Criada Frente Parlamentar em Defesa da Radiodifusão
Comunitária
Participantes do I Congresso Estadual da Associação
Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) pediram a aprovação
urgente de uma legislação para resolver o problema de funcionamento
das emissoras, sujeitas a constantes fechamentos pela Anatel por
serem consideradas ilegais. E também a implantação de uma política
de comunicação democrática, baseada na participação popular. Os
pedidos foram feitos durante o lançamento da Frente Parlamentar em
Defesa da Radiodifusão Comunitária, acontecida nesta sexta-feira
(6/6/2003), no auditório da Assembléia Legislativa. A frente mineira
já conta com 28 deputados.
O congresso tem atividades até a próxima
terça-feira (10), em outros locais da cidade, e terá atividades
diversas, além dos debates. Ele está sendo transmito ao vivo para as
emissoras da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária,
incluindo rádios de Portugal. Um dos principais eixos de discussão
do congresso foi o projeto de lei do juiz federal aposentado Paulo
Fernando Silveira, de Uberaba, que prevê a municipalização dos
serviços de radiodifusão comunitária. O projeto do juiz tem
subsidiado câmaras municipais pelo Brasil afora, que têm criado suas
leis municipais, dentro dessa perspectiva.
Atividade deve ser municipalizada
O juiz é autor do livro "Rádios Comunitárias", da
editora Del Rey, onde desenvolve sua tese sobre a competência
municipal de legislar na radiodifusão comunitária, ao contrário do
entendimento atual, que remete para a União a legislação sobre o
assunto. Para Paulo Fernando, a União não pode interferir porque não
há interesse nacional em jogo, mas local. No livro, ele desenvolve,
além dessa, a tese de que é preciso descriminalizar a atividade das
rádios comunitárias, com a mudança no artigo 7º da Lei 4.117.
Um dos expositores do painel "A Sociedade e a
Radiodifusão Comunitária", o juiz Paulo Fernando disse que não há
interesse em regulamentar as rádios, por dois motivos: o financeiro,
porque existe o interesse das emissoras comerciais em continuar
controlando as verbas publicitárias dos governos estaduais e
municipais; e o político, pois "as oligarquias que ainda controlam o
poder no País não querem o surgimento de lideranças autênticas,
resultado imediato da comunicação democratizada".
Na abertura dos trabalhos, o deputado Adelmo
Carneiro Leão, que propôs a criação da Frente, juntamente com os
deputados Biel Rocha e Chico Simões, todos do PT, destacou a
importância dessa modalidade de comunicação, que rompe com o modelo
existente no País, baseado na comunicação comercial. Para ele, as
rádios comunitárias representam "a voz da liberdade dos
marginalizados e excluídos do grande fluxo de notícias e da
divulgação de fatos e acontecimentos sociais".
Legislação precisa de aperfeiçoamento
O deputado lembrou que a Frente defende a
gratuidade da informação. "Minas Gerais e seus representantes
comprometem-se com um modelo mais aberto, mais amplo e muito mais
livre de acesso aos meios de comunicação", disse. Biel Rocha disse
que é preciso, urgentemente, aperfeiçoar a legislação, mas,
principalmente, descentralizar as outorgas das rádios e
desburocratizar o processo. Segundo ele, a luta das rádios deve
caminhar para um modelo de autogestão, com a própria sociedade
regulamentando, fiscalizando e punindo os excessos.
O deputado federal Odair José (PT), membro da mesma
Frente, na Câmara dos Deputados, ex-diretor de rádio comunitária,
informou que existe uma comissão de parlamentares federais,
estaduais e municipais estudando a comunicação popular, bem como o
papel desempenhado pelas emissoras comerciais e educativas. Ele
informou que já há um encontro agendado com o ministro da Justiça,
Márcio Tomaz Bastos, para discutir o papel da Polícia Federal no
fechamento das rádios. O deputado José Henrique (PMDB) destacou a
importância das rádios no interior mineiro.
Dois convidados portugueses participaram do
primeiro painel: o coordenador da Rede Mundial de Rádios de Língua
Portuguesa, Carlos Oliveira; e o vice-presidente da Associação
Portuguesa de Radiodifusão e diretor da Universidade Vila Real, Luiz
Mendonça. Ambos defenderam um movimento mundial em defesa das "vozes
sem fronteira", com o engajamento de todos os segmentos sociais.
