Detenta denuncia policiais envolvidos com tráfico e assassinatos
A detenta Sílvia Helena Menezes, da Penitenciária
Estêvão Pinto, no bairro Horto, denunciou o envolvimento de
policiais civis e militares numa quadrilha de traficantes de drogas,
que seria responsável pelos assassinatos de garotas de programa, no
Centro de Belo Horizonte. Ela revelou os nomes dos envolvidos, mas
esses serão mantidos em sigilo. O depoimento foi prestado
reservadamente a deputados da Comissão de Direitos Humanos, na tarde
desta quinta-feira (12/06/2003), em sala do presídio, para evitar
que as informações comprometessem a segurança da detenta e as
investigações do Ministério Público (MP) e das corregedorias das
Polícias Militar e Civil. Pela manhã, Sílvia Helena foi ouvida
também pelas corregedorias dessas polícias e pelo MP e reconheceu 10
policiais, em fotos a ela apresentadas, sendo nove civis e um
militar, que participariam do esquema de tráfico no hipercentro da
Capital.
Sílvia Helena Menezes, 48 anos, disse que foi presa
em flagrante pela Polícia Militar no dia 30 de maio, às 4 horas da
manhã, quando traficava drogas, no Centro de Belo Horizonte. Ela
contou que começou a traficar há dois anos, depois que uma sobrinha
dela foi presa e um detetive se prontificou a liberar a jovem. Mas
esse policial civil exigiu em troca que ela, desempregada à época,
passasse a traficar no hipercentro de Belo Horizonte. Ele a instruiu
a receber pacotes de maconha de um fornecedor e vendê-los, à noite,
a usuários em hotéis no entorno das ruas São Paulo, Curitiba,
Guaicurus e a avenida Santos Dumont, que funcionariam como pontos de
tráfico.
Policiais cobram "pedágio" sobre o tráfico, diz
detenta
A presa detalhou que alugava um quarto na região
para guardar drogas, o que seria feito também por prostitutas, as
quais teriam pontos e turnos para atuarem, com clientela já
definida. Segundo a depoente, o trato feito com o policial foi o de
que, de cada 15 "papéis" (pacotes de maconha), vendidos a R$180,00
(cento e oitenta reais), ela ganharia três, e teria que pagar
"pedágio" para os policiais envolvidos (R$20,00 por dia, para dois
deles e R$10,00 para outros, que aparecem com menor freqüência).
"Eles chegavam e falavam: 'meu dinheiro está aí?'; eu já
cumprimentava com o dinheiro na mão", afirmou. "É uma máfia muito
grande; só eu conheço mais de 20 policiais", disparou a mulher.
Um hotel na avenida Pedro II funcionaria como um
centro de distribuição de drogas, de acordo com ela. Sobre as cinco
prostitutas assassinadas este ano no centro de Belo Horizonte, ela
afirmou todos os casos têm relação com essa quadrilha de policiais.
E acrescentou que, como ela, várias prostitutas foram induzidas a
entrar para o tráfico e gostariam de denunciar o esquema, só que têm
medo de serem mortas.
Quadrilha pode ser desbaratada após
denúncias
Ao comentar as declarações da detenta à imprensa, o
deputado Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão de Direitos
Humanos, disse que as denúncias "podem ser o começo do
desbaratamento de uma das maiores quadrilhas de Minas envolvendo
policiais". Segundo Durval, as informações da detenta foram,
inclusive, confirmadas pela Associação das Profissionais do Sexo, em
entrevista à Rede Globo. Ele afirmou também que vários dos policiais
apontados já respondem por crimes na Justiça comum e continuam
trabalhando normalmente.
O deputado Durval Ângelo acrescentou que a comissão
já solicitou ao Ministério Público que inclua a depoente no Programa
de Proteção a Vítimas e Testemunhas, e está estudando a
possibilidade de entrar com um pedido junto ao MP de prisão
preventiva dos policiais denunciados. O deputado disse ainda que, se
até a próxima semana as investigações das polícias Civil e Militar
não avançarem, a comissão acionará a Polícia Federal.
Presenças - Participaram
da visita e acompanharam o depoimento os deputados Durval Ângelo
(PT), presidente da Comissão; Roberto Ramos (PL), Mauro Lobo (PSB) e
Marília Campos (PT) e também o promotor Antônio Aurélio Santos, da
Promotoria Especializada em Defesa dos Direitos Humanos, a vereadora
Maria Lúcia Scarpelli, presidente da Comissão de Direitos Humanos da
Câmara Municipal de Belo Horizonte; representantes da Coordenadoria
Municipal dos Direitos da Mulher, da PBH e da Pastoral da Mulher
Marginalizada.
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