Audiência mostra comerciante assaltado mais de 50 vezes no Barreiro

"Já fui assaltado mais de 50 vezes nas minhas duas padarias no Barreiro. Fico à mercê de vagabundos. Quem vai me dar ...

18/06/2003 - 19:08
 

Audiência mostra comerciante assaltado mais de 50 vezes no Barreiro

"Já fui assaltado mais de 50 vezes nas minhas duas padarias no Barreiro. Fico à mercê de vagabundos. Quem vai me dar segurança?" Esse foi o desabafo do comerciante Carlos Eduardo, na audiência pública da Comissão de Segurança Pública, no Colégio São Paulo da Cruz, Barreiro de Baixo, em Belo Horizonte, nesta quarta-feira (18/6/2003). Com atuação há 17 anos na região, Carlos Eduardo apresentou boletins de ocorrência comprovando vários desses assaltos, mostrando-se indignado com a situação de insegurança, provocada, na sua opinião, pelo descaso do Estado. "Pago todos os meus impostos e não vejo nada feito. A gente quer resultados, porque de conversa fiada todo mundo está cheio", queixou-se.

Como encaminhamento ao problema apresentado, os deputados presentes à reunião - Célio Moreira (PL) e Sargento Rodrigues (PDT), presidente da comissão - sugeriram que o comerciante entrasse com uma ação contra o governo do Estado. Segundo Rodrigues, a Constituição da República garante, em seu artigo 144, que a segurança pública é um dever do Estado. Ele também convidou o comerciante para prestar seu depoimento na audiência pública, dia 30 de junho, na Assembléia, que vai discutir, com as polícias Civil e Militar e conselhos de segurança pública, o policiamento comunitário e outras questões de segurança pública.

O objetivo da audiência pública, requerida pelo deputado Célio Moreira (PL), era debater três temas principais: a falta de segurança e o aumento do índice de criminalidade na região; a estruturação da 36ª Delegacia Seccional, com o oferecimento de plantão 24 horas; e a implantação de uma delegacia de polícia e de uma companhia da Polícia Militar no Barreiro de Cima. Foram convidados, mas não compareceram: o secretário de Estado de Defesa Social, desembargador Lúcio Urbano; o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Álvaro Nicolau; o chefe da Polícia Civil, Otto Teixeira Filho; o prefeito municipal de Belo Horizonte, Fernando Pimentel; e o superintendente da Polícia Federal em Minas Gerais, Oswaldo Roberto Varella.

Comissão vai pedir que autoridades sejam convocadas, e não convidadas

Insatisfeito com a ausência de todos os convidados para a audiência pública (apesar de terem enviado representantes, com exceção da PF), Célio Moreira (PL) disse que irá solicitar ao presidente da Assembléia que garanta às comissões a prerrogativa de, em vez de convidar autoridades, convocá-las. "Se as autoridades não comparecerem, que sejam punidas", afirmou. O deputado Sargento Rodrigues (PDT) apoiou a iniciativa de seu colega, afirmando, ainda, que o Regimento Interno da Casa oferece essa possibilidade. Moreira acrescentou que, apesar de as autoridades terem mandado representantes, esses não tinham poder para resolver a maioria das questões levantadas. Ele ressaltou que o problema se mostrava mais grave ao se comparar dados da Polícia Militar sobre efetivos: enquanto Juiz de Fora, com 470 mil pessoas, conta com 1.600 policiais, o Barreiro, com 350 mil habitantes, tem apenas 300 policiais.

Ciclo de discussão - O tenente coronel Marcelo Aleixo, comandante do 5º Batalhão da PMMG, ressaltou que concluiu recentemente um ciclo de discussão sobre segurança pública com as escolas da região, constatando que a participação da comunidade ainda é pequena. Isso tornaria menos eficaz a atuação da PM, que seria reforçada por um trabalho de prevenção social, de base, realizado nas famílias e nas escolas, principalmente. Outro entrave seria, para Aleixo, a impunidade, garantida por legislações obsoletas. "Sem participação da comunidade, e das autoridades na mudança das leis, nós vamos continuar sem solução para o problema", lamentou.

O delegado titular da 36ª Delegacia Seccional do Barreiro, Sebastião Francisco dos Santos, divulgou o trabalho de polícia comunitária que sua unidade vem realizando, visitando escolas da região. Ele reivindicou a implantação da 36ª Delegacia Seccional, com plantão 24 horas, que eliminaria a obrigação dos moradores terem que se deslocar ao bairro Alípio de Melo, nos fins-de-semana, para fazerem ocorrências.

Parceria entre PBH e polícias é enfatizada

O administrador regional do Barreiro, Paulo César Funghi, salientou a parceria da Prefeitura de Belo Horizonte com as polícias Militar e Civil na região. Mas ele ponderou que, apesar de todo o esforço, o problema da criminalidade tem causas estruturais, como o esgarçamento do tecido social, que dependem de ações em nível federal, como também é o caso do tráfico de drogas e armas. "Não adianta fazer um núcleo no centro do Barreiro se deixarmos a periferia desamparada, onde estão os mais pobres", analisou. Funghi citou algumas medidas concretas em implantação: o programa Polícia Comunitária, da Polícia Civil, bem como a criação do plantão 24 horas e a construção de um pelotão da Polícia Civil entre os bairros Lindéia e Regina, além da melhoria da Cavalaria da PM.

O vereador de Belo Horizonte, com atuação no Barreiro, Ronaldo Gontijo, disse que a região é vítima do crescimento desordenado, evidenciado por vários projetos de reassentamento que não criaram infra-estrutura social para atender esses novos moradores. De acordo com Gontijo, "um terço da riqueza da Capital é produzida no Barreiro, mas nem um décimo retorna para a região".

Na parte da reunião aberta à participação da população, várias lideranças relataram diversos problemas envolvendo a segurança pública, tais como: iluminação pública, demora no atendimento policial, tráfico de drogas, vandalismo em locais públicos, assaltos e arrombamentos no comércio, número insuficiente de policiais, e ameaças aos bombeiros militares no atendimento a áreas de risco.

Presenças - Participaram os deputados Sargento Rodrigues (PDT), presidente da comissão; e Célio Moreira (PL).

 

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