O presidente da Abraço-MG, José Guilherme Castro,
fez um histórico da luta das rádios comunitárias no Estado,
lembrando que a Assembléia esteve ao lado dessa luta desde o início.
Ele destacou que a Assembléia Legislativa de Minas foi a primeira no
País a ter uma comissão especial sobre rádios comunitárias, em 1997.
E a realizar o Fórum 2000, sobre o tema, que teve a primeira
transmissão internacional de rádio comunitária, para Portugal.
"Reforma agrária do ar" é defendida no debate
sobre rádios comunitárias
"Sou um defensor irrestrito de uma reforma agrária
do ar". Com essa frase, o deputado Chico Simões (PT), coordenador do
debate na tarde desta sexta-feira (6/6/2003) expressou sua opinião e
a dos presentes ao lançamento da Frente Parlamentar em Defesa da
Radiodifusão Comunitária. Ao abrir os trabalhos do painel
"Radiodifusão Comunitária: Realidade e Legalidade", o parlamentar
afirmou que os veículos com esse perfil "levam conhecimento aos
brasileiros, para que se sintam agentes da transformação". E
acrescentou que a Assembléia Legislativa, através da Frente, vai dar
todo apoio ao movimento das rádios comunitárias.
O primeiro expositor, França Andrade, coordenador
da Abraço Nacional, saudou os "companheiros das rádios comunitárias
que têm levado 'cacetada' do Estado brasileiro", segundo ele, em
todas as esferas - federal, estadual e municipal -,
instrumentalizado na ação das polícias Federal, Civil e Militar, da
Anatel e do Poder Judiciário. Apesar disso, ele mostrou confiança de
que os defensores das rádios saiam vitoriosos, apresentando as
principais propostas do movimento: disponibilização de recursos
publicitários dos governos para as rádios comunitárias; acesso delas
às leis de incentivo à cultura; criação do Conselho Estadual de
Comunicação; discussão com o Governo Estadual sobre formas de
atuação das polícias Militar e Civil; revogação da Lei Federal
4.117/62 (institui o Código Brasileiro de Telecomunicações) e do
Decreto 236/67 (modifica essa lei), que, segundo Andrade, seriam os
instrumentos usados pela Anatel para reprimir as rádios
comunitárias, de forma arbitrária; e criação de representações
regionais da Abraço-MG.
Comunitárias devem ser contraponto à mídia
global
O jornalista Luiz Carlos Bernardes, representante
do Comitê Mineiro do Fórum Nacional pela Democratização das
Comunicações (FNDC), defendeu o papel das rádios comunitárias como
contraponto ao padrão globalizado da grande mídia mundial. Segundo
Bernardes, a dominação exercida historicamente pelo eixo Estados
Unidos-Europa na comunicação mundial vem se agravando, como ficou
patente na Guerra do Iraque, em que o governo norte-americano
exerceu um controle excessivo sobre os veículos. Para tentar
minimizar os efeitos desse bombardeio global de notícias, o
jornalista defende a atuação dos meios de comunicação democráticos e
populares. Estariam incluídos aí rádio e TVs comunitárias,
universitárias, estatais e públicas, que, na opinião dele, deveriam
buscar uma atuação conjunta com a criação de redes regionais,
estaduais, nacionais e até internacionais. Para que isso ocorra, o
representante do FNDC postula a aprovação de uma legislação prevendo
a democratização dos meios de comunicação. Isso permitiria às
populações marginalizadas adquirirem um conhecimento real dos fatos
e também se expressarem através desses meios.
Cultura - O secretário
adjunto da Secretaria de Estado da Cultura, José Osvaldo Guimarães
Lasmar, posicionou-se também favoravelmente ao funcionamento das
rádios comunitárias, apresentando algumas sugestões para o
movimento: que o Fórum apresente ao Estado suas propostas para a
regulamentação do setor; que o Estado e o movimento construam uma
agenda conjunta de trabalho, definindo-se o papel do setor público
no apoio às rádios e TVs comunitárias; que elas apresentem projetos
viáveis para que a Lei de Incentivo à Cultura possa encampá-las.
Lasmar anunciou também que a Rádio Inconfidência e a TV Minas estão
novamente sob a alçada da Secretaria da Cultura, e não mais da Casa
Civil. Ele disse, ainda, que a Inconfidência adquiriu um novo
transmissor, de 100 kilowatts para a transmissão no AM, e que há o
projeto de se criar a Rede Inconfidência de rádio, via satélite, que
deverá abarcar inclusive as rádios comunitárias.
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