Bacia do Paraíba do Sul terá monitoramento diário

A Agência Nacional de Águas (ANA) pretende implantar, ainda este ano, um sistema de monitoramento da bacia do Rio Par...

17/06/2003 - 20:15
 

Bacia do Paraíba do Sul terá monitoramento diário

A Agência Nacional de Águas (ANA) pretende implantar, ainda este ano, um sistema de monitoramento da bacia do Rio Paraíba do Sul, em parceria com os Estados de Minas, Rio de Janeiro e São Paulo, para verificação diária da qualidade da água dos rios da bacia, com o objetivo de implantar ações preventivas. O anúncio foi feito pela representante do órgão, Gisele Forantini, durante reunião da Comissão Especial de Acidentes Ambientais da Assembléia Legislativa, nesta terça-feira (17/6/2003).

O projeto é relativamente simples, segundo Gisele. De acordo com ela, serão necessários uma sonda, 21 observadores, um microcomputador e um celular, ao custo total de R$ 570 milhões. O projeto vai medir a acidez, a temperatura, o oxigênio dissolvido e a condutividade específica da água, itens determinantes para a análise de sua qualidade. Cerca de 60% dos pontos a serem monitorados estão no território mineiro, onde se originou o acidente com resíduos tóxicos da Indústria Cataguazes de Papel. Gisele Forantini elogiou a Deliberação Normativa 62/2002, da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), aprovada pelo Conselho de Política Ambiental (Copam), que estabelece os critérios de classificação das barragens. Ela também lamentou a ausência de um plano nacional sobre o assunto.

Conselho para estudar impacto das barragens precisa ser nomeado

O engenheiro José Carlos Melo, responsável pelo setor de gestão ambiental do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), cobrou a nomeação do conselho multidisciplinar criado pela deliberação 62 para estudar os cadastros sobre barragens, recebidos até o início do mês. Para ele, só este grupo poderá definir os critérios mínimos que orientem a classificação das barragens.

A própria deliberação estabeleceu as linhas gerais da classificação das barragens, levando em conta o maciço onde elas estão instaladas e a população próxima, planejando desde sua abertura até a desativação. O presidente do Sindicato das Indústrias Extrativas de Minas Gerais (Sindiextra) e representante da Câmara da Indústria Mineral da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), José Fernando Coura, disse que mais do que discutir barragens, nesse momento é necessário discutir o transporte das cargas tóxicas.

Ele prometeu entregar à comissão um filme da Ferrovia Centro-Atlântica, onde são mostrados os esforços da empresa para diminuir os impactos com o acidente ocorrido em Uberaba, no último dia 10. A empresa é a responsável pela carga tóxica de metanol que caiu em um rio que abastece a cidade, durante um acidente com descarrilamento de 18 vagões. José Coura falou ainda da preocupação da Fiemg e do sindicato em trabalhar em parceria com os órgãos ambientais.

Novas tecnologias de barragens - Outro representante da Fiemg, Wagner Soares Costa, disse que muitas empresas estão abandonando as barragens e adotando novas tecnologias, como tanques que reaproveitam os resíduos. Ele pediu que a comissão não generalizasse a discussão e reclamou da demora na aplicação das leis, "quando ocorre um hiato entre a lei publicada e sua regulamentação".

Os dois representantes do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-MG), Miguel Ângelo de Sá e João César Cardoso, falaram da atuação da entidade na fiscalização do exercício da atividade profissional e sobre os problemas com as barragens com a mineração de ouro, que não têm rejeitos tóxicos imediatos, "mas metais pesados que vão contaminar os lençóis freáticos e o solo, ao longo dos anos", como destacou João César.

A pesquisadora da Feam Eleonora Dechamps também chamou a atenção para o problema dos rejeitos da mineração, lembrando que, segundo o guia de classificação de uma entidade canadense, o Brasil se encontra no estágio da produção, isto é, o número de minas em operação é maior do que o daquelas com atividades encerradas. "Como a Feam só fiscaliza o que sai das barragens, o que entra está inteiramente sob a responsabilidade das empresas", destacou.

A Feam conseguiu cadastrar, até o dia 9 de junho, 461 barragens, cujos dados fornecidos serão analisados por um grupo de trabalho, conforme informação do analista de ciência e tecnologia do órgão, Celso Scalobrini Costa. Têm participação permanente na comissão, como convidados, os seguintes órgãos: Feam, Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Ministério Público, Coordenadoria Executiva de Defesa Civil (Cedec), Ibama, Crea-MG, Associação dos Conselhos Municipais do Meio Ambiente (Acode) e ANA.

Entidades apontam responsáveis por acidentes ambientais

O representante da Câmara da Indústria Mineral da Fiemg, José Fernando Coura, declarou que o principal responsável pelos acidentes ambientais são os empreendedores, que devem responder pelos danos causados por suas empresas. De acordo com ele, em segundo lugar, a responsabilidade recai sobre os profissionais legalmente habilitados que executaram as obras. Já o engenheiro do Crea-MG, Miguel Ângelo, afirmou que o problema, atualmente, está concentrado nas pequenas barragens, que foram construídas, em sua maioria, sem controle.

Sobre o cadastro de barragens em Minas Gerais, o representante da Fiemg afirmou que existem motivos para preocupação, pois estima-se que existem no Estado 5 mil barragens, mas somente 500 estão cadastradas e são fiscalizadas. Fernando Coura contou que foi feita ampla divulgação do cadastramento de barragens, por meio do Sindextra, mas poucas empresas responderam à solicitação. O representante da Fiemg defendeu punição para as empresas que não se cadastraram.

Legislação ambiental - A falta de informação foi apontada por outro representante da Fiemg, Wagner Soares Costa, como um problema para o cumprimento da legislação ambiental. Segundo ele, cerca de 80% dos pequenos e médios empresários desconhecem o conteúdo das leis ambientais. Ele informou que a Fiemg está fazendo um trabalho de mobilização junto a esses empresários, para levar até eles informações sobre a legislação ambiental.

Requerimentos - Foram aprovados dois requerimentos. Do deputado Fábio Avelar (PTB), solicitando que seja incluída na lista de convidados para a reunião de 8 de julho, que irá tratar do acidente com a contaminação da água em Uberaba, o Sindicato das Indústrias Extrativas de Minas Gerais. E do deputado Doutor Ronaldo (PDT), que solicita a prorrogação dos trabalhos da comissão por mais 30 dias.

Presenças - Participaram da reunião a deputada Maria José Haueisen (PT), presidente; Doutor Ronaldo (PDT); Biel Rocha (PT); Gilberto Abramo (PMDB); e Leonardo Quintão (PMDB).

 

 

 

 

 

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