Ciclo de debates analisa demandas da economia popular
Começou na manhã desta sexta-feira (13/6/2003), no
Plenário, o Ciclo de Debates A Outra Economia Possível: A Economia
Solidária. Na abertura do evento, a coordenadora dos trabalhos,
deputada Jô Moraes (PCdoB), leu uma mensagem do presidente da
Assembléia, deputado Mauri Torres (PSDB), em que ele afirma que a
economia solidária surgiu como antídoto aos profundos e cada vez
mais freqüentes conflitos mundiais. Para Mauri Torres, o setor deve
ganhar a atenção das políticas públicas, com o apoio da sociedade
civil: "A expectativa é de que o Ciclo de Debates gere subsídios
importantes para o crescimento desse novo modelo de organização
econômica".
Ainda de acordo com o pronunciamento, Mauri Torres
lembrou que a economia popular, fundamentada na valorização do
trabalho e da cultura e no combate às diversas formas de exploração,
tem se fortalecido no País nas últimas décadas. Torres lembrou que o
objetivo da economia popular é promover o bem-estar individual e
coletivo, a harmonia nas relações interpessoais e a melhoria da
qualidade de vida: "Funda-se também no respeito e na utilização
adequada dos recursos naturais, vistos como patrimônio de todos e
garantia de sobrevivência para as futuras gerações".
Secretaria Nacional atende demanda social
"O padrão das políticas desenvolvidas nas últimas
duas décadas está esgotado. Este é um momento novo na história do
País", afirmou o representante da Secretaria Nacional de Economia
Solidária, Dione Manetti. Segundo ele, a idéia do governo federal ao
criar a Secretaria, no início deste ano, era a de atender a uma
grande demanda da sociedade civil. "Mais de 50% da população
economicamente ativa do Brasil não gera renda pela forma
tradicional, com carteira de trabalho assinada", destacou
Manetti.
O representante da Secretaria Nacional lembrou que
a economia popular recupera conceitos de auto-gestão, solidariedade
e democracia, típicos do cooperativismo, e precisa ser regida por um
marco legal. "Muitas organizações usam esses conceitos para
precarizar as relações de trabalho", avaliou, informando que será
lançado em breve o Fórum Brasileiro de Economia Popular. Dione
Manetti afirmou que setores importantes da produção intelectual do
Brasil estão atentos ao surgimento do que classificou como "novo
sujeito social". Também participou da abertura o delegado Regional
do Trabalho, Carlos Calazans.
Minas Gerais - O Fórum
Mineiro de Economia Popular foi fundado em 1995, a partir de um
pequeno grupo de entidades que se juntaram buscando um novo modelo
de geração de emprego e renda. Com o passar do tempo, foi ganhando
apoio de entidades religiosas e sindicais, além de parlamentares, e
se fortalecendo também no interior.
Segundo a representante do Fórum, Shirley Aparecida
Almeida Silva, a entidade promoveu várias discussões sobre
metodologia, legislação e outros temas de interesse para tentar
identificar quem são e onde estão as pessoas que lidam com a nova
forma de organização. "A economia popular precisa de políticas
públicas que atendam a seu modelo. Um dos principais desafios, por
exemplo, é a comercialização dos produtos", afirmou. Ela disse ainda
que a principal diferença em relação à economia tradicional é que o
principal objetivo não é o lucro, mas os valores humanos.
Incentivo ao desenvolvimento social
Na fase de exposições, o consultor de legislação
sanitária do Estado de Santa Catarina, Leomar Luiz Prezotto
discorreu sobre um dos instrumentos da economia popular: a
Agroindústria Rural de Pequeno Porte, que consiste na propriedade e
gestão dos agricultores no meio rural, com mão-de-obra e
matéria-prima própria. Prezotto destacou uma série de aspectos a
serem considerados para que esse tipo de agroindústria obtenha
qualidade total, como produtos que tragam benefícios, a longo prazo,
à saúde humana. Outros aspectos são a qualidade nutricional da
produção, que deve dar segurança ao consumidor, e a facilidade de
uso, que se traduz na comodidade para armazenar, transportar e usar.
O respeito às normas, a apresentação dos produtos e o aspecto
ecológico também foram lembrados pelo consultor.
O secretário nacional de Erradicação do
Analfabetismo do Ministério da Educação e criador do Programa de
Verticalização da Produção da Agricultura Familiar de Brasília, João
Luiz Homem de Carvalho, afirmou que é preciso mudar a lógica de
incentivos no País. "Ao invés de se incentivar o crescimento
econômico, é preciso incentivar o desenvolvimento social ", disse.
Para ele, é necessário também definir o que é pobreza. "Pobreza não
é só ganhar pouco, é não ter casa, saneamento, saúde, emprego,
segurança. Conviver com a pobreza do Brasil, e com 20 milhões de
analfabetos não é ético".
João Luiz afirmou que qualquer atividade criada em políticas públicas
deve ter o compromisso com o êxito dessa política. O
programa lançado tem que ter o acompanhamento em todas as suas
fases, principalmente na comercialização. "Não pode ficar no lavar
as mãos , ou seja, lança um programa e não o acompanha",
disse. Ele discorreu ainda sobre os problemas de instituições
consideradas populares, como o banco do povo, mas que usam a lógica
das instituições internacionais de crédito. Destacou ainda as
lacunas da legislação para os empreendimentos, que trata grandes,
pequenos e micros, da mesma forma.
Cooperativas como estruturas de economia
solidária
O representante do Fórum
de Cooperativas Populares do Rio de Janeiro Leonardo Coelho,
destacou que as cooperativas podem ser a principal estrutura dessa
economia solidária, salientando, contudo, que a legislação sobre o
assunto precisa ser modificada, para acabar com algumas distorções e
rever o formato de algumas leis. E citou as limitações que o Banco
Central impõe à formação de cooperativas de crédito e os
entendimentos do Ministério Público sobre as cooperativas de
trabalho, o que tem provocado pressão e autuações constantes nestas
instituições.
O diretor executivo do Conselho de Segurança
Alimentar (Consea) em Minas, Edmar Gadelha, propôs uma discussão
sobre o papel do mercado no controle da produção e do consumo. Ele
lembrou que é preciso haver algum tipo de interferência, como
programas educativos sobre o consumo, além de um projeto de
universalização de políticas públicas.
Debates - Na fase de
debates, o consultor Leomar Luiz Prezotto, defendeu o diálogo
educativo para a construção da economia solidária, contribuindo para
uma participação mais efetiva dos consumidores nessa nova forma de
organização econômica. O consultor alertou também para a necessidade
de as mudanças não ocorrerem somente por meio de iniciativas
governamentais, mas por uma parceria entre o governo, a sociedade e
a indústria. Já o palestrante João Luiz Homem de Carvalho, defendeu
a criação de tributos e subsídios específicos para a economia
solidária.
TV Assembléia - A
programação do Ciclo de Debates A outra economia possível: a
economia solidária será retransmitida pela TV Assembléia, nos dias
14 de junho, às 12h30; e 15 de junho, às 12 horas. A ata do evento
será publicada no Diário do Legislativo no dia 28 de junho.
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