uma placa com os seguintes dizeres:
"O progresso de Minas e o desenvolvimento nacional trazem a marca de
ética e bravura do mineiro Aureliano Chaves. O Poder Legislativo
Estadual presta homenagem à memória desse grande homem público que,
com sua força, afirmou a grandeza de Minas no cenário nacional."
Representando a família do homenageado, o filho de Aureliano Chaves
lembrou, em um discurso emocionado, que o pai iniciou a vida pública
na Assembléia de Minas, em 1958. Antônio Aureliano disse que daria
um testemunho de filho que vê no pai o exemplo de conduta e de
correção na vida pública. "A vida pública honra muito os que a
exercem com transparência e dignidade, buscando o bem comum",
afirmou. Disse ainda que a ética sempre foi o norte na vida de
Aureliano Chaves e que ele foi um homem modesto, sem grandes
ambições.
Aureliano Chaves deverá ser nome de praça
O presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte,
vereador Betinho Duarte, entregou também ao filho do homenageado uma
cópia do Projeto de Lei (PL) 1.317/2003, de sua autoria, que dá a
denominação de Praça Aureliano Chaves à Praça do Bairro Belvedere.
"Além de prestar uma homenagem ao ex-governador, queremos gravar sua
história política", disse.
Durante a homenagem foi exibido um vídeo produzido
pela TV Assembléia em que Aureliano Chaves falava das qualidades do
homem público e sobre a política brasileira. O grupo musical "Som
Clave" interpretou as músicas "Como é grande o meu amor por você",
"Canção da América" e "Amigos para sempre".
Mesa dos trabalhos - Compuseram a mesa na Reunião Especial, que teve o presidente da
Assembléia, deputado Mauri Torres (PSDB), na direção dos trabalhos,
o deputado Dalmo Ribeiro Silva; o vice-governador do Estado, Clésio
Andrade, representando o governador Aécio Neves; o filho de
Aureliano Chaves, Antônio Aureliano Sanchez de Mendonça,
representando a família do homenageado; o governador de Minas no
período 1979/1983, Francelino Pereira; o deputado federal Romeu
Queiroz, representando a Câmara dos Deputados; o tenente coronel
Eduardo Orione de Assis, representando o general Castro, comandante
da 4ª Região Militar - 4ª Divisão de Exército; o procurador-geral do
Estado, José Bonifácio Borges de Andrada; os secretários de Estado
de Desenvolvimento Regional e Política Urbana, Maria Emília Rocha
Melo; e de Ciência e Tecnologia, Olavo Bilac Pinto; o presidente da
Câmara Municipal de Belo Horizonte, vereador Betinho Duarte; além de
outras autoridades políticas e acadêmicas e de familiares e amigos
de Aureliano Chaves.
Dados biográficos
Antônio Aureliano Chaves de Mendonça nasceu em Três
Pontas, em 13 de janeiro de 1929. Era engenheiro mecânico e
eletricista, com especialização em Organização Racional do Trabalho
e em Segurança e Desenvolvimento. Foi professor da Universidade
Católica de Minas Gerais. Iniciou sua carreira política no final da
década de 1950, quando foi eleito suplente de deputado estadual pela
UDN (para a 4ª Legislatura, 1959/1963), sendo efetivado em 1961. Ele
renunciou ao mandato em outubro de 1962, para ocupar uma diretoria
da Eletrobras. Iniciava-se aí sua atuação pública ligada ao setor
energético, onde teve destacada atuação até o fim de sua vida.
Em 1963, elegeu-se novamente deputado estadual para
a 5ª Legislatura (1963/1967); foi novamente chamado para ocupar um
cargo no Executivo e foi secretário de Estado do governo Magalhães
Pinto, primeiramente na área da Educação e depois na de Comunicação
e Obras Públicas. Esteve vinculado a um dos centros de articulação
do movimento que depôs o presidente João Goulart, em 1964. No final
de 1965, com a reorganização do quadro partidário no Brasil,
vinculou-se à Arena. Apesar de sua ligação com o regime militar,
votou contra a cassação do mandato do então deputado federal Márcio
Moreira Alves (hoje jornalista), que criticou o governo federal no
Congresso - o discurso e a cassação deram origem ao Ato
Institucional nº 5 (AI-5).
Em março de 1975, assumiu o governo de Minas
Gerais, indicado pelo então presidente Ernesto Geisel, cujo nome
tinha apoiado para a Presidência da República. Aureliano já
começava, com isso, a externar sua identificação com as correntes
políticas progressistas que pediam o fim do regime militar, a volta
do governo civil e eleições diretas para a Presidência da República.
Valorização do planejamento
Durante seu governo, nas mensagens que dirigiu ao
Legislativo estadual, em 1976, 1977 e 1978, Aureliano acentuou a
importância da modernização da máquina administrativa, que, na sua
avaliação, devia ser capacitada a sustentar condições favoráveis
para garantir e expandir investimentos de ponta na indústria e na
agricultura, a despeito da crise econômica que já comprometia a
continuidade do chamado "milagre econômico". Para racionalizar e
melhor planejar a administração do Estado, Aureliano criou duas
novas pastas: a Secretaria de Estado do Planejamento e
Coordenação-Geral e a de Ciência e Tecnologia, ambas originárias de
grupos de trabalho originários da Fundação João Pinheiro. Na sua
gestão, também foram criados vários setores visando ao planejamento
regional do desenvolvimento.
Em julho de 1978, renunciou ao cargo de governador
de Minas Gerais para concorrer à vice-presidência da República, na
chapa do general João Figueiredo, pela eleição indireta, conforme
previa a Constituição Federal de então. O mandato começou em março
do ano seguinte, pelo PDS, e foi até março de 1985. Durante esse
período, foi progressivamente identificando-se com as correntes
políticas que ganhavam força no País pedindo o fim do regime
militar, a volta do governo civil e o restabelecimento de eleições
diretas para a Presidência da República. Como vice-presidente, pelo
PDS, partido do governo, afirmou-se como líder dissidente e defendeu
a convocação de uma Assembléia Constituinte. Apoiou a candidatura e
a eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República, em
1984. No início de 1985, liderou a transformação da Frente Liberal
em partido político, o Partido da Frente Liberal (PFL). De 1985 a
1989, foi ministro das Minas e Energia no governo José Sarney.
Nos últimos anos, mesmo sem ocupar cargos públicos,
Aureliano Chaves foi sempre ouvido e lembrado por defender posições
nacionalistas claras e coerentes com o que julgava prioritário para
o interesse público, do Brasil ou de Minas Gerais. Em maio de 2001
participou, na Assembléia Legislativa, do Ato Contra a Privatização
de Furnas e, em junho do mesmo ano, do Ciclo de Debates "Colapso
Energético e Alternativas para a Crise".
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