|
Meio Ambiente discute benefícios e prejuízos do
eucalipto
Os deputados da Comissão de Meio Ambiente e
Recursos Naturais debateram com especialistas e convidados, nesta
quarta-feira (18/6/2003), as questões ambientais, trabalhistas e
tecnológicas que envolvem o plantio e o corte de carvão em Minas,
para a fabricação de celulose ou de carvão vegetal. O assunto foi
investigado por uma CPI no ano passado, cujas conclusões enfatizaram
a terceirização do trabalho e a entrada de máquinas para colher e
beneficiar o eucalipto como principais problemas da atividade.
Dárcio Dalais, da Associação Brasileira de
Florestas Renováveis (Abracave), realçou, com apoio de vídeo e
datashow, as excelências do eucalipto. Os dados que apresentou
sustentam que a atividade de reflorestamento contribuiu com US$ 16,1
bilhões no PIB, com US$ 3,4 bilhões para as exportações e quantia
igual em impostos gerados. O Brasil teria 3 milhões de hectares
plantados e a maior tecnologia florestal do planeta. A atividade
geraria 560 mil empregos diretos e indiretos. No entanto, na
exportação de produtos florestais o Brasil responderia por apenas
1%, enquanto o Canadá lidera com 21%, os EUA com 12% e a pequena
Finlândia com 2%.
Planejamento - Humberto
Candeias, diretor-geral do IEF, lembrou que o início do
reflorestamento em Minas foi feito de forma incorreta do ponto de
vista técnico e ambiental, invadindo áreas de reserva e de
preservação permanente. Para ele, o prejuízo do eucalipto é
relativamente insignificante, já que ocupa apenas 4,2% do território
do Estado, onde as pastagens para pecuária ocupam 70%, e também
porque retira menos do solo do que qualquer outra cultura
tradicional. Candeias reiterou que o IEF é contra o desmatamento de
qualquer espécie nativa para plantio de floresta homogênea e disse
que é preciso fazer planejamento para o futuro do setor
madeireiro.
Farra com incentivos fiscais
Maria Dalce Ricas, da Associação Mineira de Defesa
do Ambiente (AMDA), revelou que 25 anos de conflitos dos
ambientalistas com as empresas do setor propiciaram ganhos e
parcerias, e mudança de mentalidade em parte dos empresários. "Ainda
tem muitos bandidos no setor, mas já temos mocinhos também", resumiu
Maria Dalce. Ela colocou também em perspectiva a cafeicultura
predatória, a expansão da soja e o reflorestamento, avançando sobre
os restos de mata atlântica e sobre o cerrado mineiro. "Tudo isso
foi feito com créditos públicos, uma verdadeira farra de incentivos
fiscais, que geraram um passivo ambiental imenso", disparou. Dalce
lembrou que, apenas um século atrás, Minas tinha 49% do seu
território coberto por mata atlântica, e que hoje 85% do nosso
território já foi desmatado. Cobrou também do IEF mais seriedade no
licenciamento ambiental para reflorestamento.
Questionamento - O
professor Múcio Tosta Gonçalves, do Unicentro Newton Paiva,
questionou os números apresentados pela Abracave, que estariam
agregados e não espelhariam a realidade. Para ele, a monocultura
limita as escolhas da população local, embora haja monoculturas que
sejam reversíveis, e algumas menos danosas que outras. Criticou
também que os impostos mencionados pela Abracave são todos
canalizados para a União e o Estado, nada restando para os
municípios que têm que lidar com os problemas gerados pela
atividade. Duvidou também dos números de geração de empregos e
também da qualidade desses empregos, afirmando que os empregos estão
diminuindo e as condições ficando péssimas. "A atividade gerou
progresso para quem? Recursos foram transferidos da sociedade para
empresários que não assumiram responsabilidades por seus atos",
disse. Para Múcio Tosta, a definição mais conservadora de
desenvolvimento sustentável é "aquele que seja ecologicamente
adequado e socialmente justo".
Capina química é crime ecológico
Carlos Eduardo Dutra Pires, coordenador de meio
ambiente das bacias do Rio das Velhas e Paraopeba, introduziu sua
visão pessoal do uso da terra, defendendo o direito de herdeiros de
áreas preservadas a utilizarem esses recursos. "Quem causar danos a
terceiros tem que indenizá-los. Por que penalizar quem preservou,
sendo que quem devastou não é penalizado?", indagou.
Hélio Martins Silva, da Comissão Pastoral da Terra,
assumiu-se como matuto que formou convicções por suas observações
práticas. Denunciou que há muitos plantios de eucalipto em que as
terras foram obtidas de forma duvidosa e o carvão é produzido com
trabalho escravo. Descreveu os métodos da Aracruz Celulose e da
Bahia Sul para entrarem na região de Nanuque, oferecendo até cestas
básicas aos posseiros. Observou também que a capina química do
eucaliptal extermina os animais, seja diretamente, seja pelo
envenenamento das águas. "Se eu quiser plantar eucalipto, põem tudo
à minha disposição. Se eu quiser ajudar um carvoeiro a reclamar seus
direitos, não consigo informação em parte alguma", denunciou.
Martins posicionou-se a favor da cafeicultura ou de qualquer cultivo
de alimento em lugar do eucalipto. "Ninguém come eucalipto. Esse pau
não gera vida nem para os bichos, nem para o homem", arrematou.
José Maria Soares, da Federação dos Trabalhadores
das Indústrias Extrativas de Minas Gerais, criticou os resultados da
CPI das Carvoarias, dizendo que continua havendo servidão humana,
acidentes e mutilações nos serviços terceirizados por grandes
empresas, como a Acesita, a Cenibra e a Plantar. "O produto
exportado por essas empresas está manchado pelo sangue dos
trabalhadores", disse o sindicalista.
Empresário predatório vai desaparecer
Em suas observações, os deputados procuraram manter
equilíbrio entre a importância da atividade para a economia, as
condicionantes ambientais e o respeito aos direitos trabalhistas. A
presidente da Comissão, Maria José Haueisen (PT), afirmou que é
preciso plantar eucalipto para abastecer as indústrias e proteger o
que resta de mata nativa, mas mostrou preocupação com as grandes
extensões de florestas de crescimento rápido, com a aquisição de
muitas fazendas para essa finalidade e com o arrendamento a preço
irresistível, que retira as famílias da terra.
O deputado Doutor Ronaldo (PDT) mostrou otimismo
com as empresas que plantam eucalipto de forma ecologicamente
prudente para a indústria moveleira. O parlamentar afirmou que
confia no presidente Lula, "que é homem do povo e sente a dor do
trabalhador". Para ele, o empresário predador do meio ambiente está
fadado a desaparecer.
O deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) afirmou que,
apesar dos problemas relatados na reunião, reconhece enormes
potencialidades para o Brasil trilhar o melhor caminho na atividade
de reflorestamento, e disse que a consciência de cidadania do povo
brasileiro está aumentando muito. Relatou que, na CPI das
Carvoarias, viu situações constrangedoras de sofrimento dos
trabalhadores, mas também bons exemplos, como a tecnologia da
colheita, que não expõe o homem a riscos desnecessários. Citou como
bom exemplo a empresa Satipel, do Triângulo Mineiro.
Presenças: Compareceram à
reunião os deputados Maria José Haueisen (PT) - presidente, Doutor
Ronaldo (PDT), Adelmo Carneiro Leão (PT), Carlos Pimenta (PDT) e
Leonardo Quintão (PMDB).
|