Economia Solidária resgata dignidade e auto-estima

No painel da tarde, coordenado inicialmente pelo deputado Célio Moreira (PL) e depois pelo deputado Dalmo Ribeiro Sil...

13/06/2003 - 20:45
 

Economia Solidária resgata dignidade e auto-estima

No painel da tarde, coordenado inicialmente pelo deputado Célio Moreira (PL) e depois pelo deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), cinco expositores discutiram microfinanças e políticas públicas de economia popular solidária. A tônica das exposições foi demonstrar que o objetivo da economia solidária ultrapassa a simples oferta de crédito para constituir-se em projeto de formação de cidadania e componente de um novo humanismo.

Amauri Adolfo da Silva, da Associação de Agricultura Familiar da Zona da Mata, revelou que sua entidade mantém 43 projetos, sendo 14 coletivos e 18 de mulheres, envolvendo 224 famílias. Um fundo de crédito rotativo, com dinheiro vindo da Cáritas, empresta até R$ 4.500,00 por projeto coletivo e até R$ 1.500,00 por projeto individual. Os tomadores têm carência de seis meses e um ano para quitar, a juros de 6% ao ano. "Não aprovamos projetos para comprar agrotóxicos ou qualquer meio de agressão à natureza. Nosso objetivo é fortalecer a capacidade de organização da comunidade e promover a solidariedade entre as famílias. Não existe desenvolvimento sem envolvimento", afirmou.

Estado atrapalha - Idalvo Toscano, economista e consultor de Economia Solidária, teorizou sobre solidariedade como algo que converge. "Não é possível ser parcialmente solidário. A gente é ou não é", definiu. "Da mesma forma, não se pode ser mais ou menos honesto, nem ter um caráter razoável. A pessoa tem caráter ou não tem. É honesta ou não é". Toscano lamentou que os bancos populares sejam fragmentados e não trabalhem de forma cooperativa ou dentro do conceito de rede e criticou a insensibilidade do governo, que cobra IOF e CPMF sobre os empréstimos dos bancos populares. "O microcrédito oficial é importante, mas se o Estado apenas não atrapalhasse as construções populares, já estaria fazendo muito". Toscano recolocou a economia numa perspectiva histórica, dizendo que "nunca houve uma instituição tão poderosa e avassaladora como a moeda. O grande desafio da economia solidária é provar que outra ordem econômica, outra finança é possível, como paradigma para um novo crescimento".

Participação nas decisões - Reginaldo Magalhães, assessor das cooperativas de crédito da CUT, disse que o sistema bancário é muito concentrado nas capitais, e que ignora as necessidades de acesso ao crédito para pessoas de baixa renda. "As microfinanças têm um vasto potencial de acelerar a dinâmica de crescimento das pequenas comunidades e criar pequenos sistemas financeiros", afirmou. Foi apoiado por Idalvo Toscano, para quem esses sistemas retêm a renda gerada na comunidade em benefício da própria comunidade. "Seria como uma sociedade anônima, em que cada pessoa da comunidade seria um acionista, participando do conselho e das decisões".

Política compensatória - Dione Manetti alertou para o risco de apropriação empresarial do conceito de economia solidária: "O capitalismo transforma tudo em mercadoria. Até a solidariedade por ser mercantilizada". Para ele, a questão de fusão ou estruturação de rede entre os bancos populares é complexa e envolve elementos estruturantes da economia. Manetti não aceita que a economia solidária seja apresentada como uma política compensatória do Governo. "A Secretaria Nacional de Economia Solidária, dirigida pelo professor Paul Singer, é órgão do Ministério do Trabalho, e isso significa muito quando se tem um trabalhador metalúrgico como presidente da República", afirmou.

Juro alto é o gargalo - Marcelo d'Agostini, diretor do Banpop, o Banco Popular de Belo Horizonte, informou que a dinâmica do banco observa dois pressupostos básicos: nunca tentar substituir a experiência da comunidade, e promover a criação dos grupos de aval solidário. "O crédito é só um instrumento num projeto de resgate da dignidade e da auto-estima das pessoas que trabalham em conjunto", afirmou. Para ele, o que o Banpop tem de melhor é a desburocratização. Com o aval solidário do grupo, não é preciso avalistas, consultas ao SPC ou ao Serasa. "O gargalo para nós é a taxa de juros, que está alta, em 3,9% ao mês. O ideal seria algo em torno de 1,5%. A taxa alta só se justifica pelo reinvestimento e por aumentar a teia de solidariedade", informou. O Banpop de Belo Horizonte tem um capital de R$ 600 mil, que financia 160 empreendimentos para 120 grupos, totalizando 800 clientes.

Outras atividades - Paralelamente à programação na Assembléia, o Fórum Mineiro de Economia Popular Solidária promoveu uma série de atividades culturais, como shows à noite, palestras, oficinas e feira ao ar livre, na Praça da Assembléia.

TV Assembléia - A programação do Ciclo de Debates A outra economia possível: a economia solidária será retransmitida pela TV Assembléia, nos dias 14 de junho, às 12h30; e 15 de junho, às 12 horas. A ata do evento será publicada no Diário do Legislativo no dia 28 de junho.

 

 

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