Economia Solidária resgata dignidade e auto-estima
No painel da tarde, coordenado inicialmente pelo
deputado Célio Moreira (PL) e depois pelo deputado Dalmo Ribeiro
Silva (PSDB), cinco expositores discutiram microfinanças e políticas
públicas de economia popular solidária. A tônica das exposições foi
demonstrar que o objetivo da economia solidária ultrapassa a simples
oferta de crédito para constituir-se em projeto de formação de
cidadania e componente de um novo humanismo.
Amauri Adolfo da Silva, da Associação de
Agricultura Familiar da Zona da Mata, revelou que sua entidade
mantém 43 projetos, sendo 14 coletivos e 18 de mulheres, envolvendo
224 famílias. Um fundo de crédito rotativo, com dinheiro vindo da
Cáritas, empresta até R$ 4.500,00 por projeto coletivo e até R$
1.500,00 por projeto individual. Os tomadores têm carência de seis
meses e um ano para quitar, a juros de 6% ao ano. "Não aprovamos
projetos para comprar agrotóxicos ou qualquer meio de agressão à
natureza. Nosso objetivo é fortalecer a capacidade de organização da
comunidade e promover a solidariedade entre as famílias. Não existe
desenvolvimento sem envolvimento", afirmou.
Estado atrapalha - Idalvo
Toscano, economista e consultor de Economia Solidária, teorizou
sobre solidariedade como algo que converge. "Não é possível ser
parcialmente solidário. A gente é ou não é", definiu. "Da mesma
forma, não se pode ser mais ou menos honesto, nem ter um caráter
razoável. A pessoa tem caráter ou não tem. É honesta ou não é".
Toscano lamentou que os bancos populares sejam fragmentados e não
trabalhem de forma cooperativa ou dentro do conceito de rede e
criticou a insensibilidade do governo, que cobra IOF e CPMF sobre os
empréstimos dos bancos populares. "O microcrédito oficial é
importante, mas se o Estado apenas não atrapalhasse as construções
populares, já estaria fazendo muito". Toscano recolocou a economia
numa perspectiva histórica, dizendo que "nunca houve uma instituição
tão poderosa e avassaladora como a moeda. O grande desafio da
economia solidária é provar que outra ordem econômica, outra finança
é possível, como paradigma para um novo crescimento".
Participação nas decisões
- Reginaldo Magalhães, assessor das cooperativas de crédito da CUT,
disse que o sistema bancário é muito concentrado nas capitais, e que
ignora as necessidades de acesso ao crédito para pessoas de baixa
renda. "As microfinanças têm um vasto potencial de acelerar a
dinâmica de crescimento das pequenas comunidades e criar pequenos
sistemas financeiros", afirmou. Foi apoiado por Idalvo Toscano, para
quem esses sistemas retêm a renda gerada na comunidade em benefício
da própria comunidade. "Seria como uma sociedade anônima, em que
cada pessoa da comunidade seria um acionista, participando do
conselho e das decisões".
Política compensatória -
Dione Manetti alertou para o risco de apropriação empresarial do
conceito de economia solidária: "O capitalismo transforma tudo em
mercadoria. Até a solidariedade por ser mercantilizada". Para ele, a
questão de fusão ou estruturação de rede entre os bancos populares é
complexa e envolve elementos estruturantes da economia. Manetti não
aceita que a economia solidária seja apresentada como uma política
compensatória do Governo. "A Secretaria Nacional de Economia
Solidária, dirigida pelo professor Paul Singer, é órgão do
Ministério do Trabalho, e isso significa muito quando se tem um
trabalhador metalúrgico como presidente da República",
afirmou.
Juro alto é o gargalo -
Marcelo d'Agostini, diretor do Banpop, o Banco Popular de Belo
Horizonte, informou que a dinâmica do banco observa dois
pressupostos básicos: nunca tentar substituir a experiência da
comunidade, e promover a criação dos grupos de aval solidário. "O
crédito é só um instrumento num projeto de resgate da dignidade e da
auto-estima das pessoas que trabalham em conjunto", afirmou. Para
ele, o que o Banpop tem de melhor é a desburocratização. Com o aval
solidário do grupo, não é preciso avalistas, consultas ao SPC ou ao
Serasa. "O gargalo para nós é a taxa de juros, que está alta, em
3,9% ao mês. O ideal seria algo em torno de 1,5%. A taxa alta só se
justifica pelo reinvestimento e por aumentar a teia de
solidariedade", informou. O Banpop de Belo Horizonte tem um capital
de R$ 600 mil, que financia 160 empreendimentos para 120 grupos,
totalizando 800 clientes.
Outras atividades -
Paralelamente à programação na Assembléia, o Fórum Mineiro de
Economia Popular Solidária promoveu uma série de atividades
culturais, como shows à noite, palestras, oficinas e feira ao ar
livre, na Praça da Assembléia.
TV Assembléia - A
programação do Ciclo de Debates A outra economia possível: a
economia solidária será retransmitida pela TV Assembléia, nos dias
14 de junho, às 12h30; e 15 de junho, às 12 horas. A ata do evento
será publicada no Diário do Legislativo no dia 28 de junho.
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