Prostitutas teriam sido assassinadas por policiais

Além de participarem do tráfico de drogas no centro de Belo Horizonte, policiais civis também estariam envolvidos nos...

18/06/2003 - 18:09
 

Prostitutas teriam sido assassinadas por policiais

Além de participarem do tráfico de drogas no centro de Belo Horizonte, policiais civis também estariam envolvidos nos assassinatos de garotas de programa na Capital. A revelação foi feita nesta quarta-feira (18/6/2003) por quatro prostitutas que trabalham na zona boêmia de Belo Horizonte, em reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia de Minas. Por motivos de segurança, as identidades das mulheres não foram reveladas. Os nomes a seguir são fictícios.

Segundo uma das testemunhas, identificada como dona Marta, a prostituta Cleide Aparecida Moreira, encontrada morta na Via Expressa em novembro de 2000, teria sido assassinada pelo policial conhecido como "Ganso". "Ela tinha rixa com o Ganso porque não concordava em ficar pagando propina para os policiais", revelou. A testemunha não soube precisar se Ganso era da Polícia Civil ou Militar, nem soube dizer seu nome completo, mas as ameaças de morte que ele teria feito a Cleide foram confirmadas pelas outras testemunhas. Paloma Crivelaro, que fazia programas no centro, também teria sido assassinada por policiais, segundo as mulheres que falaram à comissão.

Dois policiais presos na última terça-feira (17), os detetives Kennedy Mendes da Silva e Francisco Antônio Félix, mais conhecido como China, foram citados como chefes da quadrilha que domina o tráfico de drogas na zona de prostituição de Belo Horizonte. Segundo a testemunha identificada como Flávia, Kennedy ameaçava matar as mulheres que se recusassem a lhe pagar parte dos lucros obtidos com a venda de drogas. Segundo ela, boa parte dos traficantes do centro têm bom relacionamento com alguns policiais e pagam diariamente de R$ 5 a R$ 10 para não serem incomodados pela Polícia. Já os policiais viciados aceitam drogas como pagamento, em vez de dinheiro, segundo Flávia.

Inspetor é dono de hotel de prostituição

Além de ligações com o tráfico, policiais civis teriam envolvimento direto com a rede de prostituição do centro. É o caso do inspetor conhecido como Geraldinho Caldeira, suposto dono do hotel HR, que funciona como centro de distribuição de drogas e de prostituição em Belo Horizonte. "Nesse hotel só tem traficante, prostituta e ladrão", afirmou Flávia. Segundo ela, a mulher do inspetor, identificada como Clarice, seria dona de outros dois pontos de prostituição do centro, os hotéis Sine e Mirage.

Até mesmo um funcionário da Delegacia de Mulheres estaria envolvido nessa rede de tráfico e prostituição. O policial civil conhecido como Maguila estaria recebendo dinheiro dos donos de prostíbulos para fazer vista grossa às denúncias de maus tratos apresentadas pelas prostitutas, segundo dona Marta e a testemunha identificada como Maria.

Garotas têm medo dos líderes do tráfico

As testemunhas falaram também do terror instaurado pelos líderes do tráfico. Segundo dona Marta, Kennedy é conhecido pela violência com que agride as prostitutas que se negam a lhe dar dinheiro. "O Kennedy e o China matam mesmo, pode ser homem ou mulher", disse a testemunha identificada como Maria. Outro policial que espalha o medo entre as garotas de programa é Joaquim Ribeiro Sobrinho, mais conhecido como Quim. "Ele é louco, doente, psicopata, gosta de bater nas mulheres", disse Flávia. Junto com Kennedy, Quim responde a processo na Justiça por crime de concussão (extorsão cometida por servidor público), por ter extorquido R$ 3 mil de uma prostituta, em 1999. Ele teve prisão preventiva decretada por seu envolvimento no tráfico, mas está foragido da Justiça.

Líderes - Além de Kennedy e China, os outros integrantes da quadrilha, segundo as testemunhas, seriam os policiais José Geraldo da Silva, o Dot; Marcelo Carpino de Oliveira, o Carioca; Vanilton Santana e também os policiais conhecidos como Antenor, Paulinho, Vital, Serginho e Vanderson. Também fariam parte do esquema os traficantes identificados como Índio e Nego Gilson, que não são policiais.

Deputados vão discutir caso com a Corregedoria da Polícia Civil

Segundo o deputado Durval Ângelo (PT), presidente da comissão, em depoimento sigiloso as testemunhas listaram cerca de 30 policiais que fazem parte da quadrilha. As quatro mulheres citaram também um juiz e três delegados como integrantes do esquema, de acordo com o deputado. "Na próxima semana, vamos discutir com a Corregedoria da Polícia Civil a investigação desse caso. Tráfico de drogas é incompatível com qualquer cidadão, principalmente com um delegado", afirmou.

Requerimento para a realização da reunião para discutir esse caso com a Corregedoria, em conjunto com a Comissão de Segurança Pública, foi aprovado. Foram aprovados também dois requerimentos do deputado Durval Ângelo. Um deles pede a manutenção da prisão preventiva de José Geraldo da Silva, e outro solicita que a Ouvidoria da Polícia Civil envie à comissão cópia do último relatório sobre desvio de conduta de policiais. Foram aprovados ainda outros cinco requerimentos.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PL), vice; Marília Campos (PT); Mauro Lobo (PSB); Roberto Carvalho (PT); Adelmo Carneiro Leão (PT); Chico Simões (PT); Dalmo Ribeiro Silva (PSDB); Rogério Correia (PT); Alberto Bejani (PL); Carlos Pimenta (PDT); e José Henrique (PMDB).

 

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